segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ainda Há Vida Nesses Velhos Ossos?

Uma denominação saudável nos dá força. É um lar, não uma prisão.

POR: ED. STETZER*

As denominações parecem enfrentar tempos difíceis. Controversas teológicas a respeito do cerne das crenças Cristãs enfraqueceram algumas denominações. Outras têm sucumbido ao liberalismo clássico. Uma porção delas reafirmou seu compromisso com a teologia ortodoxa, mas, mesmo assim, muitas das crescentes denominações conservadoras têm experimentado dias difíceis. Ao todo, o número de membros em 25, das 27 maiores denominações, está diminuindo (As exceções são a Assembléia de Deus e a Igreja de Deus).

O American Religious Identification Survey – ARIS 2008 (Exame Norte-Americano de Identificação Religiosa) concluiu que a porcentagem de norte-americanos que se auto-identificam como Cristãos diminuiu de 86%, número obtido em estudo em 1990, para 76% em 2008. Grande parte dessa perda parece estar localizada em grandes denominações. Ao mesmo tempo, a ARIS indicou que as igrejas sem denominação têm crescido constantemente desde 2001 – e o número dos que se auto-identificam evangélicos têm aumentado. Mas parece que as denominações não têm partilhado desse crescimento.

De acordo com muitos líderes da igreja, as denominações não estão desaparecendo – realmente estão tendo seu crescimento inibido. Tenho ouvido muitos pastores denunciarem as denominações por impedirem, mais do que ajudarem, as missões em suas igrejas. Outras críticas têm sido os gastos desnecessários, a ineficiência burocrática ou as redundâncias estruturais; estas objeções parecem ter ganhado adeptos em um clima econômico de beliscar todo centavo. A lealdade a uma denominação diminuiu e, em alguns casos, desapareceu.

Entretanto, muitas das igrejas mais conhecidas nos Estados Unidos não têm filiação denominacional. Um estudo de 2009 sobre as 100 maiores igrejas nos Estados Unidos, conduzido pela LifeWay Research, para a revista Outreach, revelou que metade das igrejas se auto-intitulam “sem denominação”. De fato, duas das três maiores igrejas dos Estados Unidos não apresentam nenhum vínculo denominacional: Lakewood Church (Houston, Texas) e Willow Creek Community Church (South Barrington, Illinois). Há uma ou duas gerações atrás isso seria chocante. Hoje é o padrão adotado.

Enquanto isso, vemos novas igrejas recebendo nomes inclassificáveis, de modo a minimizar a filiação denominacional. Algumas são “qualificadas” sem marcações denominacionais. É surpreendente descobrir que a igreja de Saddleback, pastoreada por Rick Warren, é parte da Southern Baptist Convention – SBC (Convenção Batista do Sul), e que a LifeChurch.tv (Edmond, Oklahoma) é uma Igreja Evangélica.

Há poucas décadas atrás, reuniões denominacionais eram lugares da mais ampla participação para promover e receber formação. Agora, conferências como a Catalyst e a Exponential atraem mais pessoas. (Falo para mais jovens Batistas do Sul, na Conferência Catalyst, do que na reunião anual da SBC). Inevitavelmente, sou questionado nessas conferências: “Por que você ainda está em uma denominação?” Para alguns, a idéia é tão antiquada quanto pregar em um terno.

Tenho tido o privilégio de falar nos últimos anos em dezenas de reuniões denominacionais a nível nacional. Sempre ouvi dos líderes que eles estão lutando com menor lealdade denominacional no meio de suas igrejas, um caminho que, na melhor das hipóteses, não é coerente.

Trabalho em uma denominação – a SBC – que ás vezes é disfuncional e irracional (como eu). Cresci farto da loucura denominacional e do seu drama. A idéia de trabalhar de forma independente, por vezes, é tentadora.

Por tudo isso, chamam-me de cauteloso se algumas vezes me apresento como um crente relutante com a idéia de que podemos fazer mais para o reino de Deus se fizermos juntamente com pessoas de convicções comuns – o que normalmente significa fazê-lo em uma denominação – do que fazer isso só.

Uma ferramenta para a missão – Em minha opinião, as denominações certamente não são a resposta para os males do mundo, nem nossa última e única esperança. Mas uma estrutura denominacional pode ser uma ferramenta valiosa para a igreja usar em sua missão.

Quando ouço a idéia revolucionária de um pastor para que seus membros de congregação trabalhem junto a congregações no exterior, através das missões, eu digo: “Ótimo. Esteja aberto para aprender com a Igreja Wesleyniana. Eles vêm fazendo exatamente isso, e muito bem, por um longo período”.

Quando ouço falar de uma iniciativa em rede de criação de igrejas, fico animado – mas espero que seus líderes saibam que a Presbyterian Church in America – PCA (Igreja Presbiteriana na America), através da Mission to North America (Missão para a América do Norte), tem feito isso muito bem, e não tentem descobrir de forma independente o que os outros já sabem. Muitos ministérios que ganharam destaque nacional na criação de igrejas, como o Redeemer (New York) e Perimeter (Atlanta), têm sido mais eficazes devido a sua parceria com a PCA.

Ministérios denominacionais são frequentemente menos ativos quando comparados a esforços de iniciativas independentes similares. (Não há surpresa nisso: Novidade muitas vezes chama a atenção e, muitas vezes, redes empresariais e igrejas têm de fazer um “alarde”, a fim de conquistar pessoas para seus novos esforços). Mas não se enganem: A grande maioria das missões mundiais, fundação de igrejas, discipulados e outras formas de ministérios, são realizados por meio de parceiros denominacionais.

Por exemplo, quando você vai a campo em uma missão internacional, geralmente encontra dois tipos de missionários: financiados e auto-sustentados. A quantidade de tempo despedida pelo missionário no campo, muitas vezes, pode revelar que tipo de missionário ele é. Missionários financiados por uma denominação são capazes de despender muito mais tempo sendo realmente missionários, enquanto os auto-sustentados, de igrejas independentes e redes flexíveis, muitas vezes precisam gastar muito tempo angariando fundos.

A maior força missionária denominacional na história do Cristianismo Protestante é encabeçada pelo International Mission Board (Conselho Internacional de Missões) da SBC. Seus missionários não são bem pagos, mas são encontrados em numerosos lugares. Nesses locais, são capazes de permanecer, servir e se concentrar na missão – e levantar fundos.

A resistência é inútil – Outra razão para que as denominações não desapareçam tão cedo: pessoas que pensem da mesma forma sempre encontrarão um modo de se associarem umas com as outras.

Esse impulso pode levar a uma identidade tribal insular, como aconteceu com as Igrejas de Cristo e a Igreja Cristã em 1800. Parte disso começou como um movimento de renovação que estava decidido a trazer consenso sobre o ecumenismo e a unidade – essencialmente um movimento anti-denominacional – no final das contas, se tornou uma denominação rigorosamente restrita e, em alguns casos, que negava a possibilidade de salvação para aqueles que não estivessem rigorosamente alinhados no campo teológico.

Dito isto, igrejas concentradas em missões são inevitavelmente atraídas à cooperação organizada. Dominada pelo desejo de tornar Cristo conhecido entre as nações, uma igreja geralmente percebe que é incapaz de realizar essa tarefa sozinha. O ceticismo atual sobre as denominações, juntamente com o espírito empresarial Americano e um viés para a novidade, têm levado muitos ministérios a formar novas redes de parceria.

Recentes esforços de cooperação entre congregações podem ser melhor entendidos como proto-denominações.

Aos 17 anos de idade, a Willow Creek Association conta com mais de 11 mil igrejas membros em 35 países, a partir de 95 denominações. A Association of Related Churches (Associação de Igrejas Relacionadas), liderada por Billy Hornsby e representada por igrejas bem conhecidas como Seacoast Church (Charleston), Church of the Highlands (Birmingham) e Healing Place Church (Baton Rouge), promove sermões, missões e atividades de ação social, além de uma reunião anual com denominações semelhantes. A Acts 29 Network (Rede Atos 29), fundada pelo pastor Mark Driscoll, em Seattle, tem conseguido quase 300 afiliadas em seus dez anos de existência. A Acts 29 concentra-se em mais uma missão específica de fundação de igrejas, mas agrega fortes parâmetros doutrinários e uma explicação completa do porquê de sua existência.

As redes de denominações semelhantes poderão, creio eu, tornarem-se mais como denominações do que como redes, nos próximos anos, assim como as redes do passado (por exemplo, os Metodistas) são denominações hoje.

Gosto de proto-denominações e redes missionárias. Eu mesmo pertenço a algumas. Mas, tão proeminentes quanto essas redes podem ser, igrejas locais ainda tendem a usar denominações para realizar parte do trabalho de missões globais. Não são tão chamativas, e suas páginas da Web não são tão agradáveis, mas, como mencionado acima, não devemos subestimar equivocadamente como Deus está usando as denominações.

Conectadas através do tempo – As melhores denominações podem ser entendidas, simplesmente, como redes de cooperação para as missões. Mas não são redes ligadas apenas através da geografia e da metodologia. Elas também estão conectadas através do tempo – e um grupo de trabalho existente ao longo do tempo e das gerações pode realizar mais do que um grupo existente apenas durante um período.

A variedade de movimentos recentes entre as gerações emergentes demonstra a necessidade e o desejo de enraizamento e de história. O movimento de crescimento da igreja nas décadas de 1970 e 80 (ele próprio como um tipo de proto-denominação) perpetuou a idéia equivocada de que apenas os métodos novos e originais seriam eficazes para alcançar as próximas gerações. Trocar tradições mais antigas por metodologias mais recentes, involuntariamente, acabou afastando um rico legado de fé.

Agora, uma geração mais tarde, os líderes emergentes anseiam por um senso de enraizamento. Em uma época de fragmentação das identidades sociais, estar conectado com o passado tornou-se sinônimo de encontrar propósito e significado.

Vemos esse sentimento em uma série de movimentos atuais: nos “jovens, inquietos, e Reformados”, na igreja emergente e no antigo movimento de igreja primitiva-futura de Robert Webber. Note como tudo isso é importante para os esforços da “igreja profunda” do pastor Jim Belcher da Califórnia. Ele escreve: “A maioria das pessoas está confusa com o debate entre os líderes dos evangélicos tradicionais e os líderes emergentes. Afinal, eles não querem a mesma coisa: uma igreja evangélica mais profunda e robusta, que afete intensamente as pessoas e o mundo?”. O livro de Belcher amplia a idéia para uma “terceira via”, enraizada na história e na contextualização do ministério.

Estes movimentos são por vezes sobrepostos, por vezes distintos e, por vezes, concorrentes. Mas cada um tem sido esclarecido e alimentado pelo ressurgido anseio da linhagem histórica e do patrimônio religioso. Muitos líderes da geração baby boomer desvincularam suas igrejas da tradição e trilharam seus próprios caminhos, muitos dos filhos dos boomers passaram as últimas décadas olhando melancolicamente para a praia. As denominações podem não ter feito um bom trabalho nesse processo, mas elas podem fornecer a história e o legado para esta geração desejosa de estabilidade.

A necessidade de contato com nossa linhagem espiritual e com nosso patrimônio Cristão nos ajuda a esclarecer sobre como chegamos onde estamos. O historiador e futurista Leonard Sweet propõe a metáfora de um balanço. Um balanço físico depende de movimentos interdependentes: inclinar-se para trás e pressionar-se para frente.

Da mesma forma, as denominações podem contar histórias inspiradoras de pioneirismo (inclinar-se para trás) e de progressos (pressionar-se para frente). Elas podem oferecer uma rica percepção do legado teológico e eclesiológico que uma igreja independente simplesmente não possui.

A reviravolta teológica – Igrejas não-denominacionais fazem um trabalho melhor do que as denominacionais em resposta ao corajoso e, às vezes, confuso novo mundo da espiritualidade norte-americana. Elas são flexíveis o suficiente para identificar as tendências e se adaptar.

Mas as mudanças no cenário espiritual norte-americano trazem consigo a promessa de conflitos internos e pressões externas, o que pode provocar danos irreparáveis a uma igreja sem denominação. Por exemplo, com posturas cada vez mais transformadas em relação ao casamento e a papéis do gênero, uma igreja desconectada de uma denominação não tem acesso aos líderes que já lidaram com mudanças culturais anteriores de proporções sísmicas similares.

Uma igreja denominacional em crise possui uma rede de relações, de experiências e um sistema de apoio nos quais pode se escorar. Por exemplo, caso surja um litígio entre o pastor e a sessão (conselho de administração) em uma congregação Presbiteriana, esta tem toda uma estrutura denominacional preenchida com líderes para guiá-la em um processo redentor. Não é assim com uma congregação independente.

As denominações e seus dirigentes passam juntos por muitas tempestades. Isso não quer dizer que suas igrejas-membro sempre sobrevivem, mas é mais provável que isso ocorra. Para o nosso evangelicalismo obcecado pela juventude, esta é uma dura verdade. Mas onde alguns esperam encontrar a idade, a decadência e a obsolescência nos valores, é mais provável que encontrem a longevidade, a maturidade e a sabedoria.

Denominações evangélicas, muitas vezes, são partidárias da ortodoxia, enquanto congregações independentes mais facilmente aceitam mudanças em sua teologia – às vezes muito rapidamente. A Higher Dimensions Church (Igreja Dimensões Superiores) de Carlton Pearson, uma ex-megaigreja carismática em Tulsa, teve poucos recursos para impedir sua súbita mudança teológica e a eventual fusão com a All Souls Unitarian Universalist Church (Igreja Univelsalista Unitária de Todas as Almas).

Além disso, faculdades e instituições denominacionais têm sido muitas vezes melhor sucedidas em manter a linha da ortodoxia do que instituições não-confessionais muito grandes como a Youth Men’s Christian Association – YMCA (Associação Cristã de Moços) e o Fuller Theological Seminary (Seminário Teológico Fuller). Na falta de um corpo maior que empurre contra um deslocamento à esquerda, algumas igrejas, organismos e grupos precariamente se movem em direção a heterodoxia.

Este pode ser um argumento surpreendente para as igrejas não-confessionais. Afinal, as manchetes estão repletas de líderes denominacionais e corpos movendo sua teologia para a esquerda. Mas a realidade é que estes não representam a maioria das congregações denominacionais ou a maioria dos frequentadores das igrejas norte-americanas.

É mais provável que a ortodoxia se mantenha estabelecida em denominações com valores claros de fé. Âncoras confessionais têm impedido que denominações como a Assembléia de Deus, o Sínodo da Igreja Luterana de Missouri e a Igreja Evangélica Livre, fiquem à deriva. (O debate recente sobre a mudança da declaração de fé da Evangelical Free Church – Igreja Evangélica Livre – foi um exercício útil para a conversa confessional).

É interessante notar que quase todos os teólogos evangélicos atuais são filiados a alguma denominação. Para citar alguns: John Piper é um membro da Baptist General Conference (Conferência Geral Batista); seu rival teológico em alguns pontos, NT Wright, é um bispo da Church of England (Igreja da Inglaterra). Tim Keller é um membro da PCA, e Ben Witherington é um Metodista. E assim continua.

Há cinqüenta anos, Carl Henry e Billy Graham se preocupavam justamente que os líderes denominacionais conduzissem pessoas desviadas. Hoje, pelo contrário, as denominações evangélicas parecem ser as porta-estandartes coletivas da ortodoxia.

Quando denominações desviam-se, a culpa geralmente não é da diversidade, como alguns têm defendido. Na verdade, o mais provável é que a maioria das denominações seja diversificada em muitos aspectos. A denominação deve realmente focar em tornar-se cada vez mais diversa etnicamente, em parceria com todos os tipos de igrejas biblicamente fiéis – contemporâneas, tradicionais e emergentes – e trabalhando com questões sobre seu futuro. Mas também é preciso manter um forte consenso confessional, para cumprir a missão dada por Deus. Tais confissões devem ser mais do que uma lista de crenças dadas apenas da boca para fora, mas sim devem ser crenças adotadas e valorizadas.

Vimos os laços de confissões de fé afrouxarem-se na Igreja Episcopal, o que levou os outros órgãos da Comunhão Anglicana a distanciarem-se dela e a reconsiderarem como as províncias nacionais da Comunhão se relacionam entre si. Como resultado, a Comunhão Anglicana está se movendo em direção a um nível de maior consenso global confessionário, e a igreja norte-americana provavelmente será deixada de fora.

Tais declarações confessionais ajudam um movimento a esclarecer a compreensão de sua missão, e, mais importante, a entender o Deus que o chamou para essa missão. Podemos não conhecer totalmente o que cada indivíduo de uma rede acredita, mas podemos explicar o que a denominação representa. Da mesma forma, as declarações confessionais constroem a confiança das ações denominacionais; sem elas, inevitavelmente existe uma preocupação justificável sobre se as ações partilham das normas da denominação. Mas as declarações doutrinárias não são apenas garantias. Elas têm sido instrumentos de ensino para as igrejas, ajudando na evangelização, discipulado e crescimento espiritual.

A Igreja do Evangelho Quadrangular é um bom exemplo. Possui uma confissão doutrinária que destaca os componentes considerados fundamentais para a crença e para a prática ortodoxa. Isso capacita estas igrejas a compreender as fronteiras teológicas para a comunhão na denominação. Quando fui levado ao seu gabinete nacional, por meio de uma “auditoria missionária”, no início deste ano, os líderes na sala foram capazes de recorrer a uma autoridade (Escrituras) e a uma estrutura que confessa esta autoridade (declaração de fé) com o que consideram que devem fazer juntos no futuro.

Declarações confessionais também protegem contra a distinção excessiva. Qualquer grupo que queira se definir será tentado a traçar fronteiras cada vez mais restritas. Alguns começarão a farejar, certificando se todos estão usando exatamente a mesma linguagem e a mesma abordagem, para que ninguém lute com novas idéias. Outros se preocuparão quando nem todos apoiarem um determinado programa ou ênfase denominacional. Existem ainda os que se queixarão de métodos que outros estiverem usando. Declarações confessionais tornam essa questão simples: se não possui o distintivo da confissão, não faz parte do sistema de crença da denominação, e as igrejas e os indivíduos podem ter diversas crenças e expressões nessa área.

Há momentos em que as diferenças teológicas são a maior ameaça para a cooperação na igreja. Mas, em minha opinião, o maior obstáculo em muitas denominações evangélicas hoje é a incapacidade das igrejas insulares servirem com aqueles que se diferenciam de sua metodologia.

Deveríamos discutir as implicações teológicas dos métodos? Absolutamente não. Mas devemos evitar que questões polêmicas dominem a discussão. Também não devemos pregar contra questões que são melhor direcionadas para o discernimento das igrejas individuais. Em vez disso, devemos usar a persuasão, como membros da família de Cristo, ao invés da política, como executivos em uma corporação. Se tudo for essencial, as igrejas nunca cooperarão na missão. Se nada for essencial, de qualquer modo, não há razão para cooperar.

A melhor maneira de vencer – Parafraseando a explicação da Igreja sobre a democracia: Denominações são o pior caminho para a cooperação – exceto para todos os outros. Estão reduzidas a uma liderança frágil, ineficaz e arrogante, propensa a olhar para o próprio umbigo e que, muitas vezes, se move mais devagar do que deveria. Mas estes aspectos são produtos da falibilidade humana e do pecado. Cada vez que igrejas trabalham juntas, ego, fracasso e ineficiência poderão surgir. E quando não trabalham juntas, ego, fracasso e ineficiência também surgirão. Pessoas, não denominações, são a o ponto de partida.

As denominações, em sua plenitude, não são lugares para se obter algo, mas lugares para dar e servir. Nossos dons, desejos e experiências têm maior influência em uma rede mundial denominacional. Através de uma denominação, podemos fornecer recursos para pessoas que nunca encontraremos, alcançar lugares onde nunca estaremos, e pregar o evangelho para almas perdidas que estão além do nosso alcance pessoal. Podemos encontrar o que necessitamos e dar tanto quanto queremos – porque a cooperação é fundamental para dar e receber.

A denominação saudável, enfim, nos dá força. É um lar, não uma prisão. Permite-nos compartilhar convicções teológicas específicas, práticas de manifestações relevantes para nossa comunidade e servir em uma missão comum, na única base que traz a verdadeira unidade: o evangelho.

*Diretor da Lifeway Research e missiólogo em residência da Lifeway.

Fonte: www. cristianismohoje.com.br

2 comentários:

  1. Prezado Reverendo Idauro,

    Gostei muito do artigo e entendo que as denominações são as âncoras necessárias para os dias contemporâneos, dias difíceis.
    Todavia, participando do encontro dos Congregacionais Mundiais, da WECF, pude entender melhor o que de fato é o congregacionalismo e o pensamento de Kalley e de muitos missionários daquele período de ouro das grandes missões e sua teologia, e de lá para cá.
    Tenho visto porque temos dificuldades históricas de sermos e/ou estarmos numa Denominação e ou União de Igrejas, o que é um pouco diferente. Ao final coloco os pontos da Constituição da WECF para evidenciar que estamos um pouco sem uma teologia definida, e isso não é culpa nossa,de nossa geração, vem de longe.
    A teologia denomonacionalista nunca foi, a rigor, a teologia congregacional, ao passo que entendo que para os momentos que vivemos é importante a unidade Denominacional.
    Contra a teologia denominacionalista tivemos a força de Porto Filho, que entendia o que de fato era ser “congregacionalista”, porque era um estudante ímpar do sistema congregacional, por outro lado, o Adayr Gomes da Luz defendia a tese, de que o sistema congregacional como propunha Porto Filho, baseando-se na teologia congregacionalista, seria uma temeridade, haveria de ter um viés de ligação para não nos perdemos como igrejas locais autônomas e independentes, com os riscos apresentados acima.
    Os embates foram preciosos, mas a discussão terminou com a última carta de Porto Filho ao Adayr dizendo que ele, Adayr, não entendia nada de congregacionalismo, desta forma o Rev. Adayr ficou 19 anos sem participar efetivamente das atividades denominacionais, pois o Porto Filho, apesar de defender a teologia congregacionalista, era centralizador e por incrível que pareça, extremamente denominacionalista.
    A coisa ficou muito feia quando deram a "Denominação" em 1968 o nome de IGREJA CONGREGACIONAL DO BRASIL, quanto Porto Filho quase teve um infarto devido a excrescência de ter uma denominação congregacional sendo uma IGREJA ÚNICA, conforme pressupõe a nomenclatura acima, até que em 1969 corrigiram o nome para União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil, o que de fato era mais "congregacional", como está até hoje.
    Enfim, de todas as denominações, nos vivemos esse maior drama, em função de nosso próprio sistema Teológico/Eclesiástico: Ser ou não ser uma Denominação ou uma União de Igrejas?
    Eu preconizo uma Denominação, embora os líderes da WECF têm verdadeira aversão a tal posição como se vê, no Estatuto da referida Associação Mundial onde estamos filiados, e sua teologia:
    1. Nós acreditamos que Jesus Cristo é a cabeça do seu corpo, a Igreja universal e de cada igreja local.
    2. Acreditamos que cada igreja local é em si uma igreja completa, e, portanto, autónoma e possui todos os direitos e as responsabilidades da Igreja do Espírito Santo, tal como previsto nas Sagradas Escrituras.
    3. Nós acreditamos que Jesus Cristo exerce sua autoridade em cada igreja local pelo Espírito Santo através das Sagradas Escrituras.
    4. Acreditamos que cada igreja local é responsável, em última análise apenas a Jesus Cristo, e não a qualquer associação, conferência, conselho de sínodo, ou qualquer outro órgão eclesiástico.
    5. Nós acreditamos que é apropriado e benéfico para cada igreja local para procurar bolsas de estudo e conselho de outros, tais igrejas locais.
    Um forte abraço, e precisamos aprofundar a o assunto quem sabe, propondo um congregacionalismo "moreno", plagiando o Brizola, acerca do seu socialismo...

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  2. Grande Neucir!!!


    Na verdade este é o grande debate ainda por ser feito nesta geração do congregacionalismo brasileiro. Na prática, até há costuras e mobilizações denominacionais (PNB é um exemplo), mas nunca aprofundamos o tema. O que queremos ser ou continuar a ser: União de Igrejas ou Denominação? Alardeamos que somos congregacionais (autônomos), mas quando surgem projeto e necessidades afins, cobramos a participação e empenho de todo o corpo congregacional como se fôssemos denominacionais. Parece, portanto, que o conceito não está claro para todos. Afinal, queremos fazer parte ou não de uma denominação? Conceitualmente a UIECB não é, mas, a aspiração sim, pois, para mim, parece, que nosso desejo é por unidade não apenas voluntária e camarada, mas sim estrutural e mais orgânica. Como de um corpo ligado à cabeça. A grande prova disso, como muito bem lembrado por você, são os antológicos debates entre os célebres reverendos Porto Filho e Adayr Gomes da Luz, entre outros, provando, destarte, que há anos se arrasta a necessidade de definição. Pode-se se dizer (como alguns, de fato, dizem) que a questão já foi resolvida e que a leitura de Porto Filho (o congregacionalismo livre e radical) é que vigorou. OK! Mas não convenceu! Haja vista que é comum o povo congregacional não entender a pouca influência de instâncias externas sobre as comunidades locais e até mesmo o pouco engajamento de pastores com os projetos denominacionais. A surpresa revela que a compreensão do povo congregacional de modo geral é de que somos (ou deveríamos ser) uma denominação. Até porque pensamos como denominacionais. Discursamos como congregacionais livres, mas agimos como denominacionais (esquizofrenia congregacional?). O velho e bom Porto Filho foi o emblema maior desta tensão, pois discursava como um democrata, mas agia como centralizador (o Rev. Adayr, ao menos, foi mais coerente). Nas aulas de História Denominacional, ouvi o professor comentar: “Porto Filho foi um grande congregacional, mas apenas na teoria”. Na verdade, a dialética "portofilhiana" só mostra que no fundo amamos a cooperação e queremos o ajuntamento. O que atrapalha, talvez seja o receio do esmagamento e autoritarismo vistos em comunidades cristãs que contemplam formas de governo mais verticalizadas. Entretanto, tais receios são desnecessários, porquanto os batistas no Brasil provaram ser possível a autonomia da comunidade local com forte engajamento denominacional. Não é por menos que os irmãos imersionistas compõem o grupo de evangélicos históricos mais fortes e expressivos numericamente em nosso país. Uma das decorrências disso é a mobilização missionária da Junta de Missões (Nacional e mundial) que é de uma competência elogiável. Portanto, é possível sermos mais denominacionais sem, para isso, correr o risco da perdermos nossa soberania eclesiástica. Finalizo, usando as palavras do Rev. Roberto Cortes, quando de seu retorno a UIECB, após ter sofrido anos de afastamento, "Uma denominação é um bom lugar para a igreja".

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