domingo, 18 de julho de 2010

A Convicção de Pecado

A convicção de pecado

Somente o arrependimento nos levará a Jesus Cristo, que é o único caminho para nossa salvação

POR: IDAURO CAMPOS

O evangelicalismo contemporâneo brasileiro praticamente fez desaparecer a necessidade do pecador se convencer de seu real estado diante de um Deus santo. O tema desapareceu em nossos cultos, e isso pode ser constatado a cada domingo em nossas reuniões evangélicas. As razões que são apresentadas para o pecador se converter passam pelo fim do sofrimento, a conquista da prosperidade econômica, a obtenção de um emprego melhor ou a salvação do casamento – e, até mesmo, a possibilidade de arrumar um novo. Nada se fala da necessidade do homem, sem Deus, reconhecer que é um pecador que vive em inimizade com o Criador, e que, por isso, precisa urgentemente de reconciliação com Deus através da mediação única e exclusiva de Jesus Cristo.

O profeta João Batista, que hoje seria considerado um pregador “muito duro”, disse que sobre todo aquele que rejeitasse o Filho de Deus, a ira do Senhor permaneceria. (João 3.36). Interessante neste texto é o emprego do verbo permanecer (do grego menei). Ou seja, quem rejeitasse Jesus Cristo continuaria sendo alvo da ira de Deus. João reconhece que o homem naturalmente já está debaixo da ira de Deus. Ela é uma realidade presente e não futura, e o homem sem Cristo permanece com esta ira sobre si.

Assim é o verdadeiro estado do homem. Ele é, por natureza, inimigo de Deus. E é dessa inimizade que o pecador precisa se convencer. Sendo inimigo do Senhor, e, portanto, alvo de sua ira, o homem corre um grande perigo de, a qualquer momento, partir deste mundo sem estar em paz com Deus e ter que enfrentá-lo face a face. Ou seja, terá que, como miserável pecador que é, morto em delitos e pecados, enfrentar um Deus santo e justo.

O que precisamso resgatar em nossas igrejas é o conceito de que o homem é um pecador miserável e precisa reconciliar-se com o Senhor. Esta, sim, é sua maior necessidade em vida. Os puritanos nos séculos 17 e 18 tratavam muito seriamente a questão da convicção de pecado. Entendiam que era a porta de entrada para o céu. Acreditavam piamente que um homem que não experimentasse a certeza de que era um terrível pecador não teria do que se arrepender e, assim, jamais chegaria à conclusão de que precisava de Jesus Cristo como seu salvador pessoal. Por esta razão pregavam ardentemente sobre o pecado, a ira de Deus e o estado do homem sem Cristo, na esperança que Espírito Santo tocasse nos corações endurecidos.

O método dos puritanos na evangelização era interessante. Quando pregavam, desejavam ver a necessidade confrontar-se com a impossibilidade. Ou seja, insistiam na necessidade do pecador se arrepender, ao mesmo tempo que também insistiam na impossibilidade do pecador alcançar tal arrependimento por si mesmo. Assim, quando o pecador percebia o abismo em que estava e que o arrependimento era impossível de ser promovido por qualquer esforço próprio, ele se desesperava. Era o momento então de falar da boa notícia – o perdão que está em Cristo Jesus. E da plena e real reconciliação que o Salvador promove entre o pecador e Deus. Os puritanos jamais evangelizavam sem abordar a questão do pecado.

A convicção de pecado é um elemento ausente na pregação contemporânea. Mas não nos esqueçamos que ela que permitiu a Isaías ser comissionado para o ministério profético. “Ai de mim! Sou hojmem de lábios impuros”, foi seu brado diante do Deus santo. Foi a convicção de pecado que fez estremecer a alma de Martinho Lutero, lançando-o em profunda angústia. Sua pergunta fundamental era: “Como posso encontrar o Deus misericordioso sendo eu tão pecador?” Foi a convicção de pecado que lançou John Bunyan, autor de O peregrino, nas profundezas do desespero a ponto de invejar a tranqüilidade dos cisnes que povoavam as lagoas da cidade em que morava. Foi tal sentimento também que despertou a comunidade de Enfield, em Connecticut, nos Estados Unidos, a viver uma vida mais santa e consagrada a Deus. Tudo a partir do célebre sermão Pecadores nas mãos de um Deus irado, proferido pelo pastor Jonathan Edwards em 8 de julho de 1741. Não nos esqueçamos de que uma das declarações mais fundamentais do Novo Testamento é “arrependei-vos e crede no Evangelho” (Marcos 1.15). Ora, só posso crer no Evangelho se primeiro arrepender-me, pois é o arrependimento de meus pecados que me levará a buscar Jesus Cristo, que é a única solução para a minha salvação.

Sejamos, portanto, portadores da boa notícia sem, contudo, abrir mão da má notícia de que todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus. E a boa notícia é que o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo, nosso Senhor, conforme Romanos 6:23. Uma verdade não pode omitir outra; assim, teremos em nossas igrejas cada vez mais pessoas realmente convertidas, regeneradas pelo sangue do Senhor Jesus. Somente assim faremos diminuir aceleradamente o número de crentes interesseiros e barganhistas que só querem as bênçãos do Mestre, e não o Mestre.

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