quarta-feira, 12 de outubro de 2011

História e Contexto do Novo Testamento

1- Religiões do Período Imperial Romano. Helmut Koester. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulus. 2005. p. 365-391.

Por: Idauro Campos


Uma das características mais interessantes da relação do antigo Império Romano com as suas províncias era a sua tolerância com as religiões praticadas em seus contextos. É interessante porquê podíamos esperar uma postura mais arisca do Império para com os povos dominados.

O Império Romano possuía sua expressão religiosa própria que posteriormente fora influenciada pelas concepções helênicas1, mas que conseguiu manter sua peculiaridade com sua preocupação com a coletividade, a observância ritualística rigorosa, a prática das orações e a consulta aos augures e aos haruspices. Apesar da construção religiosa própria, o Império Romano era aberto às demais religiões, porquanto entendia que o respeito aos cultos oferecidos pelos seus subjugados atrairiam a simpatia das divindades para com o Império.

A tolerância do Império Romano com as religiões estrangeiras somente sofreu abalos e mudanças a partir de 186 a. C. Por ocasião dos escândalos com os bacanais, onde, então, o Senado aumentou suas suspeitas devido aos excessos cometidos nos cerimoniais e até mesmo com a desconfiança de conspiração. Esta foi a origem de uma postura mais moderada que Império adotaria com as religiões estrangeiras.

A relação com o cristianismo foi tornando-se tensa devido ao crescimento do conceito romano de divindade de seu imperador. Embora dentro do Império houvesse quem discutisse quanto à validade do argumento de que o Imperador deveria ser adorado, o fato é que a noção se tornou uma doutrina do Império e este passou a exigir que seus provincianos oferecessem cultos a César, o que seria impossível para o cristianismo fazer, pois como herdeiro do judaísmo, sua teologia era monoteísta, compreendendo que somente Deus é digno de adoração e também porquê fazê-lo seria desonrar a Cristo, a quem acreditavam ser Deus e cuja vinda aguardavam com fiel e vigilante expectativa. Mesmo com o pacifismo dos cristãos e com a boa vontade que demonstravam ter com a ordem pública romana, a relação foi se tornando crítica.

Além do cristianismo, outra religião marcante dentro dos contornos do Império romano, foi o mitraísmo. Cultuado na Índia e difundido na Pérsia, tornou-se a religião de mistério mais praticada no mundo romano, tendo soldados, marinheiros e comerciantes, todos homens, como seus principais adeptos2.

O neopitagorismo também vigorou nos tempos do Império Romano, defendendo o dualismo e a crença na imortalidade da alma.

Neste universo religioso sincrético, também havia espaço para a astrologia e a magia, sua parenta. A primeira estudava os astros, enquanto que a segunda se encarregava de aparelhar os homens com conhecimentos a fim habilitá-los a interagir com as forças da natureza.

Finalmente, o gnosticismo também representou uma força religiosa poderosa nos tempos do Império Romano. Seus axiomas declaravam o mundo como uma tragédia que aprisionou homem, a centelha divina, vitimando-o e que para ser salvo deste caos precisa ser liberto por meio de um conhecimento de sua real condição, sua origem e suas possibilidades soteriológicas. Destarte, através deste conhecimento (gnose), seria, por fim, salvo.


2 – O Desenvolvimento da Religião Grega. Helmut Koester. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulus. 2005. p. 174-201.



A religiosidade helênica é difusa. Esta característica deriva da pluralidade das religiões de mistérios (ritos sagrados) que marcam o período do helenismo no mundo, assim como da crença em diversas divindades. Sem entender as religiões de mistérios é nos impossível compreender o universo religioso helênico.

As religiões de mistérios possuíam uma distinção clara com os cultos que eram ministrados na Grécia antiga, pois enquanto estes eram públicos, os mistérios eram secretos e introduziam os iniciados em um grupo especial e limitado e que por vezes não se identificavam com as estruturas organizadas da pólis, como mulheres, escravos e estrangeiros3. Somente os integrantes é que conheciam os ritos e que nunca eram revelados publicamente.

As religiões de mistérios se tornaram muito conhecidas, tais como a de Asclépio, Deméter, Core, Cabiros, a Grande Deusa da Samotrácia, Andaina, Isis, Osíris, Ápis, Hórus, Anúbis, Set, Sabázio, Men, Mitra, Cibele e etc. Entretanto, nenhum destes se comparou aos ritos praticados em honra a Dioníso, considerado o deus da fertilidade e dos produtos agrícolas. Suas celebrações eram regadas a vinho, sacrifícios de animais e mulheres praticando omofagia. De acordo com as crenças dos iniciados, Dionísio concedia suas bênçãos, especialmente a imortalidade individual, por meio dos mistérios praticados nas celebrações. Esta imortalidade era pilar da crença em Dioníso que de acordo com o mito o próprio a experimentou através da ressurreição.

A popularidade do culto a Dioniso cresceu intensamente, muito em decorrência de um curioso e vibrante vigor missionário, além dos apelos revolucionários, porquanto seus adeptos se consideravam um outro povo, o movimento era liderado por mulheres e não se distinguiam as classes sociais. Estes conceitos assustaram as autoridades, a ponto de em Roma, por exemplo, que temia a insurgência de um novo Estado, colocar o culto a Dioníso sob suspeição em 186 a.C, perseguindo e até executando seus praticantes.

A violenta perseguição imposta aos adeptos do culto a Dioniso traria consequências aos cristãos, mais de um século depois, pois, como os mesmos se reuniam secretamente por questões de segurança, o cristianismo terminou sendo interpretado pelos romanos como mais uma expressão de uma religião de mistério que deveria, à semelhança de todas as demais, sofrer desconfianças e restrições legais.



3. O Judaísmo Pré-rabínico e os diversos messianismos. Marcelo da Silva Carneiro.

O Judaísmo como seguimento religioso começa após o exílio babilônico, ocorrido no século VI a.C. Foi uma expressão religiosa ética (baseada na Lei), monoteísta e centralizada em seu templo. Aliás, estes, juntos com as sinagogas e a piedade familiar, constituíam nos fundamentos do judaísmo, sendo que os núcleos principais eram o Templo e a Lei. Dentro do movimento religioso existiam grupos que buscavam interpretar a Torah, aplicando-a as suas vidas. As distintas maneiras de viver o judaísmo eram vistas nas posturas e nas concepções teológicas de alguns destes grupos, como os fariseus, os essênios e os saduceus. Todos judeus, com suas raízes dentro da religião oficial, mas que discordavam quanto à forma de se viver a espiritualidade judaica.

Conforme supracitado, a Lei era um dos núcleos da religiosidade judaica e, para conhecê-la contavam tanto com sua forma escrita, mas também valorizam a Tradição Oral (Hagadah e Hallakah). A Lei era vista como a vontade de Deus para os homens e o ideal de vida que todos deveriam perseguir. Estudada no Templo e nas sinagogas (que surgem por causa do período em que o povo sofreu o Cativeiro Babilônico), sua importância era não só para as questões devocionais, mas todos aspectos da vida cotidiana, porquanto havia regulamentações acerca da participação em Festas, sobre casamentos, alimentação e etc.

Para finalizar, outra importante contribuição do judaísmo foi sua relação com o profetismo e o apocalipsismo, pois em virtude dos sofrimentos experimentados em terra estrangeira e das marcas que a experiência deixou, especialmente quanto aos abalos na fé, a profecia ganhou uma nova importância, pois ganhou cores messiânicas (e depois foi canonizada) o que também contribuiu em longo prazo para a construção de toda uma esperança escatológica.

O profetismo judaico no período romano foi tanto oracular como também de ação. O primeiro trazia mensagens de juízo e redenção divinas (João Batista), enquanto que o segundo organizava as massas descontentes com a dominação imperial romana (Teudas e Félix).



Conclusão

O Mundo em que o Novo Testamento é construído é rico, difuso e complexo. As expressões religiosas e culturais da época ajudam a entender as razões pelas quais algumas cartas neotestamentárias foram escritas e o porquê o cristianismo fora perseguido.

Ao analisar os textos foi-nos possível perceber como o Judaísmo contribui com o cristianismo com seu monoteísmo, sua ética legal, seu conceito de canonicidade e suas expectativas messiânicas e escatológicas.

A tolerância religiosa romana explica o porquê do silêncio neotestamentário quanto às dificuldades enfrentadas pelos cristãos frente ao Império Romano. Perseguição imperial houve, mas, mais sob Nero4 (também Domiciano). De acordo com a leitura, as restrições ao cristianismo podem em muito ser creditadas às suspeitas imperiais às religiões de mistérios, que o cristianismo, em algum grau, terminou sendo confundido pelas autoridades romanas.

O helenismo, muito mais do que o Império Romano, representou a principal ameaça ao cristianismo, especialmente no que diz respeito a prática das religiões de mistério. Com muitos adeptos entre os populares, mas também com alguns elementos das classes mais abastadas, tais ritos se difundiram. O próprio gnosticismo foi, de todas, a maior ameaça ao cristianismo. Conceitos gnósticos, ainda que embrionários, são respondidos em textos joaninos e paulinos, revelando-nos quão grande preocupação os apóstolos tiveram em não deixar que a fé cristã fosse confundida e diluída com qualquer prática oculta ou rito misterioso. Posteriormente, já sem os apóstolos, a igreja, através dos pais apostólicos, precisou mais claramente lidar com tais desafios teológicos. A fé cristã, portanto, se estabeleceu diante de um contexto de tensão. Há quem diga que limar a igreja cristã desta realidade é prestar-lhe o desserviço, pois foi mediante os conflitos que o cristianismo, desde os primórdios, floresceu. A teologia Cristã foi construída tendo como contexto histórico controvérsias, perseguições e desconfianças (judaicas, romanas e helênicas) e, a despeito, se impôs, cresceu e venceu. Destarte, nesta perspectiva, cremos e esperamos, a história se repetirá.


REFERÊNCIAS

CARNEIRO, Marcelo da Silva. O Judaísmo Pré-rabínico e os diversos messianismos. Apostila de História e Cultura do Novo Testamento. 2010.

KOESTER, Helmut. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulus. 2005
1- Religiões do Período Imperial Romano. Helmut Koester. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulus. 2005. p. 365-391.

Uma das características mais interessantes da relação do antigo Império Romano com as suas províncias era a sua tolerância com as religiões praticadas em seus contextos. É interessante porquê podíamos esperar uma postura mais arisca do Império para com os povos dominados.

O Império Romano possuía sua expressão religiosa própria que posteriormente fora influenciada pelas concepções helênicas1, mas que conseguiu manter sua peculiaridade com sua preocupação com a coletividade, a observância ritualística rigorosa, a prática das orações e a consulta aos augures e aos haruspices. Apesar da construção religiosa própria, o Império Romano era aberto às demais religiões, porquanto entendia que o respeito aos cultos oferecidos pelos seus subjugados atrairiam a simpatia das divindades para com o Império.

A tolerância do Império Romano com as religiões estrangeiras somente sofreu abalos e mudanças a partir de 186 a. C. Por ocasião dos escândalos com os bacanais, onde, então, o Senado aumentou suas suspeitas devido aos excessos cometidos nos cerimoniais e até mesmo com a desconfiança de conspiração. Esta foi a origem de uma postura mais moderada que Império adotaria com as religiões estrangeiras.

A relação com o cristianismo foi tornando-se tensa devido ao crescimento do conceito romano de divindade de seu imperador. Embora dentro do Império houvesse quem discutisse quanto à validade do argumento de que o Imperador deveria ser adorado, o fato é que a noção se tornou uma doutrina do Império e este passou a exigir que seus provincianos oferecessem cultos a César, o que seria impossível para o cristianismo fazer, pois como herdeiro do judaísmo, sua teologia era monoteísta, compreendendo que somente Deus é digno de adoração e também porquê fazê-lo seria desonrar a Cristo, a quem acreditavam ser Deus e cuja vinda aguardavam com fiel e vigilante expectativa. Mesmo com o pacifismo dos cristãos e com a boa vontade que demonstravam ter com a ordem pública romana, a relação foi se tornando crítica.

Além do cristianismo, outra religião marcante dentro dos contornos do Império romano, foi o mitraísmo. Cultuado na Índia e difundido na Pérsia, tornou-se a religião de mistério mais praticada no mundo romano, tendo soldados, marinheiros e comerciantes, todos homens, como seus principais adeptos2.

O neopitagorismo também vigorou nos tempos do Império Romano, defendendo o dualismo e a crença na imortalidade da alma.

Neste universo religioso sincrético, também havia espaço para a astrologia e a magia, sua parenta. A primeira estudava os astros, enquanto que a segunda se encarregava de aparelhar os homens com conhecimentos a fim habilitá-los a interagir com as forças da natureza.

Finalmente, o gnosticismo também representou uma força religiosa poderosa nos tempos do Império Romano. Seus axiomas declaravam o mundo como uma tragédia que aprisionou homem, a centelha divina, vitimando-o e que para ser salvo deste caos precisa ser liberto por meio de um conhecimento de sua real condição, sua origem e suas possibilidades soteriológicas. Destarte, através deste conhecimento (gnose), seria, por fim, salvo.







2 – O Desenvolvimento da Religião Grega. Helmut Koester. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulus. 2005. p. 174-201.


A religiosidade helênica é difusa. Esta característica deriva da pluralidade das religiões de mistérios (ritos sagrados) que marcam o período do helenismo no mundo, assim como da crença em diversas divindades. Sem entender as religiões de mistérios é nos impossível compreender o universo religioso helênico.

As religiões de mistérios possuíam uma distinção clara com os cultos que eram ministrados na Grécia antiga, pois enquanto estes eram públicos, os mistérios eram secretos e introduziam os iniciados em um grupo especial e limitado e que por vezes não se identificavam com as estruturas organizadas da pólis, como mulheres, escravos e estrangeiros3. Somente os integrantes é que conheciam os ritos e que nunca eram revelados publicamente.

As religiões de mistérios se tornaram muito conhecidas, tais como a de Asclépio, Deméter, Core, Cabiros, a Grande Deusa da Samotrácia, Andaina, Isis, Osíris, Ápis, Hórus, Anúbis, Set, Sabázio, Men, Mitra, Cibele e etc. Entretanto, nenhum destes se comparou aos ritos praticados em honra a Dioníso, considerado o deus da fertilidade e dos produtos agrícolas. Suas celebrações eram regadas a vinho, sacrifícios de animais e mulheres praticando omofagia. De acordo com as crenças dos iniciados, Dionísio concedia suas bênçãos, especialmente a imortalidade individual, por meio dos mistérios praticados nas celebrações. Esta imortalidade era pilar da crença em Dioníso que de acordo com o mito o próprio a experimentou através da ressurreição.

A popularidade do culto a Dioniso cresceu intensamente, muito em decorrência de um curioso e vibrante vigor missionário, além dos apelos revolucionários, porquanto seus adeptos se consideravam um outro povo, o movimento era liderado por mulheres e não se distinguiam as classes sociais. Estes conceitos assustaram as autoridades, a ponto de em Roma, por exemplo, que temia a insurgência de um novo Estado, colocar o culto a Dioníso sob suspeição em 186 a.C, perseguindo e até executando seus praticantes.

A violenta perseguição imposta aos adeptos do culto a Dioniso traria consequências aos cristãos, mais de um século depois, pois, como os mesmos se reuniam secretamente por questões de segurança, o cristianismo terminou sendo interpretado pelos romanos como mais uma expressão de uma religião de mistério que deveria, à semelhança de todas as demais, sofrer desconfianças e restrições legais.



















3. O Judaísmo Pré-rabínico e os diversos messianismos. Marcelo da Silva Carneiro.

O Judaísmo como seguimento religioso começa após o exílio babilônico, ocorrido no século VI a.C. Foi uma expressão religiosa ética (baseada na Lei), monoteísta e centralizada em seu templo. Aliás, estes, juntos com as sinagogas e a piedade familiar, constituíam nos fundamentos do judaísmo, sendo que os núcleos principais eram o Templo e a Lei. Dentro do movimento religioso existiam grupos que buscavam interpretar a Torah, aplicando-a as suas vidas. As distintas maneiras de viver o judaísmo eram vistas nas posturas e nas concepções teológicas de alguns destes grupos, como os fariseus, os essênios e os saduceus. Todos judeus, com suas raízes dentro da religião oficial, mas que discordavam quanto à forma de se viver a espiritualidade judaica.

Conforme supracitado, a Lei era um dos núcleos da religiosidade judaica e, para conhecê-la contavam tanto com sua forma escrita, mas também valorizam a Tradição Oral (Hagadah e Hallakah). A Lei era vista como a vontade de Deus para os homens e o ideal de vida que todos deveriam perseguir. Estudada no Templo e nas sinagogas (que surgem por causa do período em que o povo sofreu o Cativeiro Babilônico), sua importância era não só para as questões devocionais, mas todos aspectos da vida cotidiana, porquanto havia regulamentações acerca da participação em Festas, sobre casamentos, alimentação e etc.

Para finalizar, outra importante contribuição do judaísmo foi sua relação com o profetismo e o apocalipsismo, pois em virtude dos sofrimentos experimentados em terra estrangeira e das marcas que a experiência deixou, especialmente quanto aos abalos na fé, a profecia ganhou uma nova importância, pois ganhou cores messiânicas (e depois foi canonizada) o que também contribuiu em longo prazo para a construção de toda uma esperança escatológica.

O profetismo judaico no período romano foi tanto oracular como também de ação. O primeiro trazia mensagens de juízo e redenção divinas (João Batista), enquanto que o segundo organizava as massas descontentes com a dominação imperial romana (Teudas e Félix).



Conclusão

O Mundo em que o Novo Testamento é construído é rico, difuso e complexo. As expressões religiosas e culturais da época ajudam a entender as razões pelas quais algumas cartas neotestamentárias foram escritas e o porquê o cristianismo fora perseguido.

Ao analisar os textos foi-nos possível perceber como o Judaísmo contribui com o cristianismo com seu monoteísmo, sua ética legal, seu conceito de canonicidade e suas expectativas messiânicas e escatológicas.

A tolerância religiosa romana explica o porquê do silêncio neotestamentário quanto às dificuldades enfrentadas pelos cristãos frente ao Império Romano. Perseguição imperial houve, mas, mais sob Nero4 (também Domiciano). De acordo com a leitura, as restrições ao cristianismo podem em muito ser creditadas às suspeitas imperiais às religiões de mistérios, que o cristianismo, em algum grau, terminou sendo confundido pelas autoridades romanas.

O helenismo, muito mais do que o Império Romano, representou a principal ameaça ao cristianismo, especialmente no que diz respeito a prática das religiões de mistério. Com muitos adeptos entre os populares, mas também com alguns elementos das classes mais abastadas, tais ritos se difundiram. O próprio gnosticismo foi, de todas, a maior ameaça ao cristianismo. Conceitos gnósticos, ainda que embrionários, são respondidos em textos joaninos e paulinos, revelando-nos quão grande preocupação os apóstolos tiveram em não deixar que a fé cristã fosse confundida e diluída com qualquer prática oculta ou rito misterioso. Posteriormente, já sem os apóstolos, a igreja, através dos pais apostólicos, precisou mais claramente lidar com tais desafios teológicos. A fé cristã, portanto, se estabeleceu diante de um contexto de tensão. Há quem diga que limar a igreja cristã desta realidade é prestar-lhe o desserviço, pois foi mediante os conflitos que o cristianismo, desde os primórdios, floresceu. A teologia Cristã foi construída tendo como contexto histórico controvérsias, perseguições e desconfianças (judaicas, romanas e helênicas) e, a despeito, se impôs, cresceu e venceu. Destarte, nesta perspectiva, cremos e esperamos, a história se repetirá.


REFERÊNCIAS

CARNEIRO, Marcelo da Silva. O Judaísmo Pré-rabínico e os diversos messianismos. Apostila de História e Cultura do Novo Testamento. 2010.

KOESTER, Helmut. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulus. 2005

sábado, 1 de outubro de 2011

Breve Comentário do O Ponto de Mutação ( Fritjof Capra) e

Por: Idauro Campos

1. PARTE: COMENTÀRIO DE O PONTO DE MUTAÇÃO:

1. Qual a interpelação presente no texto:




2. RESPOSTAS AO TEXTO DE HANS KUNG



1- Será que está bem apresentado o paralelismo da mudança de paradigma nas Ciências e na Teologia?


2- Como entender a continuidade na mesma verdade?


3- Quais as diferenças fundamentais entre a mudança de paradigma nas Ciências na Teologia?





PARTE I - O PONTO DE MUTAÇÃO

1. Qual a interpelação presente no texto:




De acordo com Fritjof Capra o mundo vive em fase de transição. Esta é descrita por muitos, como uma era de colapso mundial. Tal colapso está evidenciado em uma série de acontecimentos, onde podemos destacá-los:

1 – Ameaça nuclear em face da polarização das nações mais poderosas do mundo1, com altíssimo custo financeiro e econômico para seus protagonistas;

2. Ameaça nuclear diante de acidentes em usinas geradoras de energia e que colocariam em risco cidades inteiras;



3. Poluição produzida pelo desenvolvimento não sustentável dos países mais ricos do mundo, destruindo nossas reservas, piorando a qualidade do ar e do meio ambiente em todo o planeta;




4. Comprometimento da saúde das populações das grandes e pequenas cidades ao redor do mundo em razão de alimentos e de nossas fontes de água contaminadas. Sem falar das doenças produzidas em reflexo ao avanço econômico, tais como as cardíacas, cânceres e derrames;



5. Tecnologia empregada sem a devida reflexão do impacto causado ao meio ambiente e o custo que tal emprego está causando ao Planeta;



6. Anomalias econômicas, como inflação galopante, desemprego maciço e péssima distribuição de renda;




7. Incapacidade intelectual para tratar das demandas mundiais acima descritas.




Para o autor o cenário é de confusão, descrença e caos que apontam para a mudança de estágio, comum a todas as civilizações conhecidas, porquanto em períodos de transição cultural, como os já experimentados, tais reflexos de decadência, perdição e crise foram comuns. Caso contrário, a mudança, a substituição dos modelos vigorantes não ocorreriam. Destarte, a catástrofe da civilização contemporânea é a manifestação da morte de um paradigma para a instauração de um novo. Sem crise a morte não ocorre. Sem esta o novo modelo não se estabelece. E a história não progride.

No que tange a civilização contemporânea, Capra nos interpela com três insights sobre a transição que será experimentada por cada um de nós. Tais insights dão forma à mudança de nossa cosmovisão. E o mundo, então, conforme acredita, não será mais o mesmo.

Primeiro insight é sobre o declínio da perspectiva patriarcal. A força masculina dirigiu as civilizações até onde sabemos e moldou os valores culturais, políticos, econômicos, filosóficos, sociais e religiosos. É um sistema que resistiu ao tempo, mas, está em colapso em face do avanço do feminismo, do lugar da mulher na sociedade e da mudança de papeis que o movimento vem impondo à sociedade contemporânea.

Um segundo insight que Capra no oferece sobre a transição testemunhada pela civilização contemporânea ocorre com os combustíveis fosseis. Explorados desde a aurora da modernidade, responsável pela industrialização das nações, assim como o seu enriquecimento, produzindo efeitos devastadores (muitos ainda não experimentados), a despeito de todo o progresso que trouxe. Com o inevitável esgotamento destes recursos a mundo presenciará a busca por novas formas de energia, com sugestão especial para a solar, causando transformações econômicas e sociais.

Finalmente, Capra nos adverte quanto à mudança de paradigma. O mundo moderno reconhecia o método científico, fruto do iluminismo e da revolução industrial, como o critério da verdade e fonte segura de acesso ao conhecimento. Os desdobramentos desta compreensão foram o conceito de universo preso em um sistema mecânico e previsível, a idéia de sociedades que lutam pela existência / domínio, fé em um progresso material ininterrupto e inevitável sucesso econômico e tecnológico. Entretanto, esta abordagem está sendo abandonada, porquanto os padrões não são tão fixos assim. Existe uma flutuação de valores. Esse é o novo paradigma. As civilizações, conforme Capra nos remete ao citar Iterem Surubim, viverão as tensões típicas aos períodos cíclicos que fazem a história marchar. Estes períodos são caracterizados pela ênfase ora na matéria, ora na transcendentalidade, ora na harmonia entre as duas primeiras forças. E é essa flutuação de forças e valores que movimentam as civilizações no decorrer dos séculos.


Fritjof Capra nos adverte que este processo é inevitável, sendo, inclusive, o responsável pela ascensão e queda de impérios mundiais. Tais transformações não podem ser evitadas. Na verdade, precisam ser reconhecidas para que nossa adaptação não seja dolorida. Eis, então, aqui, um desafio à Igreja e à Teologia.


Conclusão:


Diante do cenário construído, à luz das premissas de Capra, há algo que a Igreja deva fazer? A adaptação seria a saída? Ou o enfrentamento, pelo contrário, seria mais profético? A igreja será engolida pela inevitável transição à qual a história está destinada?

Talvez a pós-modernidade seja a grande oportunidade e última da Igreja. Pois, com sua mensagem da singularidade de Cristo e exclusivismo soteriológico não seria o contra-ponto necessário ao relativismo que a transição da sociedade contemporânea precisa? Não seria tarefa da reflexão cristã, então, a mensagem de norte e orientação que o mundo precisa? É realmente necessário cruzar os braços diante da desintegração da sociedade? Se somos aptos a entender o processo em curso e capazes de olhar historicamente e decodificar os acontecimentos que nossos antepassados não conseguiram, pois não dispunham das ferramentas que temos hoje, não podemos oferecer uma alternativa a este movimento? Estamos condenados à mera contemplação? Eis uma questão a ser pensada e respondida!




II-Parte – RESPOSTAS AO TEXTO DE HANS KUNG

1- Será que está bem apresentado o paralelismo da mudança de paradigma nas Ciências e na Teologia?

2- Como entender a continuidade na mesma verdade?

3- Quais as diferenças fundamentais entre a mudança de paradigma nas Ciências na Teologia?




1. Será que está bem apresentado o paralelismo da mudança de paradigma nas Ciências e na Teologia?


O paralelismo da mudança paradigmática nas ciências e na teologia acontece através da crise nos modelos científicos e teológicos. Destarte, assim como houve crise nas formulações da compreensão da física com Copérnico, na química com Lavoisier e novamente na física com Einstein, assim, semelhantemente, ocorreu na teologia, pois novas metodologias teológicas ganharam corpo quando os antigos sistemas entraram em colapso. Portanto, Hans Kung, adverte de que novos modelos teológicos assumiram seu lugar na história da disciplina à medida que saíram de cena gradativamente a antiga compreensão escatológica iminente, a apologética, as formulações de Irineu, assim como de Tertuliano, Orígenes e Clemente, passando também pela ascensão e ocaso das teologias de Agostinho, de Tomás de Aquino, assim como também a ortodoxia da Reforma Protestante. Ou seja, tanto nas ciências, como na teologia, o novo modelo metodológico com todo seu arcabouço de compreensão da realidade, foi estabelecido sempre diante da crise de sistemas estabelecidos que, fragmentados, deram lugar ao novo paradigma.




2. Como entender a continuidade na mesma verdade?



Hans Kung está convencido de que na mudança de paradigma não há a necessidade de ruptura total e radical com os antigos sistemas de compreensão. Na verdade, acredita na plena possibilidade de contribuição do que é tradicional com o novo. Não sendo útil a total descontinuidade, assim como também, a radical continuidade. O ideal é que os novos modelos carreguem parte das compreensões já estabelecidas através dos séculos. Portanto, o novo paradigma contribui com o antigo e recebe deste também seus depósitos. Isto é tanto possível na teologia como nas ciências, conforme acredita Kung.


3- Quais as diferenças fundamentais entre a mudança de paradigma nas Ciências na Teologia?

Os grandes modelos científicos e seus principais personagens emprestam peso e importância nas formulações científicas. Na teologia, todavia, esta influência existe no que tange aos Pais da Igreja e teólogos clássicos, mas suas contribuições são secundárias, porquanto o texto sagrado é a norma de autoridade final para a teologia. É do “testemunho primitivo”, conforme salienta Kung, onde repousa a âncora da teologia.

Uma segunda diferença é que as crises sócio-políticas e a situação histórica, tão influentes nas ciências, podem sim gerar transformações nos campos teológicos. Entretanto, a teologia é também influenciada pela experiência espiritual e seus agentes podem ser afetados pela mesma de forma imediata e pessoal, produzindo, então, mudanças nos instrumentos teológicos, como no caso de Martinho Lutero, por exemplo. Algo incomum às ciências, mas presente nos domínios da teologia.

Outra questão importante é que na teologia o testemunho primitivo é de peso tal que o novo paradigma encontra mais resistência em se estabelecer. Contudo, não significa a impossibilidade da absorção do novo, sendo até provável, desde que não contradiga os valores tradicionais básicos e fundamentais da teologia, conforme concebida na era inicial da igreja.

Finalmente, diferentemente da neutralidade possível e, às vezes, exigente no campo das ciências, há, na teologia, a tendência à conversão a um modelo, visto como melhor ou mais cristão. O novo paradigma corre o risco, então, se interpretado como infiel ou herege e seu sistema ser rejeitado na íntegra antes mesmo de ser compreendido. Consequentemente, quando o modelo é rejeitado é tratado pela perspectiva da condenação. Quando aceito (se aceito), vira tradição. Portanto, a reflexão teológica é mais passional do que as a científica e por isso mesmo quando o modelo científico é arquivado o mesmo ocorre por pura conclusão científica, diferentemente da teologia que quando marginaliza um modelo, termina por persegui-lo, criticá-lo violentamente. A teologia é passional.



REFERÊNCIAS

CAPRA, FRITJOF. O Ponto de Mutação. São Paulo: Editora Cultrix, 1983.

KUNG, HANS. Teologia a Caminho: Fundamentação Para o Diálogo Ecumênico. São Paulo: Paulinas, 1998.

Comentário dos Textos "O Ponto de Mutação", de FRITJOF CAPRA e . Teologia a Caminho: Fundamentação Para o Diálogo Ecumênico

Por: Idauro Campos

1. PARTE: COMENTÀRIO DE O PONTO DE MUTAÇÃO:

1. Qual a interpelação presente no texto:




2. RESPOSTAS AO TEXTO DE HANS KUNG



1- Será que está bem apresentado o paralelismo da mudança de paradigma nas Ciências e na Teologia?


2- Como entender a continuidade na mesma verdade?


3- Quais as diferenças fundamentais entre a mudança de paradigma nas Ciências na Teologia?





PARTE I - O PONTO DE MUTAÇÃO

1. Qual a interpelação presente no texto:




De acordo com Fritjof Capra o mundo vive em fase de transição. Esta é descrita por muitos, como uma era de colapso mundial. Tal colapso está evidenciado em uma série de acontecimentos, onde podemos destacá-los:

1 – Ameaça nuclear em face da polarização das nações mais poderosas do mundo1, com altíssimo custo financeiro e econômico para seus protagonistas;

2. Ameaça nuclear diante de acidentes em usinas geradoras de energia e que colocariam em risco cidades inteiras;



3. Poluição produzida pelo desenvolvimento não sustentável dos países mais ricos do mundo, destruindo nossas reservas, piorando a qualidade do ar e do meio ambiente em todo o planeta;




4. Comprometimento da saúde das populações das grandes e pequenas cidades ao redor do mundo em razão de alimentos e de nossas fontes de água contaminadas. Sem falar das doenças produzidas em reflexo ao avanço econômico, tais como as cardíacas, cânceres e derrames;



5. Tecnologia empregada sem a devida reflexão do impacto causado ao meio ambiente e o custo que tal emprego está causando ao Planeta;



6. Anomalias econômicas, como inflação galopante, desemprego maciço e péssima distribuição de renda;




7. Incapacidade intelectual para tratar das demandas mundiais acima descritas.




Para o autor o cenário é de confusão, descrença e caos que apontam para a mudança de estágio, comum a todas as civilizações conhecidas, porquanto em períodos de transição cultural, como os já experimentados, tais reflexos de decadência, perdição e crise foram comuns. Caso contrário, a mudança, a substituição dos modelos vigorantes não ocorreriam. Destarte, a catástrofe da civilização contemporânea é a manifestação da morte de um paradigma para a instauração de um novo. Sem crise a morte não ocorre. Sem esta o novo modelo não se estabelece. E a história não progride.

No que tange a civilização contemporânea, Capra nos interpela com três insights sobre a transição que será experimentada por cada um de nós. Tais insights dão forma à mudança de nossa cosmovisão. E o mundo, então, conforme acredita, não será mais o mesmo.

Primeiro insight é sobre o declínio da perspectiva patriarcal. A força masculina dirigiu as civilizações até onde sabemos e moldou os valores culturais, políticos, econômicos, filosóficos, sociais e religiosos. É um sistema que resistiu ao tempo, mas, está em colapso em face do avanço do feminismo, do lugar da mulher na sociedade e da mudança de papeis que o movimento vem impondo à sociedade contemporânea.

Um segundo insight que Capra no oferece sobre a transição testemunhada pela civilização contemporânea ocorre com os combustíveis fosseis. Explorados desde a aurora da modernidade, responsável pela industrialização das nações, assim como o seu enriquecimento, produzindo efeitos devastadores (muitos ainda não experimentados), a despeito de todo o progresso que trouxe. Com o inevitável esgotamento destes recursos a mundo presenciará a busca por novas formas de energia, com sugestão especial para a solar, causando transformações econômicas e sociais.

Finalmente, Capra nos adverte quanto à mudança de paradigma. O mundo moderno reconhecia o método científico, fruto do iluminismo e da revolução industrial, como o critério da verdade e fonte segura de acesso ao conhecimento. Os desdobramentos desta compreensão foram o conceito de universo preso em um sistema mecânico e previsível, a idéia de sociedades que lutam pela existência / domínio, fé em um progresso material ininterrupto e inevitável sucesso econômico e tecnológico. Entretanto, esta abordagem está sendo abandonada, porquanto os padrões não são tão fixos assim. Existe uma flutuação de valores. Esse é o novo paradigma. As civilizações, conforme Capra nos remete ao citar Iterem Surubim, viverão as tensões típicas aos períodos cíclicos que fazem a história marchar. Estes períodos são caracterizados pela ênfase ora na matéria, ora na transcendentalidade, ora na harmonia entre as duas primeiras forças. E é essa flutuação de forças e valores que movimentam as civilizações no decorrer dos séculos.


Fritjof Capra nos adverte que este processo é inevitável, sendo, inclusive, o responsável pela ascensão e queda de impérios mundiais. Tais transformações não podem ser evitadas. Na verdade, precisam ser reconhecidas para que nossa adaptação não seja dolorida. Eis, então, aqui, um desafio à Igreja e à Teologia.


Conclusão:


Diante do cenário construído, à luz das premissas de Capra, há algo que a Igreja deva fazer? A adaptação seria a saída? Ou o enfrentamento, pelo contrário, seria mais profético? A igreja será engolida pela inevitável transição à qual a história está destinada?

Talvez a pós-modernidade seja a grande oportunidade e última da Igreja. Pois, com sua mensagem da singularidade de Cristo e exclusivismo soteriológico não seria o contra-ponto necessário ao relativismo que a transição da sociedade contemporânea precisa? Não seria tarefa da reflexão cristã, então, a mensagem de norte e orientação que o mundo precisa? É realmente necessário cruzar os braços diante da desintegração da sociedade? Se somos aptos a entender o processo em curso e capazes de olhar historicamente e decodificar os acontecimentos que nossos antepassados não conseguiram, pois não dispunham das ferramentas que temos hoje, não podemos oferecer uma alternativa a este movimento? Estamos condenados à mera contemplação? Eis uma questão a ser pensada e respondida!




II-Parte – RESPOSTAS AO TEXTO DE HANS KUNG

1- Será que está bem apresentado o paralelismo da mudança de paradigma nas Ciências e na Teologia?

2- Como entender a continuidade na mesma verdade?

3- Quais as diferenças fundamentais entre a mudança de paradigma nas Ciências na Teologia?




1. Será que está bem apresentado o paralelismo da mudança de paradigma nas Ciências e na Teologia?


O paralelismo da mudança paradigmática nas ciências e na teologia acontece através da crise nos modelos científicos e teológicos. Destarte, assim como houve crise nas formulações da compreensão da física com Copérnico, na química com Lavoisier e novamente na física com Einstein, assim, semelhantemente, ocorreu na teologia, pois novas metodologias teológicas ganharam corpo quando os antigos sistemas entraram em colapso. Portanto, Hans Kung, adverte de que novos modelos teológicos assumiram seu lugar na história da disciplina à medida que saíram de cena gradativamente a antiga compreensão escatológica iminente, a apologética, as formulações de Irineu, assim como de Tertuliano, Orígenes e Clemente, passando também pela ascensão e ocaso das teologias de Agostinho, de Tomás de Aquino, assim como também a ortodoxia da Reforma Protestante. Ou seja, tanto nas ciências, como na teologia, o novo modelo metodológico com todo seu arcabouço de compreensão da realidade, foi estabelecido sempre diante da crise de sistemas estabelecidos que, fragmentados, deram lugar ao novo paradigma.




2. Como entender a continuidade na mesma verdade?



Hans Kung está convencido de que na mudança de paradigma não há a necessidade de ruptura total e radical com os antigos sistemas de compreensão. Na verdade, acredita na plena possibilidade de contribuição do que é tradicional com o novo. Não sendo útil a total descontinuidade, assim como também, a radical continuidade. O ideal é que os novos modelos carreguem parte das compreensões já estabelecidas através dos séculos. Portanto, o novo paradigma contribui com o antigo e recebe deste também seus depósitos. Isto é tanto possível na teologia como nas ciências, conforme acredita Kung.


3- Quais as diferenças fundamentais entre a mudança de paradigma nas Ciências na Teologia?

Os grandes modelos científicos e seus principais personagens emprestam peso e importância nas formulações científicas. Na teologia, todavia, esta influência existe no que tange aos Pais da Igreja e teólogos clássicos, mas suas contribuições são secundárias, porquanto o texto sagrado é a norma de autoridade final para a teologia. É do “testemunho primitivo”, conforme salienta Kung, onde repousa a âncora da teologia.

Uma segunda diferença é que as crises sócio-políticas e a situação histórica, tão influentes nas ciências, podem sim gerar transformações nos campos teológicos. Entretanto, a teologia é também influenciada pela experiência espiritual e seus agentes podem ser afetados pela mesma de forma imediata e pessoal, produzindo, então, mudanças nos instrumentos teológicos, como no caso de Martinho Lutero, por exemplo. Algo incomum às ciências, mas presente nos domínios da teologia.

Outra questão importante é que na teologia o testemunho primitivo é de peso tal que o novo paradigma encontra mais resistência em se estabelecer. Contudo, não significa a impossibilidade da absorção do novo, sendo até provável, desde que não contradiga os valores tradicionais básicos e fundamentais da teologia, conforme concebida na era inicial da igreja.

Finalmente, diferentemente da neutralidade possível e, às vezes, exigente no campo das ciências, há, na teologia, a tendência à conversão a um modelo, visto como melhor ou mais cristão. O novo paradigma corre o risco, então, se interpretado como infiel ou herege e seu sistema ser rejeitado na íntegra antes mesmo de ser compreendido. Consequentemente, quando o modelo é rejeitado é tratado pela perspectiva da condenação. Quando aceito (se aceito), vira tradição. Portanto, a reflexão teológica é mais passional do que as a científica e por isso mesmo quando o modelo científico é arquivado o mesmo ocorre por pura conclusão científica, diferentemente da teologia que quando marginaliza um modelo, termina por persegui-lo, criticá-lo violentamente. A teologia é passional.



REFERÊNCIAS

CAPRA, FRITJOF. O Ponto de Mutação. São Paulo: Editora Cultrix, 1983.

KUNG, HANS. Teologia a Caminho: Fundamentação Para o Diálogo Ecumênico. São Paulo: Paulinas, 1998.

A Crise do Cristianismo Pré-Moderno e o Novo Paradigma Teológico: Breve Comentário do Texto de Andrés Torres Queiruga

Por: Idauro Campos.

Com o advento do iluminismo e da ênfase na razão e na ciência, veio o conceito de que o homem (operador desta ciência e contemplado com o poder da razão) é autônomo. Esta autonomia se manifesta em diversos campos do saber e de atuação, tais como a física, a economia, a política e moral e etc.

Antes do iluminismo e, portanto, na era do cristianismo pré-moderno, tais locis de conhecimento eram fortemente refletidos pela perspectiva religiosa. Destarte, as análises dos fenômenos da natureza não tinham suas explicações baseadas nas leis da física, mas sim na atuação de anjos e demônios. Semelhantemente, a má distribuição de renda era fruto da vontade de Deus que dividira o mundo entre pobres e ricos. Também as monarquias eram interpretadas como representações divinas, pois, afinal, o rei era “ordenado por Deus” e a dimensão psicológica humana fora horizontalizada, pois o comportamento humano não podia mais ser resumido a dicotomia das virtudes piedosas x tentação e, sendo assim, a própria moral deixou de ser um absoluto religioso que dita a conduta e passou a ser a performance que cada homem constrói à luz de seus conhecimentos no contexto cultural em que vive, conhece e interage. Ou seja, o cristianismo, que dominava o discurso sobre o universo, o mundo, o homem e toda a realidade que o envolvia, perdeu o lugar de tutor e com isso a houve a inevitável morte da era pré-moderna. Contudo, a autonomia não é a única explicação para a mudança de era, porquanto outro fator também fora importante. O conceito de um processo histórico-evolutivo tem seu lugar aqui. Ou seja, a compreensão de que a realidade não é estática e nem definitiva, mas em constante processo de desenvolvimento, contribui também para o avanço da pesquisa científica, cada vez mais ávida por saber de onde viemos, quem somos e de que maneira nos transformaremos.

Esta ruptura da maneira como compreendemos a realidade atingiu também a reflexão teológica. Visto que esta também é uma área do conhecimento humano e como o iluminismo influenciou todos os campos do saber, a teologia não poderia ficar à margem, pois o pensar teológico é fruto de mentes que estão inseridas em determinado contexto da história da humanidade. Assim quais seriam, então, os novos insights da teologia? Quais as contribuições mais importantes de que a modernidade trouxe?

Primeiramente, como Queiruga aponta em sua obra, o colapso do cristianismo pré-moderno fez ruir o conceito do Deus totalmente transcendente, dando lugar à idéia de transcendência-imanência. Isto é, ao invés de afastado do mundo profano ao qual criou, Deus passou a ser visto como aquele que está entre nós, conosco. Ele não é apenas um ser todo-poderoso e que ocupa um lugar no céu, mas também “anda” entre os homens. Um Deus que seja apenas pura transcendência leva os homens ao lugar dos deísmos (o “puro” e o intervencionista “) e, para Queiruga, ambos estão aquém da verdade. Deus está no mundo, pois a tudo sustenta. E está sempre indo ao encontro do homem, chamando-o para ser colaborador na construção da história. A conseqüência radical disso é de que não precisamos tentar movê-lo com cultos e orações, pois já se pôs ao lado do homem, vindo d’Ele o dínamo da vida. Nele toda existência abarca e está contida. Não há qualquer dimensão da existência que esteja fora d’Ele e por isso não precisa ser lembrado e nem chamado a intervir.

Além do conceito de transcendência-imanência, outro aspecto importante que evidencia a nova compreensão teológica, de acordo com Queiruga, é quanto ao não dualismo e não intervencionismo na criação. Não há mais sagrado e profano na criação, porquanto tudo vem de Deus. Ele é fonte de toda a realidade. Semelhantemente as intervenções perdem espaço, pois Deus anima e responsabiliza o homem para que assuma sua própria história e destino. O homem é um agente livre. Não solitário. Não está sozinho no universo. Deus está próximo, mas o convocando sempre a assumir seu lugar no palco da história.

A hamartiologia também recebeu aportes da modernidade. O mal é, na verdade, reflexo do homem que não consegue dá mais de si. É sinal de finitude das criaturas. Não tem tanto haver com Adão e o pecado original, mas sim com todos e cada criatura, responsável que são por si.

A soteriologia, principalmente, também sofre uma nova leitura. Cristo reconcilia não na cruz, mas na encarnação os homens com Deus. E esta reconciliação é a culminação do processo salvífico universal conduzido em diversas religiões e acessível a todos os homens, pois Ele está em todo lugar e perto de todos.

Se Deus está presente no mundo. Se há, de fato, esta transcendência mergulhada na imanência, então, a nova tendência teológica será um movimento que proceda “de baixo”, ou seja, não se faz mais teologia fora desta realidade. Com o fim do dualismo mundo x igreja ou criação x salvação, percebe-se que o mundo é o lugar da teologia, pois é construído nele e para ele, visando levar os homens e aos homens o significado divino da existência. O novo paradigma teológico rejeita a antiga concepção de um Deus intervencionista, distante e separado do mundo e dos homens. Ao mesmo tempo rejeita o otimismo desenfreado do iluminismo, pois este também tende a ser fundamentalista na idéia de que o homem é a medida de todas as coisas. Na verdade, como nos adverte Queiruga com outras palavras, a teologia caminhará no paralelismo Deus/homem. A teologia fará seu movimento nesta perspectiva de correspondência. Na se fará mais uma reflexão teológica desencarnada, isto é, fora do cosmos. A realidade humana será o prisma da compreensão teológica. Deus é amor. Ama os homens e é natural que o lugar onde estes se encontraram seja o ambiente de onde parte toda a teologia.

REFERÊNCIA

QUEIRUGA, Andrés Torres. Fim do Cristianismo Pré-Moderno: Desafios para um novo horizonte. São Paulo: Editora Paulus, 2003

O que Representa para o homem o nascimento de Jesus?

Por: Idauro Campos

“Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo. 19 Então José, seu marido, como era justo, e a não queria infamar, intentou deixá-la secretamente. 20 E, projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo; 21 E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. 22 Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta, que diz; 23 Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, E chama-lo-ão pelo nome de EMANUEL, Que traduzido é: Deus conosco” (Mt 1.18-23).


Introdução


Mateus escreve para Judeus. Seu Evangelho é apresentado numa perspectiva real, isto é, sua ênfase é que Jesus Cristo é o Rei há muito esperado, e que seu nascimento traz o Reino de Deus a este mundo (4.17; 5.3). Israel na ocasião do nascimento de Cristo estava sob o jugo do Império Romano e não seria improvável que muitos judeus à época discernissem a situação política em que viviam como um castigo de Deus aos pecados cometidos pelo povo no passado. Destarte, o Messias aguardado catalisava a esperança popular de uma libertação política. Muitos aguardavam o Messias como um guerreiro, à semelhança de Josué, despojando os exércitos inimigos, conquistando a soberania nacional, acreditando que a subserviência a Roma fosse o maior problema que a nação enfrentava. Entretanto, Jesus Cristo, não veio somente para os judeus e muito menos para provir uma libertação político-administrativa. Sua obra seria maior! Seu Reino está além de qualquer extensão territorial e governo geopolítico!

Destarte, o que representaria, então, o nascimento de Jesus?

1. A Salvação dos Pecados (vs 21):

“Ele salvará o seu povo dos pecados deles”.


O maior problema da nação israelense não era o jugo político. Seu maior inimigo não era a tirania romana. De nada adiantaria uma guerra vitoriosa empreendida contra Império Romano, pois a grande necessidade do povo judeu, assim como a de todos os homens, era e é a vitória sobre o pecado. É o pecado que atrai sobre o homem todas as mazelas de sua existência. É o pecado que separa o homem do seu Criador. É o que causa a morte espiritual que todos os homens sem Cristo estão destinados a enfrentar. A Escravidão moral que o ser humano experimenta é a raiz da inveja, das guerras, dos assassinatos, do ódio, das disputas existentes entre os povos. Todas as crises pelas quais as pessoas passam, a despeito das teorias dos analistas e psicólogos, tem como fundamento a natureza corrompida do homem. Este sim é o grande inimigo a ser derrotado. A situação política de Israel era conseqüência do pecado da desobediência que durante séculos o povo praticara. Tudo que experimentamos de negativo em nossa existência tem como sitz in leben (o pano de fundo) a nossa natureza adâmica, escrava do pecado.

O nascimento de Jesus Cristo representou a vitória sobre o pecado. Era a nossa salvação. O inimigo podia, então, ser derrotado definitivamente. Com o nascimento de Jesus Cristo a vitória sobre o pecado era apenas uma questão de tempo, afinal o anjo declarou: “Ele salvará o seu povo dos pecados deles”.


2. O Cumprimento da Promessa (vs 22):



“Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta”


O nascimento de Jesus Cristo fora anunciado muitas por vários profetas, especialmente Isaias (o evangelista do Antigo Testamento), 700 anos antes, aproximadamente. Deus, então, cumpriu a sua promessa de enviar um menino, cujo governo eterno estaria sobre seus ombros e que seria conhecido como Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade e Príncipe da Paz (Is 9.6-7).

Deus prometeu salvar o seu povo. Ele cumpriu a sua promessa. Finalmente, o Salvador estava entre os homens.

O nascimento de Cristo é uma portentosa demonstração de que Deus sempre cumpri o que promete. A Palavra de Deus não falha. Prometeu no Éden um descendente da mulher que derrotasse definitivamente a serpente, instrumento da queda do homem (Gn 3.15). Ele cumpriu! Prometeu a Abraão que nele todas as famílias da terra seriam abençoadas (Gn 12.3). Ele cumpriu! Prometeu a Moisés que o sangue do Cordeiro Pascoal salvaria o povo do juízo divino (Ex 12.13). Ele cumpriu! Prometeu um futuro glorioso ao seu povo (Is 54.1-17; Jl 2.21-27). Ele, em Cristo, cumpriu e. no tempo cumprirá, quando entrarmos definitivamente na Nova Jerusalém (Ap 21.1-27).

Vivemos em tempos onde há uma crise de confiabilidade. Não acreditamos mais uns nos outros. Homens descumprem contratos. Partidos rompem acordos. Casais não cumprem os votos matrimoniais. A palavra firmada e as promessas feitas entre as pessoas nem sempre são cumpridas. Através do nascimento do Senhor, além da maior bênção contida neste evento que é a salvação, temos a demonstração de que nosso Deus é realmente fiel e confiável. Se Ele disse, se cumprirá. Se Ele prometeu, nos dará. É, portanto, digno de toda a confiança. Podemos depositar nossas vidas em suas mãos e crer nas suas palavras, pois cuidará de cumpri-las. Ele não falha!


3. Um Deus que se importa (Emanuel):

“Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, E chama-lo-ão pelo nome de EMANUEL, Que traduzido é: Deus conosco” (vs 23).

Onde está Deus na hora do sofrimento? Esta é uma pergunta, às vezes honesta, ora irônica e, em outras ocasiões, tão somente retórica, que muitos se fazem diante da dor e do drama humanos. Onde está Deus? Onde Deus está na hora da fome, no momento do suicídio do desesperado ou do diagnóstico do câncer? Sim. Onde Ele estava no trajeto da bala perdida que tirou a vida da mulher grávida? Onde Ele está na hora do terremoto, do acidente fatal, do assassinato frio e calculado ou no estupro da adolescente? Onde Ele está nos meses de desemprego? Ou nos gritos e gemidos de quem presenciou a Tsunami? Sim. Onde Deus está? João, há 2000 anos, respondeu a pergunta que ecoa nos séculos: Ele está conosco! Ele está entre nós! Ele é Emanuel: O Deus conosco! Sim. João estava certo! O Verbo montou a sua tenda (tabernaculou) entre nós! E por quê? Simples. Ele se importa conosco!

Deus não é impassível. Um juiz implacável. Um déspota celestial. Não! Deus ama os homens. Ele se importa conosco. Ele está perto de nós. Não se distancia das suas criaturas, ainda que tropecem e errem frequentemente. Mas, a despeito, as ama profundamente. Ele revela isso ao enviar Jesus Cristo para andar entre os homens. “O verbo se fez carne e habitou entre nós” (João 1.14), é a boa notícia trazida por João.

O nascimento de Jesus Cristo representa a companhia permanente de Deus. Não estamos sozinhos neste universo. Não fomos desamparados pelo Criador. Não dependemos do destino ou da sorte para vivermos. O Senhor, o Guia, o Bom Pastor, que conduz suas ovelhas ao aprisco, habita em nosso meio. Que maravilhosa notícia! Ele se identifica conosco. Sentiu sede (João 19.29). Sentiu fome (Mateus 21.19). Chorou (João 11.35). Sentiu dores (Is 53.3). Sabe, portanto, o que é sofrimento e, por isso, não deixa sós (Mt 28.20).


CONCLUSÃO

Deus se importa conosco! A letra da canção que diz: “mas, apesar da glória que tens Tu te importas comigo também...” é uma das mais belas verdades do Evangelho. Jesus Cristo está entre nós. Nunca nos deixará! O Senhor habita no meio do seu povo. Hoje Ele habita por meio do seu Espírito e aguardamos aquele grande dia em que das nuvens Ele virá nos buscar e, então, estaremos fisicamente perto d’Ele para sempre (I Ts 4.17). Consolai-vos, pois uns aos outros com estas palavras (1Ts 4.18). Amém!!!

A Alegria de se ter um Salvador.

Por: Idauro Campos


“O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2.10-11).


Este texto registrado no Evangelho de Lucas nos explica a razão pela qual a salvação nos alegra tanto. Vejamos:

1 – É uma Dádiva dos Céus:

Perceba que no versículo 9 do mesmo capítulo, somos informados que aquele mensageiro, que anuncia o nascimento de Jesus Cristo, era um “anjo do Senhor” que “desceu” (dos céus).

O homem não pode salvar a si mesmo. E não pode salvar-se pelo simples fato deste homem encontrar-se morto em delitos e pecados (Ef 2.1). Embora não perceba, o homem é um escravo do pecado. Está sob o domínio do diabo que influencia toda a sua vida (Ef 2.2). Essa escravidão espiritual afeta todas as dimensões da vida humana, sejam elas morais, cognitivas, psicológicas e, principalmente, espirituais. Todas as tentativas do homem em resolver seus dramas existenciais fracassam em decorrência de sua natureza corrompida. O homem é um ser terreno, limitado, finito, mortal e, logo, efêmero. Não pode, portanto, produzir, desenvolver e alcançar a própria libertação espiritual. Daí, então, o fracasso das religiões. Todas, sem exceção, são propostas (algumas bem intencionadas), de construir um projeto de aproximação entre Deus e o homem. Mas, este não pode aproximar-se de Deus. Não conhece o caminho! Há querubins guardando o caminho da árvore da vida (Gn 3.24). Sozinho, o homem, jamais a encontrará!

Destarte, a salvação é um presente. É dada. Não pode ser comprada. Conquistada. E é oferecida pelo único que poderia fazê-lo, pois tem o poder para isso: Deus. A Salvação é um presente de Deus. É um presente que Ele tem prazer em nos dar. Se Deus não a nos disponibilizasse, através de Cristo, estaríamos perdidos para sempre. Por isso a Salvação alegra-nos tanto. Estava fora de nosso alcance. Mas, Ele, graciosamente, nos deu.

2- É Para Todos:

A salvação anunciada pelo anjo não era dirigida apenas aos pastores que se depararam com ele (vs 8), mas para “todo o povo”. Todos deveriam saber do ocorrido extraordinário na Cidade de Davi. Homens, mulheres, crianças, jovens, anciãos, casados, solteiros, viúvas, órfãos, escravos, livres, nativos, estrangeiros, ricos, pobres, excluídos, marginalizados, judeus e gentios, enfim, todos poderiam ser alegrar com o nascimento do Salvador. O acesso a Deus não era exclusividade de uma etnia (como os judeus acreditavam); não era privilégio de gêneros, classe social e ou faixa etária. Não! Deus, agora, em Cristo, se fazia a conhecer a todo o povo. O acesso estava liberado. Cristo abriu o caminho. Abriu às crianças (Mc 10.4); abriu aos idosos (Lc 2.36-38); abriu às mulheres (Mc 16.9); abriu aos homens (Mt 4.18-19); abriu aos estrangeiros (Mt 15.21-28); abriu aos judeus (Mt 10.6); abriu aos gentios (Mt 8.5-13); abriu aos marginalizados (Mt 4.24); abriu aos ricos (Lc 8.3); abriu aos pobres (Mt 11.5); abriu aos doentes (Mt 11.5); abriu aos publicanos (Lc 5.27,28); abriu para mim; abriu para você; abriu para todo o povo, enfim. Isso é ou não motivo de extrema alegria? Muitos, ao redor do mundo, vivem em sociedades marcadas por profundos contrastes sociais. A desigualdade é um dos grandes males contemporâneos. Nem todos têm as mesmas oportunidades. Mas, quando pensamos na Salvação e na alegria que proporciona podemos entender a letra do salmista quando conclama-nos a Cantar ao Senhor por que Ele vem julgar “o mundo com justiça e os povos com equidade” (Sl 98.9). Não há prediletos entre os homens diante de Deus! Todos pecaram e destituídos estão de sua glória (Rm 3.24). Todos, portanto, precisam d’Ele e podem, em Cristo, encontrá-LO (João 14.9). A salvação é para todos! Que maravilhosa notícia!



3- É Para Hoje:

A boa notícia da salvação trazida pelo anjo do Senhor ainda possuía uma característica maravilhosa! Não era uma promessa! Não era um prognóstico. Não! Era um fato! O Salvador, enfim, tinha nascido! Ele declarou: “hoje, vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é o Cristo, o Senhor”. Era uma realidade. Não mais uma esperança. Não mais uma expectativa. Mas, sim, seu cumprimento. A salvação, e a alegria que a mesma trazia, haviam chegado. O Salvador estava entre os homens!

Os governos apresentam suas plataformas de realizações e seus programas de reformas, prometendo às populações melhorias que nunca chegam. Jovens sonham com um mundo melhor, mas que permanece apenas como uma utopia. Filmes e novelas criam a ilusão de que todos terão um final feliz um dia, a despeito da realidade dura da vida. A sociedade sofre da síndrome do Sr. Micawber, personagem do romance de Charles Dickens, intitulado David Copperfield, que era incapaz de pagar suas contas, mas acreditava que algo fantástico e mágico poderia lhe acontecer a qualquer momento.

A salvação que Deus nos oferece não é uma utopia. Não é um sonho. Não é mais uma promessa. Não está em um futuro distante. É um fato! E é para hoje! É para agora! Afinal, o Salvador nasceu! Esteve e está entre nós! Deus entrou na rotina e agenda da humanidade, se fazendo igual aos homens (Jo 1.14), identificando-se conosco e garantido-nos no tempo presente a sua salvação. Não é por menos que o anjo declarou “hoje:” hoje, vos nasceu o Salvador “. Todos os homens ao redor do mundo, portanto, podem hoje mesmo, agora mesmo, se alegrarem com esta grande e maravilhosa notícia! Aleluia!




Conlusão:

A salvação é presente de Deus! Está disponível a todos os homens em qualquer lugar do mundo. E hoje mesmo podemos, pela fé em Jesus Cristo, nos apropriarmos dela. Somos ou não somos o povo mais feliz da terra? Soli Deo Gloria!!!

A Mensagem de Renovo Através do Nascimento de Jesus.

Por: Idauro Campos.


Introdução:

Quando estudamos sobre o nascimento de Jesus Cristo ficamos surpreendidos com a quantidade de significados implicados no evento. O nascimento de Cristo é o mais extraordinário evento histórico que se tem notícia, pois foi a manifestação do milagre da encarnação divina. Deus Filho mesmo sendo espírito (João 4.24), assumiu forma humana, veio ao mundo e andou sobre o mesmo por mais de 30 anos (João 1.14; Lc 3.23). O que poderia ser mais fantástico do que isso? O mundo fora visitado pelo Senhor! Os anjos entenderam o fato espetacular e foram tomados de imensa e comovente alegria (Lc 2.14)!

O nascimento de Jesus Cristo é uma portentosa declaração dos céus! Havia uma mensagem de renovação presente no fato. Que renovação era essa? Como podemos entendê-la?


1 - A Renovação da Aliança:


Quando o pecado entrou no mundo (Gn 3.1-7), dilacerou o relacionamento do homem com Deus. Havia uma aliança entre Criador e criatura. Deus criou o homem e, conferindo-lhe sua imagem e semelhança, o dotou de capacidades e responsabilidades (Gn 1.26-2.25). Estes são sinais da correspondência (Aliança) entre Deus e o homem. Mas, o pecado praticado por Adão, cabeça e representante de toda a humanidade, maculou o pacto e, como punição, o mesmo foi expulso da presença de Deus (Gn 3.22-24). Todavia, Deus ama o homem! E decide manter sua aliança. Para tanto, a renova, através de Noé, Abraão, Moisés, Davi e, sobre tudo, Jesus Cristo.

O nascimento de Jesus Cristo, portanto, é uma mensagem maravilhosa de que Deus não desiste de nós. O entristecemos no Éden, nos dias de Noé, nas rebeliões e murmurações no deserto, nas inconstâncias dos tempos dos juízes, nas apostasias do período monárquico, na corrupção pós-exílica, mas, a despeito de nossa obstinação em transgredir a lei de Deus, O Senhor nunca desistiu do homem, pois sabe que o mesmo precisa d’Ele.

Em Cristo Deus dá sua mais ousada mensagem de amor. Ele renova a sua disposição em chamar novamente o pecador para perto de sua presença. Poderia mantê-lo distante para sempre de sua presença, mas o quer por perto, pois é o alvo eterno de seu amor.

A Arca nos dias de Noé (Gn 6.14-7.24), as tábuas da Lei nos tempos de Moisés (Ex 20.1-17), a Reino Davídico (1 Sm 5.1-12), embora eficientes em muitos aspectos como símbolos de uma aliança que pontifica a boa vontade de Deus para com os homens, contudo, não foram suficientes para a plena salvação e restauração do mais amplo relacionamento e entre nós e Deus. Cristo foi, portanto, a oferta mais generosa e contundente de Deus. É a sua poderosa voz nos chamando de volta para perto. Jesus Cristo é a Palavra de Deus aos homens. É a Sua mensagem encarnada!


2. A Renovação dos Homens:




O Nascimento de Jesus também é uma mensagem de renovação dos homens. O apóstolo Paulo declara que “se alguém está em Cristo, nova criatura é. As coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Coríntios 5.17). O próprio Paulo é um exemplo disso. Vejamos sua trajetória em Atos 9. No início do capítulo ele é um sanguinário perseguidor da Igreja (vs 1-2), mas, ao se deparar com Jesus Cristo à caminho de Damasco, muda completamente, à ponto de Lucas, o autor do livro de Atos, encerrar o capítulo, apresentando-nos um novo Paulo, isto é, agora um apaixonado pregador do Evangelho de Jesus Cristo (vs. 20,22,28), aleluia! Somente Jesus Cristo muda assim a vida de alguém. O nascimento do Nazareno, então, é uma mensagem de que não precisamos nos contentar com a vida miserável que levamos. Não somos escravos de um destino cármico. Não precisamos continuar presos uma vida de derrotas e caos espirituais. Podemos mudar! Saulo de Tarso mudou! Maria Madalena mudou (Mc 15. 9)! Levi mudou (Lc 5.27-28)! Zaqueu mudou (Lc 19.1-10)! Os homens mudam quando se encontram com Cristo. E mudam para a melhor! Que maravilhosa notícia é essa!



3 - A Renovação do Cosmos:


Não apenas o gênero humano sofre os efeitos do pecado. Toda a natureza também os suporta. Lemos na Epístola aos Romanos que a “criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora” (8.22). O alcance do pecado foi cósmico. Toda a terra é maldita por causa do pecado (Gn 3.17-19). Dilúvios, saraivas, fomes, pragas, terremotos, guerras, mortes são expressões da maldição que sobreveio ao cosmos (mundo). O nascimento de Cristo, entretanto, contém uma mensagem de uma nova ordem. Uma nova realidade. Um novo tempo. Um novo Reino. Um novo mundo. Um tempo em que a morte será vencida, o pecado extirpado, um Reino inaugurado com um novo Rei entronizado e um cosmos restaurado. Uma nova era histórica será escrita e conhecida. Paulo fala de uma “convergência” do céu e da terra em Cristo (Ef 1.9), isto é, todas as esferas da criação serão redimidas e trazidas debaixo dos domínios de Cristo. Cristo é o centro de todo o universo (Ef 1.22). Este é o prêmio por sua obediência ao Pai (Fp 2.9; Hb 2.8). O mundo atual está perdido, mas não para sempre! Novos céus e uma nova terra nos aguardam (Ap 21.1-4). Jesus Cristo é o Rei que nasce para inaugurar este Reino (Is 9.6). O Reino Deus que começa a ser construído aqui, no coração dos homens e que progride para sua consumação na história. Um dia, Ele, o Rei, virá nas nuvens para definitivamente estabelecer o seu Reino (Mt 24.29-31, 25.31-34). O nascimento do menino em Belém aponta para estes novos tempos na história do mundo!


Conclusão:



O nascimento de Jesus Cristo é uma mensagem de renovação para toda a criação. Por causa d’Ele todos nós podemos ser pessoas transformadas. Pessoas de bem, do bem e para o bem! Não precisamos continuar a sermos os mesmos. Podemos confiadamente nos achegar diante do Senhor expor toda a nossa vida de fracassos e contradições, na certeza de que Ele nos ouvirá, entrará em nossa vida, mudará nosso destino. Os homens não estão perdidos para sempre. Há vida, solução e saída em Jesus Cristo!

Soli Deo Glória!!!