segunda-feira, 31 de maio de 2010

Igrejas Saudáveis Crescem.


Igrejas Saudáveis Crescem.

POR: IDAURO CAMPOS

Quando pensamos no êxito que algumas igrejas alcançam quanto ao seu crescimento numérico, logo nos indagamos sobre as razões que explicam o fenômeno. Surgem respostas variadas. “A igreja está crescendo porque tem como pastor um homem de Deus”; não acredito muito nesta resposta, pois conheço pastores que são legítimos homens de Deus e que, entretanto, seus ministérios não testemunham de um crescimento estável. “A igreja está crescendo porque fala a língua do povo”; é uma outra resposta também simplória, pois há muitas igrejas inseridas nas periferias e favelas das grandes cidades e cuja liderança procura “falar a língua do povo” e que também não desfrutam de um crescimento consistente. “A igreja está crescendo porque possui uma liturgia atraente”. Também não é uma verdade absoluta, pois conheço igrejas que tentaram mudar sua liturgia, adotando uma prática cúltica mais “neopentecostalizada” e que depois de mais de 10 anos de prática, tudo o que conseguiram foi afugentar os crentes antigos e deseducar os novos quanto aos Salmos & Hinos, sem, contudo, experimentar um crescimento convincente. Rev. Leônidas Prudêncio de Lemos, o querido pastor da Igreja Congregacional em Vista Alegre, em uma pregação ministrada na Igreja Congregacional de Papucaia, por ocasião da posse do novo ministro daquela grei, com muita inteligência, disse que “há corpos que engordam, outros que incham e aqueles que crescem. Logo, todos aumentam de tamanho, mas só o que cresceu é saudável”. Semelhantemente ocorre com a igreja. Temos igrejas que aumentaram de tamanho, mas não se pode dizer que cresceram, pois a despeito de seu “corpanzil”, muitas carecem de saúde espiritual. Como então resolveremos esta questão? Quais os indicadores saudáveis do crescimento de uma igreja? Como poderemos contemplar um saudável crescimento de nosso rebanho?

No texto de Atos dos Apóstolos 2.42-47, temos a resposta do que é uma igreja saudável e, consequentemente, crescente. Lucas aponta 13 características que a primeira comunidade de fé possuía, vejamos:

1. Pregação e Ensino Bíblico – “E perseveravam na doutrina dos apóstolos” (vs. 42);
2. Koinonia – “e na comunhão...”;
3. Adoração – “e no partir do pão” (Celebração da Santa Ceia); “Louvando a Deus...” (vs 47);
4. Oração – “e nas orações”;
5. Temor- “ em cada alma havia temor” ( vs. 43);
6. Fé – “Todos os que criam” (vs 44);
7. Unidade- “ estavam unidos e tinham tudo em comum” ( vs 44);
8. Solidariedade e Ação Social- “ vendiam suas propriedades e bens e repartiam...”;
9. Perseverança – “E, perseverando unânimes...” (vs. 46);
10. Culto Frequente na Vida – “Todos os dias no templo e partindo o pão em casa” (vs 46);
11. Alegria- vs 46;
12. Empatia- “ caindo na graça do povo” ( vs 47);
13. Crescimento Promovido Por Jesus Cristo – “E a cada dia acrescenta-lhes O SENHOR os que iam sendo salvos” (vs 47).



Gostaria de comentar expositivamente esses versículos, porém não nos é possível em virtude do espaço. Pelos menos, então, observemos o que há no versículo 47b. Lucas diz que o Senhor (Jesus Cristo) é quem acrescentava os que estavam sendo salvos. Isso é coerente com a declaração de Paulo em 1 Coríntios 3.6, quando o apóstolo reconhece que um obreiro pode semear ou regar, mas o crescimento da lavoura (vs 9) vem de Deus. Quando nos intrometemos no trabalho que pertence exclusivamente a Deus, isto é, a promoção do crescimento de sua obra, o que colhemos, na verdade, é joio e não trigo. É possível atrairmos, com nossas técnicas de crescimento, gente para dentro das igrejas, mas, produzir novo nascimento, regeneração, conversão é só o Senhor quem pode. O célebre avivalista do século XIX, Charles Finney, no final de sua vida lamentou por muitas técnicas que empregou e ensinou para produzir avivamento e crescimento numérico, reconhecendo que muitas das pessoas alcançadas em tais campanhas não se tornaram crentes de verdade (nascidas de novo), configurando assim em um verdadeiro problema para as igrejas que as tinham em suas membresias. Portanto, como cooperadores de Deus, devemos nos concentrar no plantio e na rega e deixarmos os resultados com o Senhor.

Mas há outro aspecto importante que precisamos observar na passagem. Ao informar que o Senhor acrescentava os salvos à igreja, poderíamos nos perguntar por que Ele estava fazendo isso tão frequente e abundantemente? A reposta é simples: a igreja primitiva era uma igreja saudável. Ela tinha o que oferecer às ovelhas do Bom Pastor (João 10.11). Os pastos eram verdes. Quando os salvos chegavam para aquela comunidade, encontravam uma igreja com as características citadas acima. Encontravam pregação bíblica e apostólica que os alimentava; encontravam uma comunidade proclamadora, didática, relacional, intercessora, solidária, unida, temente, adoradora, viva, carismática, serva, dinâmica, empática, perseverante, alegre, singela. Ou seja, a igreja primitiva era um bom aprisco para as ovelhas do Mestre. Aquela comunidade lhes faria bem. Por isso o Senhor confiava suas ovelhas àquela grei.

Amados, se a igreja for um lugar saudável, onde as ovelhas serão tratadas, tenha certeza de que Jesus Cristo, o bom pastor, chegará trazendo-as para que nós, seus pastores auxiliares, as alimentemos com pastos verdes e águas tranquilas. Mas não adianta sermos fortes apenas em uma área. Não podemos enfatizar a pregação bíblica e negligenciar a oração. Não podemos destacar o louvor em detrimento da comunhão entre os irmãos. Não podemos apenas ser uma comunidade alegre, porém sem temor. Não podemos evangelizar e sermos relapsos na ação social. Não podemos servir sem deixar claro que nossas ações derivam de nossa gratidão ao nosso Salvador Jesus Cristo. Assim como um corpo físico só desfruta de saúde se todos os seus membros, sistemas e aparelhos estão em pleno funcionamento, uma igreja só é saudável quando há equilíbrio em suas características. É isso que igreja primitiva nos ensina. Aprendamos com ela. Geralmente temos a tendência de escolhermos algumas áreas que julgamos importantes e nos concentramos nelas, mas uma bela sinfonia precisa de todos os instrumentos devidamente afinados para que o conjunto da obra produza o efeito extraordinário de encantar a plateia. O maestro, para realizar o seu trabalho, precisa ter a sua disposição todos os músicos bem treinados, sendo a harmonia o fator de êxito de uma boa orquestra. O mesmo aconteceu com a Igreja Primitiva. Era uma igreja com equilíbrio e harmonia. Era uma igreja saudável. Por isso cresceu. Que o mesmo possa ser visto em nossas igrejas congregacionais. Que assim seja!

Soli Deo Glória!!!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Os Desafios de Uma Nova Reforma ( Monografia).



POR: IDAURO CAMPOS




1- Introdução:


Estamos nos aproximando do quinto centenário da Reforma Protestante. Sem dúvida, este foi um dos mais poderosos movimentos do Espírito Santo no meio da Igreja. São inegáveis as transformações profundas impingidas na sociedade a partir deste reavivamento, pois a Reforma não se fez sentir apenas na esfera religiosa. A economia, a educação, as políticas públicas de saúde e segurança, a ética do trabalho, a ética da família, a noção de vocação, o conceito de cidadania, a visão de Estado, a consciência democrática, o dever cívico, foram impactadas pela Reforma. Portanto, trata-se de um dos mais importantes acontecimentos da história.

Os Desafios de Uma Nova Reforma ( Monografia).

POR: IDAURO CAMPOS


1- Introdução:




Estamos nos aproximando do quinto centenário da Reforma Protestante. Sem dúvida, este foi um dos mais poderosos movimentos do Espírito Santo no meio da Igreja. São inegáveis as transformações profundas impingidas na sociedade a partir deste reavivamento, pois a Reforma não se fez sentir apenas na esfera religiosa. A economia, a educação, as políticas públicas de saúde e segurança, a ética do trabalho, a ética da família, a noção de vocação, o conceito de cidadania, a visão de Estado, a consciência democrática, o dever cívico, foram impactadas pela Reforma. Portanto, trata-se de um dos mais importantes acontecimentos da história.

A CURA DE NAAMÃ

POR: IDAURO CAMPOS


Introdução:

O Apóstolo Paulo escreveu na Epístola aos Romanos 15.4 que “tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança”. Destarte, o que Deus quer nos ensinar através das narrativas bíblicas de milagres? Quais as lições que podemos discernir e aplicar em nossos dias? Vejamos o exemplo de Naamã e aprendamos qual é a mensagem que o milagre experimentado por ele pode nos transmitir.


1- Os Milagres São Para Todos:

Naamã era um sírio que estivera em conflito com Israel (vs.2). É provável que muitos judeus que conhecessem sua história na época julgassem sua enfermidade como algo apropriado a um “pagão”. No mundo antigo enfermidades crônicas, como a lepra, eram vistas com fortes conotações religiosas. Embora todos os homens daqueles tempos, inclusive israelitas, estivessem sujeitos àquela enfermidade, não seria admirável se concluíssemos que o fato de ser de uma nação inimiga e fiel a um outro deus (Rimon) colocava Naamã sob a suspeita de que sua anomalia simbolizava o legítimo castigo imposto pelo Deus de Israel. Mas, suspeitas à parte, o que fica claro no enredo da narrativa é o livre e universal acesso que todos os homens podem ter às bênçãos de Deus. Deus é o Senhor de toda a Terra (Sl 24.1)! Ele não está atento apenas aos clamores das fileiras de pessoas que incham os templos evangélicos ao redor do mundo. Assim como Ele cura um sírio idólatra como Naamã, revelando, portanto, sua misericórdia e atenção a todos os homens, hoje também Ele permanece atento e vigilante ao que acontece a todos os que vivem sobre esse grande mundo. No episódio triste da Tsunami, em dezembro de 2004, não foram poucos os cristãos que julgaram a catástrofe como um duro castigo de Deus aos idólatras que povoam a região da Ásia. Entretanto, a perspectiva bíblica correta do fato, nos permite ver Deus não no sofrimento das mães que choravam pelos seus filhos tragados pela violência das ondas gigantes e nem das crianças que em vão chamavam pelos seus pais que nunca mais voltariam a ver, mas sim nas diversas ações humanitárias empreendidas por diversas agências cristãs que migraram para lá a fim de consolar os aflitos e ajudando-os a crer que Deus os amava e que os ajudaria a recomeçar a vida. Deus pode ser encontrado por todos! Sua benção e seus milagres são para todos! Afinal, a portentosa declaração de João é de que Deus, em Cristo, “habitou entre nós” (Jo 1.14). Ele, portanto, está conosco e nos é acessível, assim como seu poder, suas bênçãos e seus milagres! O que precisamos é de nos aproximarmos d’ Ele, pela fé em Seu Filho, Jesus Cristo.


2-Os Milagres São Operados Por Deus:

A menina samaritana que servia na casa de Naamã não faz nenhuma referência a Deus, mas sim “ao profeta que está em Samaria; ele o restauraria de sua lepra”. Creio na certeza que a menina tinha que o poder que estava sobre Eliseu vinha de Deus, logo, sua fé em Deus estava implícita em sua recomendação. Entretanto, não parece que foi assim que Naamã entendeu, pois sua questão em ser recebido por Eliseu parece denunciar isso (vs.11). Eliseu, por sua vez, não se importa em ir ao encontro do grande herói e comandante, mandando, ao invés disso, um mensageiro para lhe orientar (vs.10). A comparação que faz entre os límpidos rios de Damasco e o lamacento rio Jordão e a recusa de Eliseu vir ao seu encontro e uma expectativa teatral da performance do profeta (11-12) parecem compor as razões da indignação de Naamã e a recusa em fazer o que Eliseu lhe sugerira. Eliseu era cônscio que o poder que repousara sobre si não era seu, mas de Deus. Portanto, para o profeta o importante não era estar face a face com Naamã, porque quem agiria, afinal, seria o Senhor. Então, o que faz é transmitir a orientação certa para que o milagre da cura acontecesse. Não eram a presença de Eliseu e um gesto cinematográfico com as suas mãos que fariam a diferença, mas sim o poder do Deus que está em todo lugar vendo a tudo e a todos. Essa compreensão é fundamental em nossos dias, pois parece que os milagres de Deus hoje têm lugar, hora, e dias certos para acontecer, além gente específica para operá-los, pois muitos líderes de igrejas arrogam para si os títulos de “ungidos”, “homem de Deus” e “apóstolos” e convocam as massas miseráveis para encerrarem as fileiras de suas comunidades, declarando que se as mesmas comparecerem e fizerem as correntes e seguirem suas ordens, então, serão curadas. Comportam-se como se fossem as fontes dos milagres. Os milagres são operados por Deus. Deus é o único autor das bênçãos experimentadas pelo seu povo. O poder de Deus não reside em homem algum. Somos, à semelhança de Eliseu, apenas os seus instrumentos.


3 - Os Milagres Devem Conduzir a Mudança de Vida:

“Nunca mais oferecerá este teu servo holocaustos nem sacrifício a outros deuses, senão ao Senhor” (vs.17). Este foi o grande efeito que a cura da Naamã exerceu sobre ele. Sua conversão ao Deus de Israel foi um triunfo da graça e a demonstração reveladora que o Senhor é Deus de todos os que Ele vem ao encontro e não apenas dos judeus. Além disso, a narrativa do milagre começa apresentando Naamã como grande conquistador e termina o apresentado como conquistado por Deus. Suas credencias (vs.1) não serviram para fazer dele um homem são e piedoso. O poder de Deus foi a única força capaz de fazer isso. A experiência de Naamã denuncia a perspectiva madura frente aos milagres que muitos buscam, pois tantos pedem um milagre ao Senhor, mas quantos estão dispostos a mudar de vida? Quantos pedem a cura da enfermidade, mas encerram seus corações para a cura da alma? Quantos querem sanidade física, mas não se voltam para Deus? Quantos lutam pelo periférico, mas rejeitam o que é central e essencial? A cura de Naamã foi completa (física e espiritual). Ao mesmo tempo, a cura do comandante sírio é um estímulo para que creiamos nas obras sobrenaturais de Deus. A lepra era incurável naqueles dias e, portanto, os conhecimentos científicos e procedimentos medicinais de nada adiantariam. Naamã experimentou o poder divino. Não podemos ser tímidos quanto a esta realidade. Deus nos salva e também nos cura. Quem pode o maior também pode o menor. Às vezes, como cristãos, ficamos à vontade em orar pela salvação das pessoas, mas nem sempre pela sua cura. Essa é uma atitude estreita. Devemos crer que o Deus que derruba as barreiras de um coração incrédulo é também poderoso para operar um milagre na saúde física. Essa é uma ação madura e equilibrada dos remidos. Além disso, a enfermidade de Naamã tinha outras implicações, pois sofrê-la significava uma vida marcada pelo sofrimento, pelo preconceito e exclusão social. Mas, Deus ao curar Naamã, devolve-lhe a saúde física, à normalidade da vida, a inclusão social e a dignidade humana. A salvação bíblica é holística, ou seja, integral. Deus quando nos salva em Cristo, não só está nos levando para o céu (e isso já seria tudo, pois não há benção e nem milagre maior), mas também resgatando nossa dignidade perdida por causa do caos ocorrido no Éden. Devemos, portanto, inspirados no exemplo de Naamã, anunciar o Deus que salva espiritual, física, social e psicologicamente. O cristão é realmente uma nova criatura (2 Co 5.17).O ideal de cristão é alguém salvo, curado, inclinado para Deus, são em sua psique, disposto a se inserir na sociedade, pois as limitações que o impediam de ser alguém normal foram tiradas por Deus. Foi assim com Naamã. O mesmo pode acontecer conosco. Glórias a Deus!!! Naamã nunca mais seria o mesmo homem. É assim que acontece com todos aqueles que são visitados pelo Rei dos Reis e Senhor dos senhores. Glórias sejam a Ele!!!


Conclusão:


Milagre é uma ação exclusiva da soberania de Deus. Somente Ele pode operá-lo. Todos nós podemos ser contemplados com um milagre da parte de Deus e, na verdade, já o fomos, pois o maior e mais poderoso deles já nos aconteceu que foi o novo nascimento. Certa ocasião os discípulos de Cristo ficaram admirados pelo fato dos demônios lhes submeterem, pois fora outorgado a eles poder e a autoridade para tal. Entretanto, Jesus os insta e adverte para que devessem estar maravilhados não com a realização daquele milagre, mas, sim, pelo fato de seus nomes estarem arrolados nos céus (Lc 10.17-20). E é para lá (para o céu) que os milagres experimentados devem nos remeter, pois estes não são um fim em si mesmo. Os milagres são anúncios de que há um grande Rei que governa e sustenta com poder o universo, de que Ele tudo pode, de que não há impossíveis para Ele e de que Ele nos ama e se importa conosco a ponto de vir ao nosso encontro para sarar nossas feridas (da alma e do corpo), transformando nossa vida e nos preparando para ir morar com Ele.
Soli Deo Gloria!!!

terça-feira, 11 de maio de 2010

TROPEÇOS

Tropeços

POR: CHARLES LORETI

A vida cristã não está livre de tropeços, enganam-se quem pensa ao contrário. Quando “aceitamos” a Cristo como Senhor e Salvador de nossa alma o pecado deixa de reinar em nosso coração para dar lugar ao rei dos reis, porém, a natureza pecaminosa ainda continua em nosso interior, razão pela qual ainda existe a luta da carne contra o espírito e o espírito contra carne (Gl 5.16-24). O próprio apóstolo Paulo confidencia que o que ele não quer acaba fazendo e o que ele quer acaba não realizando (Rm 7). Tentaremos esboçar um breve discurso sobre este mistério que tanto nos incomoda, pelo menos deveria incomodar.
Recentemente li uma frase de John Owen que diz: “dê um centímetro ao pecado, e logo ele conquistará um quilômetro.”
O pecado, ou melhor, os nossos tropeços é um grande mistério. Como nós, estando mortos para o pecado ainda o praticamos? (mesmo que por descuido) Como nós sendo santos, ainda cometemos ações, palavras e pensamentos que não agradam aquele que nos convocou a sermos santos e irrepreensíveis? Temos a plena consciência de que se dermos uma única brecha, uma única oportunidade ao pecado, como diz a frase supracitada, logo ele causará um enorme estrago em nossa alma, pois a presença de Deus em nossa vida e a comunhão com ele pode ficar comprometida.
Ao mesmo tempo em que temos ódio do pecado, muitas das vezes sentimos prazer em cometê-lo quando tropeçamos. Porque isto acontece na vida daquele que uma vez morreu para o pecado? Por esta razão, os tropeços em nossa vida é um grande mistério que estamos longe de explicar com exatidão.
Aventuro-me a tentar chegar perto de uma explicação declarando que dentro de nós há um traidor (nossas vontades, nossos desejos) este encontra abrigo com a nossa natureza terrena dentro do nosso coração que juntos irão nos levar a tomar a decisão de tropeçar, que por sua vez consumado nós levará à queda e esta pode vir a ser grande e ou levar a erros irreparáveis.
No entanto, temos um antídoto muito eficaz contra este mal (nossa natureza terrena) alojado dentro de nós que é a recomendação de Jesus que diz o seguinte: “orai e vigiai para não entrardes em tentação.” (Mt 26.36) Se seguirmos este simples conselho do mestre, esta bela orientação evitaremos muitos tropeços em nossa vida cristã, pois junto com a tentação temos também o escape (1Co 10.13), basta estarmos orando e vigiando sem cessar, tendo em mente que só atingiremos o patamar da perfeição quando Cristo vier nos buscar e então, assim como ele é seremos. Mas se alguém tropeçar temos um advogado junto ao pai (1Jo 2.1) que com seu antídoto infalível (sangue de Cristo) perdoa nossos tropeços nos purificando (1Jo 1.9), vale lembrar que os tropeços são inesperados, acidentais e não uma ação já premeditada.
Portanto precisamos mortificar a carne, deixar o que é profano, buscar uma vida de santidade se relacionando com o sagrado. Que o Eterno nos abençoe com paz!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

OS DESIGREJADOS

OS DESIGREJADOS

POR: AUGUSTUS NICODEMUS LOPES


Para mim resta pouca dúvida de que a igreja institucional e organizada está hoje no centro de acirradas discussões em praticamente todos os quartéis da cristandade, e mesmo fora dela. O surgimento de milhares de denominações evangélicas, o poderio apostólico de igrejas neopentecostais, a institucionalização e secularização das denominações históricas, a profissionalização do ministério pastoral, a busca de diplomas teológicos reconhecidos pelo estado, a variedade infindável de métodos de crescimento de igrejas, de sucesso pastoral, os escândalos ocorridos nas igrejas, a falta de crescimento das igrejas tradicionais, o fracasso das igrejas emergentes – tudo isto tem levado muitos a se desencantarem com a igreja institucional e organizada.

Alguns simplesmente abandonaram a igreja e a fé. Mas, outros, querem abandonar apenas a igreja e manter a fé. Querem ser cristãos, mas sem a igreja. Muitos destes estão apenas decepcionados com a igreja institucional e tentam continuar a ser cristãos sem pertencer ou frequentar nenhuma. Todavia, existem aqueles que, além de não mais frequentarem a igreja, tomaram esta bandeira e passaram a defender abertamente o fracasso total da igreja organizada, a necessidade de um cristianismo sem igreja e a necessidade de sairmos da igreja para podermos encontrar Deus. Estas idéias vêm sendo veiculadas através de livros, palestras e da mídia. Viraram um movimento que cresce a cada dia. São os desigrejados.

Muitos livros recentes têm defendido a desigrejação do cristianismo (*). Em linhas gerais, os desigrejados defendem os seguintes pontos.

1) Cristo não deixou qualquer forma de igreja organizada e institucional.

2) Já nos primeiros séculos os cristãos se afastaram dos ensinos de Jesus, organizando-se como uma instituição, a Igreja, criando estruturas, inventando ofícios para substituir os carismas, elaborando hierarquias para proteger e defender a própria instituição, e de tal maneira se organizaram que acabaram deixando Deus de fora. Com a influência da filosofia grega na teologia e a oficialização do cristianismo por Constantino, a igreja corrompeu-se completamente.

3) Apesar da Reforma ter se levantado contra esta corrupção, os protestantes e evangélicos acabaram caindo nos mesmíssimos erros, ao criarem denominações organizadas, sistemas interligados de hierarquia e processos de manutenção do sistema, como a disciplina e a exclusão dos dissidentes, e ao elaborarem confissões de fé, catecismos e declarações de fé, que engessaram a mensagem de Jesus e impediram o livre pensamento teológico.

4) A igreja verdadeira não tem templos, cultos regulares aos domingos, tesouraria, hierarquia, ofícios, ofertas, dízimos, clero oficial, confissões de fé, rol de membros, propriedades, escolas, seminários.

5) De acordo com Jesus, onde estiverem dois ou três que crêem nele, ali está a igreja, pois Cristo está com eles, conforme prometeu em Mateus 18. Assim, se dois ou três amigos cristãos se encontrarem no Frans Café numa sexta a noite para falar sobre as lições espirituais do filme O Livro de Eli, por exemplo, ali é a igreja, não sendo necessário absolutamente mais nada do tipo ir à igreja no domingo ou pertencer a uma igreja organizada.

6) A igreja, como organização humana, tem falhado e caído em muitos erros, pecados e escândalos, e prestado um desserviço ao Evangelho. Precisamos sair dela para podermos encontrar a Deus.

Eu concordo com vários dos pontos defendidos pelos desigrejados. Infelizmente, eles estão certos quanto ao fato de que muitos evangélicos confundem a igreja organizada com a igreja de Cristo e têm lutado com unhas e dentes para defender sua denominação e sua igreja, mesmo quando estas não representam genuinamente os valores da Igreja de Cristo. Concordo também que a igreja de Cristo não precisa de templos construídos e nem de todo o aparato necessário para sua manutenção. Ela, na verdade, subsistiu de forma vigorosa nos quatro primeiros séculos se reunindo em casas, cavernas, vales, campos, e até cemitérios. Os templos cristãos só foram erigidos após a oficialização do Cristianismo por Constantino, no séc. IV.

Os desigrejados estão certos ao criticar os sistemas de defesa criados para perpetuar as estruturas e a hierarquia das igrejas organizadas, esquecendo-se das pessoas e dando prioridade à organização. Concordo com eles que não podemos identificar a igreja com cultos organizados, programações sem fim durante a semana, cargos e funções como superintendente de Escola Dominical, organizações internas como uniões de moços, adolescentes, senhoras e homens, e métodos como células, encontros de casais e de jovens, e por ai vai. E também estou de acordo com a constatação de que a igreja institucional tem cometido muitos erros no decorrer de sua longa história.

Dito isto, pergunto se ainda assim está correto abandonarmos a igreja institucional e seguirmos um cristianismo em vôo solo. Pergunto ainda se os desigrejados não estão jogando fora o bebê junto com a água suja da banheira. Ao final, parece que a revolta deles não é somente contra a institucionalização da igreja, mas contra qualquer coisa que imponha limites ou restrições à sua maneira de pensar e de agir. Fico com a impressão que eles querem se livrar da igreja para poderem ser cristãos do jeito que entendem, acreditarem no que quiserem – sendo livres pensadores sem conclusões ou convicções definidas – fazerem o que quiserem, para poderem experimentar de tudo na vida sem receio de penalizações e correções. Esse tipo de atitude anti-instituição, antidisciplina, anti-regras, anti-autoridade, antilimites de todo tipo se encaixa perfeitamente na mentalidade secular e revolucionária de nosso tempo, que entra nas igrejas travestida de cristianismo.

É verdade que Jesus não deixou uma igreja institucionalizada aqui neste mundo. Todavia, ele disse algumas coisas sobre a igreja que levaram seus discípulos a se organizarem em comunidades ainda no período apostólico e muito antes de Constantino.

1) Jesus disse aos discípulos que sua igreja seria edificada sobre a declaração de Pedro, que ele era o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16.15-19). A igreja foi fundada sobre esta pedra, que é a verdade sobre a pessoa de Jesus (cf. 1Pd 2.4-8). O que se desviar desta verdade – a divindade e exclusividade da pessoa de Cristo – não é igreja cristã. Não admira que os apóstolos estivessem prontos a rejeitar os livre-pensadores de sua época, que queriam dar uma outra interpretação à pessoa e obra de Cristo diferente daquela que eles receberam do próprio Cristo. As igrejas foram instruídas pelos apóstolos a rejeitar os livre-pensadores como os gnósticos e judaizantes, e libertinos desobedientes, como os seguidores de Balaão e os nicolaítas (cf. 2Jo 10; Rm 16.17; 1Co 5.11; 2Ts 3.6; 3.14; Tt 3.10; Jd 4; Ap 2.14; 2.6,15). Fica praticamente impossível nos mantermos sobre a rocha, Cristo, e sobre a tradição dos apóstolos registrada nas Escrituras, sem sermos igreja, onde somos ensinados, corrigidos, admoestados, advertidos, confirmados, e onde os que se desviam da verdade apostólica são rejeitados.

2) A declaração de Jesus acima, que a sua igreja se ergue sobre a confissão acerca de sua Pessoa, nos mostra a ligação estreita, orgânica e indissolúvel entre ele e sua igreja. Em outro lugar, ele ilustrou esta relação com a figura da videira e seus galhos (João 15). Esta união foi muito bem compreendida pelos seus discípulos, que a compararam à relação entre a cabeça e o corpo (Ef 1.22-23), a relação marido e mulher (Ef 5.22-33) e entre o edifício e a pedra sobre o qual ele se assenta (1Pd 2.4-8). Os desigrejados querem Cristo, mas não querem sua igreja. Querem o noivo, mas rejeitam sua noiva. Mas, aquilo que Deus ajuntou, não o separe o homem. Não podemos ter um sem o outro.

3) Jesus instituiu também o que chamamos de processo disciplinar, quando ensinou aos seus discípulos de que maneira deveriam proceder no caso de um irmão que caiu em pecado (Mt 18.15-20). Após repetidas advertências em particular, o irmão faltoso, porém endurecido, deveria ser excluído da “igreja” – pois é, Jesus usou o termo – e não deveria mais ser tratado como parte dela (Mt 18.17). Os apóstolos entenderam isto muito bem, pois encontramos em suas cartas dezenas de advertências às igrejas que eles organizaram para que se afastassem e excluíssem os que não quisessem se arrepender dos seus pecados e que não andassem de acordo com a verdade apostólica. Um bom exemplo disto é a exclusão do “irmão” imoral da igreja de Corinto (1Co 5). Não entendo como isto pode ser feito numa fraternidade informal e livre que se reúne para bebericar café nas sextas à noite e discutir assuntos culturais, onde não existe a consciência de pertencemos a um corpo que se guia conforme as regras estabelecidas por Cristo.

4) Jesus determinou que seus seguidores fizessem discípulos em todo o mundo, e que os batizassem e ensinassem a eles tudo o que ele havia mandado (Mt 28.19-20). Os discípulos entenderam isto muito bem. Eles organizaram os convertidos em igrejas, os quais eram batizados e instruídos no ensino apostólico. Eles estabeleceram líderes espirituais sobre estas igrejas, que eram responsáveis por instruir os convertidos, advertir os faltosos e cuidar dos necessitados (At 6.1-6; At 14.23). Definiram claramente o perfil destes líderes e suas funções, que iam desde o governo espiritual das comunidades até a oração pelos enfermos (1Tm 31-13; Tt 1.5-9; Tg 5.14).

5) Não demorou também para que os cristãos apostólicos elaborassem as primeiras declarações ou confissões de fé que encontramos (cf. Rm 10.9; 1Jo 4.15; At 8.36-37; Fp 2.5-11; etc.), que serviam de base para a catequese e instrução dos novos convertidos, e para examinarem e rejeitarem os falsos mestres. Veja, por exemplo, João usando uma destas declarações para repelir livre-pensadores gnósticos das igrejas da Ásia (2Jo 7-10; 1Jo 4.1-3). Ainda no período apostólico já encontramos sinais de que as igrejas haviam se organizado e estruturado, tendo presbíteros, diáconos, mestres e guias, uma ordem de viúvas e ainda presbitérios (1Tm 3.1; 5.17,19; Tt 1.5; Fp 1.1; 1Tm 3.8,12; 1Tm 5.9; 1Tm 4.14). O exemplo mais antigo que temos desta organização é a reunião dos apóstolos e presbíteros em Jerusalém para tratar de um caso de doutrina – a inclusão dos gentios na igreja e as condições para que houvesse comunhão com os judeus convertidos (At 15.1-6). A decisão deste que ficou conhecido como o “concílio de Jerusalém” foi levada para ser obedecida nas demais igrejas (At 16.4), mostrando que havia desde cedo uma rede hierárquica entre as igrejas apostólicas, poucos anos depois de Pentecostes e muitos anos antes de Constantino.

6) Jesus também mandou que seus discípulos se reunissem regularmente para comer o pão e beber o vinho em memória dele (Lc 22.14-20). Os apóstolos seguiram a ordem, e reuniam-se regularmente para celebrar a Ceia (At 2.42; 20.7; 1Co 10.16). Todavia, dada à natureza da Ceia, cedo introduziram normas para a participação nela, como fica evidente no caso da igreja de Corinto (1Co 11.23-34). Não sei direito como os desigrejados celebram a Ceia, mas deve ser difícil fazer isto sem que estejamos na companhia de irmãos que partilham da mesma fé e que crêem a mesma coisa sobre o Senhor.

É curioso que a passagem predileta dos desigrejados – “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.20) – foi proferida por Jesus no contexto da igreja organizada. Estes dois ou três que ele menciona são os dois ou três que vão tentar ganhar o irmão faltoso e reconduzi-lo à comunhão da igreja (Mt 18.16). Ou seja, são os dois ou três que estão agindo para preservar a pureza da igreja como corpo, e não dois ou três que se separam dos demais e resolvem fazer sua própria igrejinha informal ou seguir carreira solo como cristãos.

O meu ponto é este: que muito antes do período pós-apostólico, da intrusão da filosofia grega na teologia da Igreja e do decreto de Constantino – os três marcos que segundo os desigrejados são responsáveis pela corrupção da igreja institucional – a igreja de Cristo já estava organizada, com seus ofícios, hierarquia, sistema disciplinar, funcionamento regular, credos e confissões. A ponto de Paulo se referir a ela como “coluna e baluarte da verdade” (1Tm 3.15) e o autor de Hebreus repreender os que deixavam de se congregar com os demais cristãos (Hb 10.25). O livro de Atos faz diversas menções das “igrejas”, referindo-se a elas como corpos definidos e organizados nas cidades (cf. At 15.41; 16.5; veja também Rm 16.4,16; 1Co 7.17; 11.16; 14.33; 16.1; etc. – a relação é muito grande).

No final, fico com a impressão que os desigrejados, na verdade, não são contra a igreja organizada meramente porque desejam uma forma mais pura de Cristianismo, mais próxima da forma original – pois esta forma original já nasceu organizada e estruturada, nos Evangelhos e no restante do Novo Testamento. Acho que eles querem mesmo é liberdade para serem cristãos do jeito deles, acreditar no que quiserem e viver do jeito que acham correto, sem ter que prestar contas a ninguém. Pertencer a uma igreja organizada, especialmente àquelas que historicamente são confessionais e que têm autoridades constituídas, conselhos e concílios, significa submeter nossas idéias e nossa maneira de viver ao crivo do Evangelho, conforme entendido pelo Cristianismo histórico. Para muitos, isto é pedir demais.

Eu não tenho ilusões quanto ao estado atual da igreja. Ela é imperfeita e continuará assim enquanto eu for membro dela. A teologia Reformada não deixa dúvidas quanto ao estado de imperfeição, corrupção, falibilidade e miséria em que a igreja militante se encontra no presente, enquanto aguarda a vinda do Senhor Jesus, ocasião em que se tornará igreja triunfante. Ao mesmo tempo, ensina que não podemos ser cristãos sem ela. Que apesar de tudo, precisamos uns dos outros, precisamos da pregação da Palavra, da disciplina e dos sacramentos, da comunhão de irmãos e dos cultos regulares.

Cristianismo sem igreja é uma outra religião, a religião individualista dos livre-pensadores, eternamente em dúvida, incapazes de levar cativos seus pensamentos à obediência de Cristo.
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NOTA:
(*) Podemos mencionar entre eles: George Barna, Revolution (Revolução), 2005; William P. Young, The Shack: a novel (A Cabana: uma novela), 2007; Brian Sanders, Life After Church (Vida após a igreja), 2007; Jim Palmer, Divine Nobodies: shedding religion to find God (Joões-ninguém divinos: deixando a religião para encontrar a Deus), 2006; Martin Zener, How to Quit Church without Quitting God (Como deixar a Igreja sem deixar a Deus), 2002; Julia Duin, Quitting Church: why the faithful are fleeing and what to do about it (Deixando a Igreja: por que os fiéis estão saindo e o que fazer a respeito disto), 2008; Frank Viola, Pagan Christianity? Exploring the roots of our church practices (Cristianismo pagão? Explorando as raízes das nossas práticas na Igreja), 2007; Paulo Brabo, Bacia das Almas: Confissões de um ex-dependente de igreja (2009).

sexta-feira, 7 de maio de 2010

TETELESTAI!

TETELESTAI!

POR: IDAURO CAMPOS.

“TETELESTAI!”

“... havendo riscado o escrito de dívida, que era contra nós nas suas ordenanças, o qual de alguma maneira nos era contrário, e o tirou do meio de nós, cravando-o na cruz...”
Colossenses 2:14


“TETELESTAI” é uma expressão grega que pode ser traduzida como “está consumado”, “totalmente pago” ou “dívida cancelada”. No século I, quando um criminoso era preso, seus delitos eram registrados em um papiro conhecido como “cédula de dívida” ou “escrito de dívida”. Ao cumprir a pena e chegando a ocasião de sua liberdade, o juiz responsável pela soltura do condenado, riscava a cédula, especialmente na parte onde os crimes estavam apontados, e, no rodapé, escrevia TETELESTAI. Pronto! O indivíduo não devia mais nada à justiça. Estava livre da condenação e, agora, poderia desfrutar da paz e da liberdade.
O apóstolo Paulo se apropria desta figura jurídica para nos transmitir a profundidade do alcance da obra redentora de Cristo, pois como pecadores que somos, contra nós também há uma “cédula de dívida”, a saber, uma série de transgressões cometidas ao longo da vida. Esta cédula constitui-se em um poderoso instrumento de acusação. Ela nos silencia, nos humilha, pois não há como contradizê-la, não há como negá-la. Nela se registram todas as nossas maldades, todas as nossas mentiras, toda perversidade que praticamos. Ela aponta para a destruição dos que ali constam (Ap.20:12). Entretanto, o apóstolo Paulo declara que Cristo “riscou o escrito de dívida, tirando-o do meio de nós, cravando-o na cruz”. Ou seja, Jesus Cristo com sua morte vicária (substitutiva), pagou a dívida que tínhamos para com Deus. Vale a pena lembrar que na cruz do Calvário, segundo o Evangelho de João (19:30), Cristo declarou “Está consumado!”(TETELESTAI), sendo, inclusive, sua derradeira palavra.
Consumado! Totalmente pago! Esta é a nossa verdadeira situação em Cristo no que consiste a satisfação da justiça divina. Não importa o que tenhamos feito. Não importa a extensão e a gravidade do nosso pecado, em Cristo Jesus “nenhuma condenação há” (Rm. 8:1). Portanto, quando lembranças ruins de um passado distante ou recente surgirem e nos sentirmos culpados e ameaçados em nossa paz, basta nos lembrarmos do que Cristo fez por nós. Basta nos lembrarmos da sua última palavra proferida a nosso respeito: TETELESTAI! Todos os nossos pecados foram perdoados pelo precioso sangue do Senhor Jesus Cristo. Sangue este que riscou a cédula que nos era contrária, nos livrando da condenação de uma vez por todas. De uma vez para sempre!
É comum encontrarmos cristãos inseguros quanto ao fato de se sentirem plenamente perdoados por Deus. Alguns têm a impressão de que precisam orar mais uma vez para, quem sabe, serem realmente perdoados pelo Senhor. Porém, as Escrituras Sagradas não nos orienta a “sentir o perdão” de Deus e, sim a crer que, em Cristo, Ele já nos perdoou. Portanto, não é uma questão de sentimento, mas sim de fé na pessoa de Jesus Cristo e na eficácia da obra que Ele realizou. Outra questão que também atormenta alguns irmãos é o receio de que, dependendo do que fizeram no passado, estes precisam “quebrar alguma maldição” ou “anular algum pacto”, pois, do contrário, sempre estarão sujeitos a alguma investida de satanás e poderão ter algum tipo de influência maligna em suas vidas. Assim, para tais, a qualquer momento, o diabo poderá vir “cobrar a fatura” sendo, portanto, necessário participar de algum culto ou corrente de libertação. Esta prática, embora comum, principalmente em comunidades neopentecostais, é estranha ao ensino da Escritura Sagrada. Paulo, afirma que a dívida foi cancelada, além disso, no versículo 15 do capítulo 2 da carta aos Colossenses, o apóstolo insiste que “tendo despojado os principados e as potestades, os expôs publicamente ao desprezo, e deles triunfou na cruz...” Se no versículo 14, Paulo utiliza uma cena jurídica, como já dissemos acima, neste ele usa uma realidade militar bastante conhecida na época, pois quando duas nações entravam em guerra, era comum o exército vencedor trazer ao seu território o exército vencido e, numa cerimônia pública, os soldados derrotados tinham suas roupas e demais pertences retirados até ficarem completamente nus. Este despojamento tinha o objetivo de humilhar o inimigo derrotado, demonstrando que estava totalmente subjugado. É exatamente isto que Paulo está ensinando aos crentes de Colossos! Cristo derrotou e humilhou o diabo, despojando-o de toda e qualquer autoridade que tinha para nos acusar, tentar e prejudicar. Cristo fez dos seus inimigos, o “estrado de seus pés” (Ef. 1:20-22). Não precisamos temer o diabo. Ele está derrotado, despojado e humilhado pelo Senhor Jesus Cristo. A dívida está paga! TETELESTAI!!!

Todos os nossos pecados foram perdoados! Que coisa boa! Todas as nossas maldições foram levadas à cruz e ali aniquiladas (Isaias 53). Que maravilha! Estamos livres! Livres para viver a plenitude da vida de Cristo. A Ele, e somente a Ele, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o poder pelos séculos dos séculos, Amém!!! (Ap.5:13).


Solo Christus!!!
Soli Deo Gloria!!!

A Impaciência de Jó

A IMPACIÊNCIA DE JÓ

POR: IDAURO CAMPOS

"Porque não morri ao nascer? Por que não expirei ao sair do ventre? [...] ou por que não fui oculto no chão como um aborto, como uma criança que nunca viu a luz?" (3:11, 16)



Pobre Jó! O homem cuja paciência é tão citada e admirada, na verdade, por muitas vezes a perdeu completamente. É tola a tentativa moderna de querer transformar Jó num sofredor resignado. Ele nunca o foi. É verdade que em um momento declarou: "O Senhor deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor" (1:21), mas também é verdade que em outros momentos ele reclamou de Deus: "Clamo a Ti, ó Deus, mas não me respondes; ponho de pé, mas para mim não atentas. Tomas-te Cruel para comigo; com a força da tua mão me atacas" (30:20, 21).

Jó não compreendia o que estava acontecendo, afinal tudo aquilo não tinha lógica. "Porque estou sofrendo?". Era o seu conflito. O homem de Uz que no passado considerava-se protegido e guiado por Deus, que era farto e próspero e cuja vida fora respeitada por jovens, anciãos, príncipes, pobres, viúvas, órfãos, necessitados, estrangeiros, além de ser temido pelos inimigos (29: 1-25).Ora, este homem que outrora tão importante e destacado fora, no presente amarga o desprezo de muitos que o conhecia (30:1-31).Jó, que estava sendo provado por Deus, não suportando seu sofrimento amaldiçoa o próprio nascimento: "Pereça o dia em que nasci, e a noite em que se disse: Foi concebido um homem!" (3:3).

Jó sentia-se afligido por Deus, sentia-se entrincheirado sem ter por onde escapar. Vejamos a sua agonia:

"Sabei que Deus é quem me oprimiu, e com sua rede me cercou. Embora eu clame: Violência! Não sou ouvido; embora grite por socorro, não há justiça. O meu caminho Ele entrincheirou, e não posso passar; nas minhas veredas pôs trevas. Da minha honra me despojou, e tirou da minha cabeça a coroa; quebra-me de todas os lados e eu me vou; arranca a minha esperança, como a uma árvore. Faz inflamar contra mim a sua ira, e me considera como um de seus inimigos.


Juntas vêm as suas tropas; preparam contra mim os seus caminhos, e se acampam ao redor da minha tenda. Pôs longe de mim a meus irmãos; os que me conhecem tornaram-se estranhos para mim. Os meus parentes me abandonaram; os conhecidos se esqueceram de mim. Os meus domésticos e as minhas servas me têm por estranho; vim a ser estrangeiro aos seus olhos. Chamo a meu criado, e ele não me responde; tenho de suplicar com a minha boca. O meu hálito é intolerável à minha mulher; sou repugnante a meus próprios irmãos. Até os pequeninos me desprezam; levantando -me eu falam contra mim. Todos os que eu amava se tornaram contra mim" (19:6-19). Estas não são palavras de um homem equilibrado, paciente e resignado, e sim de alguém totalmente furioso e esgotado, à beira do precipício emocional. Ele sentia-se injustiçado por Deus, abandonado pelos amigos e parentes, incompreendido por Elifaz, Bildade e Zofar que não fizeram outra coisa senão acusá-lo. O rancor tomou conta de seu coração: " Por que não morri?"Sua pergunta reflete a sua ira, sua inconformidade e seu desespero.


Gosto desse Jó! Pois seu drama é semelhante aos nossos no que diz respeito à incapacidade de reagir com serenidade aos conflitos da vida, principalmente quando sua causa é sem sentido e misteriosa.

Gosto de Jó porque ele não finge um estado de contentamento; gosto de Jó porque ele

não tem medo de expor sua raiva e discordância quanto aos eventos trágicos que lhe sobrevieram; gosto de Jó porque ele não é um holograma, uma miragem, uma abstração; gosto de Jó porque ele é humano; gosto de Jó porque ele sabe chorar e sentir dor; gosto de Jó porque ele se revolta; gosto de Jó porque ele não passa um verniz espiritual em seu rosto; gosto de Jó porque ele é sincero com Deus e Deus o entende; gosto de Jó porque ele se parece comigo; gosto de Jó não por causa de sua paciência e sim pela sua impaciência, sua luta com Deus, seu desabafo e seus desaforos. Jó esperava "grandes coisas" da parte de Deus e, quando, ao invés dessas grandes coisas, o que veio foi derrota, morte, luta, prostração e dor, ele se fere, assim como acontece também conosco. Gosto de Jó porque me identifico com ele, pois sua reação é parecida com a de milhares de crentes que também choram e sangram machucados com as provações que encaram no caminho da fé.


Jó é um belo e clássico exemplo de que as Escrituras Sagradas não omitem a fragilidade dos eleitos de Deus. A Palavra de Deus expõe tanto a virtude como a fraqueza dos homens de fé. Se as Escrituras apresentassem apenas um Jó concentrado, calmo, paciente e esperançoso, ele seria inatingível do ponto de vista humano. Ele seria inaccessível à maioria dos mortais e, com certeza, seu testemunho nos envergonharia, pois ficaríamos decepcionados conosco por não conseguirmos reproduzir sua reação heróica.

Precisamos aprender a lidar com a nossa humanidade, pois é a nossa natureza; com os nossos erros, pois os cometemos; com as nossas dúvidas, pois as temos, afinal como disse Philip Yancey, "onde não houver espaço para dúvida, também não haverá espaço para fé". Precisamos entender que Deus não retira o seu favor quando não alcanço o ideal cristão de comportamento (se é que existe algum).A nossa forma de olhar para os nossos irmãos, infelizmente, ainda é católico-romana e não judaico-protestante. O catolicismo romano insiste na idéia de santos que viveram uma vida sem pecado enquanto estiveram na terra. A tradição judaico-protestante, no entanto, à luz das Escrituras, reconhece os modelos de fé sem, contudo, lhes tirar a humanidade, a fraqueza e a dúvida. O autor de Hebreus, por exemplo, no capítulo 11, não titubeia em apresentar um bêbado, um mentiroso, um trapaceiro, um covarde, um lascivo, um adúltero e assassino, uma prostituta (entre outros), como homens e mulheres de fé grandiosa, mas que em algum momento de suas vidas, por circunstâncias diversas, fracassaram na conduta moral, e, ainda assim, Deus os amava.


As Escrituras poderiam apresentar muito bem um Jó distante do sofrimento e imune a própria revolta, porém sendo "O Livro de Deus", o apresenta como realmente é: santo e pecador; paciente e impaciente; resignado e descontrolado; cheio de fé e esvaziado dela.

A vida de Jó mais do que um exemplo é um consolo, pois revela um Deus amigo e misericordioso que compreende o destempero humano. É digno de nota que Deus, quando enfim entra no debate com Jó, não o acusa (38:2-41:34). Deus o repreende, mas não o condena. Apesar da explosão de ira e das acusações feitas por Jó, Deus não o maltrata, pois conhecia o seu servo querido, sabia que as duras palavras proferidas partiam de um coração cansado por tanta dor e desprezo. Deus conhece a nossa estrutura (Salmos 103:14).
Jó tentou, mas não conseguiu reagir com fé e temperança todo o período da crise. Ele falhou, mas Deus não se importou com suas falhas. A opinião de Deus a nosso respeito não muda quando fracassamos. É claro que a proposta de Deus para nós é uma vida de retidão; Deus não se agrada do pecado. Entretanto, quando erramos Ele está no mesmo lugar onde sempre esteve oferecendo perdão e a chance para recomeçar. Ele nos ama e o que nos basta é a sua graça (2 Co. 12:9). Fiquemos com o sábio conselho do jovem Eliú quando insistiu com Jó a confiar na maravilhosa graça e no perdão de Deus:

"" Pequei e perverti o direito, mas não fui punido como merecia. Deus livrou minha alma de ir para a cova, e viverei para ver a sua luz. Tudo isto é obra de Deus, duas a três vezes para o homem, para desviar a sua alma da perdição para que a luz da vida brilhe sobre ele" (33:27-30).

Jó saiu de sua provação com uma nova impressão de Deus; o Senhor agora lhe era real: "com os ouvidos ouvira falar de Ti, mas agora te vêem os meus olhos. Por isso me abomino, e me arrependo no pó e na cinza" (42:5-6). Jó compreendeu pela experiência que Deus é a fortaleza dos fracos, o refúgio dos cansados; aprendeu que até os retos e íntegros também sofrem; aprendeu que mesmo que sejamos infiéis Ele permanece fiel; aprendeu que na nossa impaciência, Ele mantém sua paciência conosco; aprendeu que mesmo na dor podemos encontrar a Deus; aprendeu que é na escuridão que a luz de Deus mais faz sentido para nós e aprendeu que Deus propõe um caminho para o homem e que Ele não recua enquanto os seus não chegam do outro lado (42:2).
Tudo isto Deus faz com homens que nada mais são do que vasos de barro; podem ser de honra, como Jó, mais ainda assim, são de barro; que são de valor, como Jó, mas podem se quebrar, se rachar, se ferir, como Jó. Sim, vasos de barro. Sempre vasos de barro, "para que a excelência do poder seja de Deus e não nossa" (2Co. 4:7). Amém!!!