quarta-feira, 21 de julho de 2010

TEOLOGIA EUCARÍSTICA

“E perseveravam (...) no partir do pão” (Atos 2.42).


POR: IDAURO CAMPOS.


Introdução:

O artigo definido o que aparece antes da expressão “partir do pão” no original grego do Novo Testamento (em nossa Bíblia em português temos a contração da preposição em com o artigo o = no), não apenas indica uma refeição entre amigos, mas sim uma refeição mais sublime e específica. A referência é à celebração da Ceia do Senhor, onde, através do partir do pão, a vida, o sacrifício, a morte e a ressurreição do Senhor Jesus Cristo eram lembrados. Quais os ensinamentos que a celebração da Ceia transmitia aos crentes primitivos? Por que o rito tornara-se fundamental?



“Por que todas às vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor até que Ele venha” (1 Coríntios 11.26).



1 – A Celebração era um emblema do Sacrifício e Morte do Senhor Jesus Cristo:

Ao partir o pão na celebração da Ceia, realizada, inicialmente, em todas as noites de encontros entre os discípulos e, posteriormente, no primeiro dia da semana (Atos 20.7), os cristãos estavam trazendo à memória de todos os que participavam daqueles cultos domésticos, o valor central que o sacrifício e a morte de Jesus tinham em suas vidas. Cristo partilhou sua vida por amor de muitos, morrendo e derramando seu sangue na cruz do calvário para que n’ Ele tivéssemos vida eterna. O Senhor se apresentou aos discípulos como o Pão da Vida que nos alimentaria espiritualmente (João 6.35), mas este alimento somente seria possível mediante seu sacrifício vicário (substitutivo) realizado no Calvário. É a morte de Cristo que nos garante a redenção. Somos salvos de toda a condenação porque Cristo morreu em nosso lugar. Sem a expiação do Cordeiro de Deus, a salvação não seria possível.

A Igreja Primitiva entendeu a centralidade da morte de Cristo tão grandemente que se reunia para a Ceia com um claro senso de reverência e gratidão ao Senhor que por ela se entregou. Isso foi um poderoso testemunho naqueles dias! Quando nos reunimos para celebrar a Ceia, não podemos nos esquecer do lugar central que a morte de Cristo tem em nossa adoração. Foi entre dores e gemidos na cruz que Jesus proferiu sua famosa frase “Tetelestai” (está consumado), em João 19.30. O plano de salvação dos pecadores havia chegado ao seu clímax. Era o fim de toda condenação contra nós (Cl 2.14-15)! Isso trouxe, além de temor e respeito, gozo indizível aos crentes que, através do rito externo do partir do pão, anunciavam a todos o que Jesus fizera por eles. Através da morte de Jesus, Deus, o Pai, provara aos homens que os amava e se importava e que, através de Seu Filho, veio resgatá-los e levá-los para casa (Rm 5.8). Ninguém jamais ouvira falar de tamanho amor! A morte de um produzira vida a muitos. A Ceia significava tudo isso. Os discípulos entenderam. O mundo se espantou!!!

2 – A Celebração da Ceia era um emblema da Ressurreição do Senhor Jesus Cristo:

Não era apenas a morte de Cristo que estava sendo anunciada na celebração da Ceia, mas também sua ressurreição, afinal Ele era “o Pão Vivo que desceu do céu” (João 6.51) e todo aquele que comesse d’ Ele, viveria eternamente. A Ceia do Senhor apontava para o maravilhoso evento da ressurreição. Quando Jesus aparece pela última vez aos seus discípulos, já ressuscitado, eles fizeram sua última refeição com pão e peixe (João 21. 12-14). Os discípulos sabiam que um dia estariam novamente com o Senhor. Sabiam que as bodas do Cordeiro os aguardavam (Ap 19.7,9). Sabiam que a morte não pôde detê-lo na sepultura. Uma grande festa esperava por eles (Ap 19.1-8), por isso celebravam sua vitória e aguardavam sua vinda, anunciada também no momento da Santa Ceia. Esta é a razão pela qual a Ceia não deve ser um culto triste, pesado e enfadonho, mas sim, celebrado com brados, aleluias e muita alegria, pois Cristo venceu a grande inimiga dos homens, a morte. O apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos 8.17, lembra-nos que somos filhos de Deus e, como tais, temos uma herança a receber, a vida eterna. Além disso, Paulo, na mesma carta, também traz à memória que certamente seremos ressuscitados, assim como o Mestre (Rm 6.5). Em Cristo a vida eterna, o grande sonho dos homens, se tornou realidade. Solo Christus!!! Soli Deo Glória!!!


3- A Ceia do Senhor era um lembrete de sua volta.


Jesus Cristo prometeu voltar para buscar os seus discípulos (João 14.3). Eles ouviram a promessa do seu retorno através do próprio Mestre e também da boca de anjos (At 1.10 e 11). Não precisariam ficar temerosos quanto ao caos deste mundo. Tampouco as violentas perseguições não os assustariam, pois, um dia, estariam todos reunidos novamente com Ele. Todos novamente se sentariam para um grande banquete. O apóstolo Paulo discerniu esta verdade e exortou os crentes de Corinto a celebrarem a ceia tendo em vista a vinda do Mestre (1 Co 11.26). “Até que Ele venha”. É a esperança e ardente expectativa que o apóstolo partilha com seus irmãos em Corinto. Morte, ressurreição e segunda vinda são as realidades espirituais celebradas na ceia do Senhor que despertam reverência, alegria e expectativa e que são vivenciadas por todos aqueles que amam ao Senhor. Foi assim na igreja primitiva. É assim também em nossos dias.

Conclusão:

O partir do pão era um grande momento para a igreja. Havia lutas e dificuldades que estavam sobrevindo à igreja (At 8.1; Hb 10.32-39), mas, apesar destas, os crentes perseveravam na celebração do rito que lhes lembrava o que Jesus fizera por amor a eles, da promessa que herdariam o Reino de Deus e que seriam novamente reunidos diante do Pai. Assim, a igreja convenceu a muitos que Cristo era o Caminho. Enquanto, os incrédulos romanos e as autoridades religiosas de Israel achavam que tinham vencido a batalha contra Jesus e que sua morte frustraria e dispersaria seus seguidores, o que aconteceu foi justamente o contrário. A morte de Cristo os uniu. A morte de Cristo os inspirou. Foi um espanto e um escândalo para a sociedade da época que não conseguia entender como a morte de um simples carpinteiro executada da forma mais vexatória e humilhante que o mundo até então conhecia, poderia suscitar tanta vida, interesse, alegria, esperança, unidade, amor, comunhão entre os homens. Pelo testemunho da igreja, a sociedade entendeu que a morte de Cristo não foi o fim. Quem dera todos os nossos cultos de Santa Ceia fossem tão cheios de beleza, conteúdo e significado como eram os daqueles dias!

Nenhum comentário:

Postar um comentário