segunda-feira, 21 de março de 2011

Em Defesa da Igreja de Cristo.

Por: Idauro Campos.

Em Atos 11.29 vemos pela primeira vez a ocorrência do termo “presbíteros” (anciãos) nas Escrituras Sagradas, evidenciando, portanto, a existência de uma liderança eclesiástica, além dos apóstolos, ainda nos tempos da igreja primitiva. Além disso, no capítulo 14.23, somos informados que Paulo e Barnabé, promoviam “em cada igreja a eleição de presbíteros”. Mesmo antes, em 6.1-6, precursores do diaconato foram escolhidos e receberam, inclusive, a imposição de mãos como ato litúrgico de ordenação (vs. 6).

Na primeira epístola a Timóteo (que estava liderando a igreja em Éfeso), o apóstolo Paulo o lembra de que sua vocação fora reconhecida pelos presbíteros e que estes impuseram-lhe as mãos (4.14). E, na carta aos efésios (4.11), Paulo apresenta os distintos ofícios ministeriais que estariam a serviço da edificação da igreja.

Três fatos ficam claros aqui: a) igrejas eram fundadas; b) lideranças (os presbíteros) eram constituídas; c) tais lideranças eram confirmadas em ato litúrgico (a imposição de mãos). Destarte, é evidente o absurdo contemporâneo de questionar a validade da necessidade das igrejas locais e dos líderes eclesiásticos (pastores, presbíteros e diáconos). Por onde Paulo, Silas, Barnabé e outros passaram em suas investidas missionárias, organizaram igrejas locais, onde os objetivos eram a adoração (oração e celebração da ceia), leitura e estudo da Palavra e a comunhão dos santos. O paradigma era a Igreja de Jerusalém: perseveravam no ensino, na comunhão, nas orações e no partir do pão (Atos 2.42).

É desonestidade intelectual afirmar que a igreja cristã é apenas um fenômeno sociológico e que nunca fora planejada por Deus e por Jesus Cristo.

As razões pelas quais as igrejas não construíram templos, se dão por razões históricas (como a perseguição religiosa judaica e, posteriormente, a perseguição política praticada pelo Império Romano) e não por razões teológicas, como os críticos do cristianismo afirmam. A igreja visível é a expressão da igreja invisível. Portanto, são patéticos os ataques dirigidos a igreja institucional. Esta apenas revela no tempo e no espaço a união daqueles que foram chamados pelo Espírito Santo à fé em Cristo Jesus (1 Co 1.2). A igreja local expressa o mistério do chamado irresistível do Espírito Santo. Ou seja, revela historicamente o Corpo de Cristo: a Igreja. Nada mais do que isso! O resto é papo!

As crises da igreja contemporânea não são justificativas para que a abandonemos, como alguns apregoam. As igrejas neotestamentárias e mesmo a igreja em Jerusalém (primitiva) também eram comunidades complicadas. Os episódios de Ananias e Safira em Atos 5.1-11 e a briga entre os helenistas e os hebreus em Atos 6. 1-2, são exemplos disso. A igreja de Corinto era carnal (divisões, pecados sexuais, litígios, desordem no culto, discriminação social, abusos no exercício dos dons etc), a de Colosso estava caindo em heresia. A da Galácia estava ficando legalista. A de Éfeso vivia em crise, a ponto de Paulo ter que encorajar seu pastor, o jovem Timóteo. Entretanto, Paulo, em nenhum momento, em quaisquer de suas cartas, recomenda a deserção como equação para os problemas das igrejas. Ao contrário, o apóstolo, escrevendo aos coríntios por exemplo, os lembra de que foram chamados à santidade ( 1 Co 1.2). Ou seja, a santificação e não a deserção é o caminho apontado pelas Escrituras Sagradas para a superação dos problemas vividos pelas comunidades cristãs. Há, ainda, outros exemplos nas Escrituras, como a extravagante igreja de Laodiceia (Ap 3.14-21). Tais comunidades de fé funcionavam em casas e eram igrejas jovens, com pouco tempo de fundação e com poucas pessoas congregando, mas já enfrentavam suas complexidades, pois para problemas surgirem não são necessárias muitas pessoas juntas. Afinal, no Éden eram apenas Adão e Eva e deu no que deu! Semelhantemente, nos dias de Noé, entre seus filhos, e em casa, um pecado é praticado (Gn 9.22-28), assim como na vida de Ló, onde refugiado apenas com suas duas filhas, um incesto, contra sua vontade, é praticado, dando origem a duas nações que se tornaram inimigas do povo de Deus (Gn 19. 30-38).

Portanto, abandonar o templo, alegando que reuniões em casas são mais saudáveis, intimistas e bíblicas é puro simplório. Até podem ser intimistas, mas duvido que sejam necessariamente mais saudáveis e não há nenhuma orientação apostólica quanto ao lugar de adoração. Podendo ser em templos, em casas ou em qualquer outro lugar. Não devemos sacralizar o templo, mas, demonizá-lo, também é ridículo.

Na verdade a tendência contemporânea de discursar contra a igreja (que, aliás, já virou um lugar comum), não leva em conta que tal postura é reflexo do relativismo da pós-modernidade, que questiona valores, conceitos, ideologias, modelos e também instituições. Tudo que foi consagrado no e pelos anos é posto em dúvida na pós-modernidade. É neste contexto que a decepção com a igreja institucionalizada surge. Tanto que não é apenas a instituição igreja que é questionada, mas até a formação do Cânon e doutrinas como a Trindade, verdadeiros pilares da fé cristã, são postas em dúvida por muitos dos críticos da igreja.

Considerar que um simples CNPJ e um templo de alvenaria minam o vigor espiritual da Igreja de Cristo é valorizar demais tais expedientes, como se os mesmos pudessem afugentar a Trindade.

Há exagero, portanto, nos que pregam o fim da história da igreja. É necessário fazer distinção entre organismo vivo e a instituição igreja, mas em tal distinção, não se pode esquecer que a última, nada mais é que a expressão histórica da primeira.

Viva a Igreja de Cristo!!!

Soli Deo Glória!!!

Um comentário:

  1. Prezado Rev. Idauro Campos.
    Sua postagem foi muito boa, pertinente e coerente. Estão jogando a Igreja no limbo comum das instituições, e com ela as Sagradas Doutrinas da fé. Que se questione sim, os que se passam por "igreja", não obstante não podemos desconsiderar algumas práticas de comunhão cultual, desda a Ceia em Memória do Senhor, na comunhão dos santos, até a necessidade física da reunião formal com o objetivo da manutenção da fé.

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