sexta-feira, 1 de outubro de 2010

MESSIANISMOS NO PROTESTANTISMO BRASILEIRO

POR: CLayton Guerreiro

INTRODUÇÃO


As propostas messiânicas não são novas. De tempos em tempos surgem certos líderes com ideais e utopias, declarando-se representantes da divindade e prometendo que, como portadores de mensagem divina, farão cessar as injustiças e diferenças entre os integrantes do reino a ser instaurado. Lísias Nogueira Negrão ressalta que o messianismo “diz respeito à crença em um salvador, o próprio Deus, ou seu emissário, e à expectativa de sua chegada, que porá fim à ordem presente, tida como iníqua ou opressiva, e instaurará uma nova era de virtude e justiça” . Ainda, segundo Henri Desroche, “o messianismo está embasado na espera”. Ou seja, há um ideal de esperança propalado pelo novo messias, que satisfaz os anseios dos seus ouvintes e consequentes adeptos.
Há que se ressaltar que o surgimento do conceito de messias pode ser visto em diversas religiões, mas no contexto da religião israelita a ideia se sistematizou. Para Maria Isaura Pereira de Queiroz, “o messias é o personagem concebido como um guia divino que deve levar o povo eleito ao desenlace natural do desenrolar da história, isto é, à humilhação dos inimigos e ao restabelecimento de um reino terreno e glorioso para Israel.” Diz ainda que, “A vinda deste reino coincidirá com o ‘fim dos tempos’ e significará o restabelecimento do Paraíso na terra”.
Na concepção de Paulo Romeiro e André Zanini, o surgimento do messianismo ou de alguma ideia messiânica são é proposital, mas está relacionado ao inconsciente coletivo, onde o messias encontra ambiente propício, surgindo assim reação e desencadeamento do movimento .
O presente trabalho não tem por propósito descobrir movimentos religiosos protestantes que reúnam todas as características de messianismo. Contudo, tenciona encontrar alguns destes elementos no protestantismo brasileiro. Para tal proposta, serão examinados os casos dos Muckers, da Igreja Só o Senhor é Deus (SOSED), da Fazenda Canaã, empreendimento ligado à Igreja Universal do Reino de Deus(IURD) e A Igreja Mundial do Poder de Deus.


1 Mucker: O caso clássico de Messianismo entre os protestantes de imigração


O caso mais explícito de ocorrência de messianismo entre os protestantes remete-nos ao século XIX. Conhecido como Revolta dos Muckers, o movimento remonta aos episódios ocorridos no Morro do Ferrabrás, na atual cidade de Sapiranga, Rio Grande do Sul. Os colonos que povoavam aquela região eram oriundos da Alemanha. No tocante à religião, a metade dos imigrantes era composta de católicos e, a outra metade, de protestantes luteranos. Muitos estudiosos consideram este como o único caso típico de messianismo ocorrido entre os protestantes brasileiros.
O principal nome deste movimento foi Jacobina Mentz Maurer, filha de André Mentz e Maria Elizabeth Müller. Nascida na cidade de Hamburgo Velho, no Rio Grande do Sul, dividiu a liderança do movimento com seu marido João Jorge Maurer .
Conta-se que Jacobina, no período de sua infância, mais especificamente, por volta dos doze anos de idade, começou a ter momentos de êxtase. Em seus transes, tinha o poder de realizar curas sobrenaturais. Ao constatarem as primeiras convulsões, seus pais foram aconselhados por um médico a procurarem um casamento, a fim de resolver tais problemas. É curioso, entretanto, que as núpcias contraídas, mais tarde, apenas ajudaram-na a levar adiante a execução de seus poderes e curas e o fortalecimento de seu movimento.
Em dado momento, passou a se identificar como reencarnação feminina de Cristo. Suas pregações incluíam a expectativa de instauração da Cidade de Deus, através dos seus poderes. A inofensividade da menina Jacobina fora transformada em ameaça para o poder constituído, após seu casamento com João Maurer. Este último era um carpinteiro de boa índole e trabalhador. Juntos, eles fundaram um movimento que conseguiu arrebanhar muitas pessoas.
Nota-se que, enquanto as ações de Jacobina eram apenas no campo do curandeirismo e das manifestações extáticas, o movimento não sofreu muitas represálias. Todavia, quando o casal começou a fazer uma interpretação pessoal da bíblia, as relações com as instituições religiosas tornaram-se bastante tensas. A partir da interpretação própria do texto, começaram a incentivar seus adeptos a abandonarem as igrejas. Agora, os sermões dos clérigos foram postos em xeque, os pais começaram a educar os seus filhos fora dos círculos eclesiásticos.
Martin Dreher recorre aos escritos do pastor Rotermund e sugere que Jacobina utilizava-se dos métodos alegóricos para a interpretação do texto. Sua hermenêutica consistia numa interpretação peculiar do texto bíblico. “Quando não conseguia mais sincronizar sua interpretação com o texto bíblico, apresentava sua “leitura” como profecia, procurando dar a entender que Deus estaria falando por sua boca”. Ou seja, suas profecias, dadas em transe, ganhavam um status de canônicas. A adesão ao movimento, de cunho estritamente religioso, segundo Dreher, tornou-se cada vez mais intensa. Pessoas de boa índole e bem vistas, até então, nos lugares onde o movimento acontecera, eram atraídas pelo poder de persuasão de Jacobina.
Contudo, apesar do sucesso do movimento, a oposição começou a crescer. A hostilidade intensificou-se deveras. Os ânimos começaram a acirrar-se e a intolerância fora sendo evidenciada nos ataques pessoais aos integrantes do movimento. As investidas contra os seguidores de Jacobina apenas fomentavam as interpretações extraoficiais de Jacobina.
Dreher também recorre à opinião de outro pastor, Johann Caspar Schmierer, que atuou naquela região onde ocorreram os episódios supracitados. O pastor Schimierer reforça a opinião de que os integrantes do movimento eram pessoas íntegras, interessadas numa espécie de reavivamento, mas introduz um outro elemento, não salientado por Rotermund. Segundo ele, o movimento possuía um cunho social-político. É possível que seja uma caracterização do movimento como sendo de resistência. A descrição do movimento é feita nos seguintes termos:

O breve relato de Schmierer dá-nos a seguinte caracterização do grupo de Jacobina: ‘Os ‘Muckers’ não desenvolveram um credo próprio e não tinham nenhum sistema doutrinal desenvolvido; interpretavam a Bíblia e o que não interpretavam, deitavam nela. No mais, os difamados dedicavam-se a uma vida cristã silenciosa e tornaram-se, com isso, consciência ambulante dos fariseus e escribas presunçosos da Fazenda Leão e vizinhança’ .

Até que em maio de 1873, João Maurer e Jacobina são presos. Mas, após constatação de inocência, soltos novamente. Após trocas de acusações e denúncias, tanto por parte dos simpatizantes quanto pelos contrários ao movimento, explode a onda violência em junho de 1874. Os episódios que se seguem são sangrentos, com mortes, inclusive de mulheres e crianças. Em 02 de agosto de 1874, após alguns combates anteriores, acontece o último confronto de forças legais contra os Muckers, inclusive com a morte de Jacobina. Porém, o último caso de morte envolvendo os Muckers acontece em 3 de janeiro de 1898.

2 Messianismo milenarista na Igreja Mundial Só O Senhor é Deus


O período que antecedeu a chegada dos anos 2000 foi de grande expectativa. E esta ansiedade coletiva estendeu-se por grande parte dos religiosos brasileiros. Nem todos, porém foram tão longe como Alécio Miranda Leal. O líder mundial e fundador da Igreja Mundial Só O Senhor profetizou uma possível volta de Jesus Cristo e um inevitável arrebatamento dos seus fieis entre o Natal e o dia 31 de dezembro de 1999.
Localizada na cidade de Maringá, região norte do Paraná, a referida igreja teve o seu início através do trabalho do missionário Miranda Leal, como é conhecido o líder religioso. Desde a fundação da SOSED, as profecias do missionário servem de base para a tomada de decisões. As curas, por ele realizadas, e o poder de manipulação do sobrenatural apontam para uma semelhança com as lideranças messiânicas. Além disso, Proença notou uma grande similaridade entre as práticas religiosas ocorridas na sede da SOSED e as práticas do catolicismo popular e dos cultos no baixo espiritismo. Dentre as quais, registrem-se as romarias, os objetos sagrados, o pagamento de promessas. Neste ponto, Proença segue René Ribeiro, ao falar que estes elementos estão “muito presentes em práticas de messianismo, ‘quando a visão de mundo de um povo trabalha com a iminência do cataclismo, ou com um fim apocalíptico acompanhada da expectativa da chegada de um Messias que guiará os crentes até o paraíso."
Proença acompanhou de perto algumas das reuniões e acompanhou a histeria coletiva que ocorria nos encontros em que o missionário “realizava milagres”, ouvia os testemunhos de cura, com vistas à confirmação de sua vocação messiânica.
Todavia, o prestígio do “profeta de Deus” foi terrivelmente abalado por conta do não cumprimento de seu mais famoso vaticínio. No segundo semestre do ano de 1999, o nome de Miranda Leal esteve em evidência em grande parte da mídia do norte do Paraná. O objetivo da utilização dos meios de comunicação, tais como rádio, televisão, jornais, era anunciar com detalhes o fim do mundo. Os fatos também despertaram a atenção das autoridades que, nos dias marcados para o cumprimento profético, enviaram policiais para ficarem de plantão nas proximidades do templo, temendo uma possível tragédia, como um suicídio coletivo. Alguns fatos já vistos em outros movimentos messiânicos foram notados entre os fiéis da SOSED, na medida em que se aproximava o fim do ano de 1999:

“Como já ocorrera com outros movimentos messiânicos, os fiéis chegaram a vender os seus bens ou fizeram doação dos mesmos à igreja; pais retiraram os seus filhos da escola e abandonaram o trabalho, aguardando aquilo que seria o “apocalipse”. Na grande concentração que realizou no mês de abril de 1999, Leal fez questão de ressaltar que aquele seria o último ajuntamento de todas as suas igrejas antes do encontro final com Jesus Cristo, que se daria no final daquele mesmo ano.”

Contudo, a frustração advinda profecia não cumprida veio acompanhada de outros elementos. Descobriu-se que o “missionário” havia deixado o país cerca de uma semana antes da data marcada para o cumprimento da profecia. O líder da SOSED foi acusado de vender bens da igreja que estavam em seu nome e de sua família, de sacar parte dos seis milhões de reais que a igreja tinha em suas contas bancárias.
Todavia, o missionário não desistiu de suas tarefas messiânicas. Após retornar ao Brasil, e ser afastado da presidência da igreja definitivamente, explicou que suas profecias não se cumpriram para que outras pessoas tivessem oportunidade de salvação. E, em agosto de 2000, fundou uma nova Igreja, por nome de “Jerusalém de Deus”. O missionário continua arrebanhando centenas de fieis e divulgando suas crenças e mensagens aos milhares de fieis que continuam ao seu lado. Conforme Proença, “Leal já conseguiu reconquistar grande parte de seus fiéis, constatando, assim, “que continua sendo para os seus seguidores um profeta taumaturgo, portador de um carisma que, emblematicamente, caracteriza os líderes messiânicos.”




3 Fazenda Nova Canaã: um milenarismo universal

A Igreja Universal do Reino de Deus é uma das igrejas que mais cresce no Brasil. E não somente em território nacional, mas tem alcançado diversos países ao redor do mundo com suas propostas de cura, milagres e prosperidade. A IURD tem sido vista como uma das maiores representações do novo pentecostalismo , suas expressões de culto despertam a atenção dos estudiosos como fenômeno religioso e social de grande vulto. As ações da IURD, entretanto, têm extrapolado os limites dos templos religiosos. Assim, empresas, rádios, canais de televisão, revistas, jornais, imóveis são parte integrante dos bens das IURD.
Um desses empreendimentos é a Fazenda Nova Canaã. Ao tratar da FNC, Luciano Modes, pontua certas características comuns com a extinta Canudos. Em seu trabalho, ele cita pontos importantes que ajudam associar a FNC aos reinos milenaristas. Sonhos e utopias existentes no inconsciente coletivo, ajudam a construir os reinos milenaristas . Ainda nesta tentativa de associação, é importante ressaltar que Canudos e a Fazenda Nova Canaã estão localizadas em regiões bem próximas . A partir desta semelhança geográfica, segundo Modes, é possível fazer uma associação entre as utopias e sonhos que caracterizam as duas empreitadas.
Construída por meio de campanhas promovidas pelo senador e bispo da IURD, Marcelo Crivella, a FNC desperta novamente os ideais existentes na pequena sociedade dirigida por Antonio Conselheiro. Num lugar de extrema pobreza, abandonado pelo governo institucionalizado, são despertadas as ideias de que um novo tempo, caracterizado pela prosperidade e abundância chegariam ao semi-árido nordestino. No caso de Antonio Conselheiro, uma fase emblemática caracteriza esta esperança utópica. O líder de Canudos afirmara que “O mar vai virar sertão e o sertão vai virar mar” . A cidade de Irecê, carente de intervenção do poder público no auxílio às pessoas carentes foi a escolhida para a construção da fazenda. Diferentemente de Canudos, construída no século 19, onde a agricultura era tipicamente braçal, e a adesão do movimento era de pessoas extremamente pobres, a FNC funciona com tecnologia avançada e conta com o apoio milionário da IURD.
Ao fazer esta ponte entre ambos os episódios, Modes sugere que a memória dos episódios ocorridos em Canudos continua viva. Portanto, o projeto da Fazenda Nova Canaã sustenta uma espécie de esperança de retorno. Segundo ele, “Com a FNC, a IURD pôde aproveitar o passado fatídico de Irecê, seu presente de pobreza e os sonhos acumulados para reconstruir um projeto com feições milenaristas. Pretende aproximar o mito da realidade.” Sendo assim, a IURD se constitui numa espécie de atravessadora de sonhos. Nas palavras de Modes “Ao construir a Fazenda Nova Canaã onde construiu, a Universal está aproximando os que buscam do que é buscado, como um atravessador. A IURD é a intermediária ou mediadora entre os sonhos e esperanças e o povo.”
Esta leitura da IURD como intermediária dos sonhos e conquistas já foram apontados como José Rubens L. Jardilino. Ao tratar da fé como “investimento seguro”, ele afirma que “É a igreja – enquanto espaço centralizador da vida religiosa – que assume esse papel de mediadora do pacto que cada fiel estabelece com Deus no plano de sua vida financeira”.
Modes assevera ainda que

“(...)é possível afirmar que essa colonização do inconsciente é uma tentativa da Igreja Universal ocupar o lugar deixado por Canudos no sonho por dias melhores por parte de uma parcela dos sertanejos. É claro que, como “patrocinadora” desta nova proposta com feições milenaristas, a IURD não apenas é sua mantenedora, mas também aquela que demarcará os limites desse reino de Deus aqui na terra. Ao mesmo tempo em que Universal quer fazer crer que esse é, verdadeiramente, um reino milenarista – pela maneira como foi fundada, pela inversão da realidade, pela roupagem com que é apresentada – ela é ainda um excelente produto de marketing a ser apresentado a toda a sociedade. Mas isso não é o mais difícil, afinal essa é a Igreja Universal do Reino de Deus, o mais bem sucedido empreendimento religioso do Brasil e detentora de um império de comunicações.”



4 Traços messiânicos na Igreja Mundial do Poder de Deus


A Igreja Mundial do Poder de Deus é mais um caso de movimento religioso com crescimento extraordinário. Assim como ocorreu com outras denominações neopentecostais, tais como a IURD, a IMPD chama cada vez mais a atenção dos estudiosos de sociologia e ciências da religião. Destacam-se nesta empreitada os nomes de Ricardo Bitun, André Zanini e Paulo Romeiro. Os dois últimos, todavia, conseguiram enxergar traços dos movimentos de messianismo na IMPD e em sua liderança.
A Igreja Mundial do Poder de Deus é resultado da dissidência de Waldemiro Santiago de Oliveira com a IURD. O Apóstolo, como ele é chamado, atuou durante um período no continente africano mas, ao retornar ao Brasil, decidiu romper com a antiga denominação. As discordâncias com sua antiga igreja o fizeram iniciar a IMPD no interior do estado de São Paulo, juntamente com outros pastores dissidentes e seus familiares.
Apesar do início acanhado do trabalho, apenas dezesseis pessoas participaram da primeira reunião, a nova igreja foi se expandindo e hoje constitui-se como um dos grandes expoentes do neopentecostalismo brasileiro.
As doutrinas, as práticas administrativas e o escalonamento hierárquico se assemelham bastante aos outros grupos neopentecostais. No tocante às questões hierárquicas, Alexandre Carneiro de Souza apresenta-nos que:

“O topo da hierarquia é o espaço mais tenso no campo das relações no pentecostalismo, e nisto não difere de outras igrejas e outras expressões organizadas de crença. As tensões que afetam a comunidade dos fieis diferem do tipo de tensão que envolve o comportamento dos líderes entre si”

Esta disputa é evidenciada nas suas conflituosas relações com outros líderes religiosos, cujas maneiras de atuação se assemelham deveras. Ênfase na solução dos problemas, libertações, prosperidade. Entretanto, existem diferenças entre a IMPD e as maiores denominações neopentecostais, suas concorrentes no mercado da fé, tais como Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus. Enquanto o pentecostalismo clássico enfatizava os dons espirituais, mui especialmente a glossolalia, os movimentos surgidos em meados do século XX priorizavam as curas divinas . Contudo, o surgimento do neopentecostalismo, trouxe uma maior ênfase nas áreas de libertação e prosperidade.
Waldemiro faz um caminho de retorno às práticas da chamada segunda onda do neopentecostalismo. Ou seja, com um discurso de ruptura com a “Teologia da Prosperidade”, seu foco de atuação são as curas divinas. E, ao mesmo tempo, não perde oportunidade para atacar suas concorrentes no mercado da fé, conforme observa-se a seguir,

“O Apóstolo Waldemiro rebate veementemente a confissão positiva, ao mesmo tempo em que parece apreciá-la. Em vários programas de televisão que acompanhamos ele conclamou os incrédulos e os que já não tem mais fé a se dirigirem às suas reuniões desafiando-os: “Se você não tem fé para ser curado, venha pela minha fé. Aqui você não precisa determinar, não precisa trazer sal grosso, venha pela minha fé” .

Os traços mais marcantes da identificação de Waldemiro como “um messias” estão nas suas falas sobre a proeminência de sua igreja sobre outras. Segundo ele, seu ministério é o resgate das práticas ocorridas nos tempos de Jesus e dos apóstolos. O evangelho pregado em outros arraiais estariam corrompidos e a atuação da IMPD e do apóstolo seriam a possibilidade de restauração.
O carisma de Waldemiro é algo que chama a atenção. Os fieis acreditam piamente que Deus o levantou como grande taumaturgo. Não existem doenças que resistam às orações e a fé do homem de Deus. A crença dos fieis no poder do apóstolo é tão intensa que as toalhinhas, distribuídas como elementos mágicos para os crentes, servem para enxugar o suor do apóstolo. Os crentes se avolumam e se espremem apenas esperando tocar o apóstolo, a fim de que a virtude existente nele seja transferida para realizar milagres.
Bitun cita que Waldemiro trabalho as duas teologias da primeira e da segunda onda do pentecostalismo,
Da teologia da cura divina resgatou o imaginário primeiro do pentecostalismo, colocando a cura divina como sua principal produção e oferta de bem religioso. Da teologia da saúde e prosperidade aprendeu as técnicas mercadológicas e organizacionais(...).”

CONCLUSÃO

Os casos clássicos de messianismo em terras brasileiras geralmente surgiram em ambientes católicos. A exceção fora citada neste trabalho, os Muckers, cujos acontecimentos remontam ambientes protestantes. Vale salientar que o referido caso, ora tratado como um caso clássico de messianismo entre os protestantes possui feições muito semelhantes com o que ocorre no chamado movimento neopentecostal. Note-se a ênfase demasiada nas curas, revelações, visões e liderança impositiva. Além de uma liderança fortemente carismática, com um traço inusitado para a época e atualmente comum nos movimentos neopentecostais, uma mulher exercia o poder ao lado de seu cônjuge.
Alguns autores , ao analisarem os ambientes neopentecostais, conseguem vislumbrar neste movimento elementos e pressupostos típicos dos messianismos. Deve-se ressaltar que certas características do neopentecostalismo diferem, em alguns aspectos, dos casos históricos do messianismo. Os messianismos do século 19 ou da primeira metade do século 20 são forjados com uma perspectiva muito mais voltada para a vivência comunitária. Enquanto os neopentecostais tendem a exercerem a fé de maneira individualista. Posto que, as ligações com as agências de fé são meramente mercadológicas. Somem-se a isto outros fatores, cujas descrições tornar-se-iam por demais delongadas para a proposta do trabalho ora desenvolvido.
Foram pontuados três empreendimentos neopentecostais, a saber, a “Igreja Mundial Só o Senhor é Deus”, no norte do Paraná, o caso da “Fazenda Nova Canaã”, empreendimento pertencente à Igreja Universal do Reino de Deus e a emergente “Igreja Mundial do Poder de Deus”. Nestas observações conclui-se que nem todos os elementos encontrados nos casos mais conhecidos do messianismo se encontram presentes nos arraiais neopentecostais. Ou seja, os casos ocorridos nos ambientes neopentecostais não se configuram como casos típicos dos messianismos e movimentos milenaristas, mas algumas características podem ser notadas e associadas a estas igrejas






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BONINO, Jose Miguez. Rostos do Protestantismo Latino-Americano. Trad. Luís Marcos Sander. São Leopoldo,RS: Sinodal, 2002.155 p.

JARDILINO, José Rubens L. Sindicato dos mágicos: Um Estudo da Caso da Eclesiologia Neopentecostal. São Paulo: CEPE, 1993. 50 p.

LANDIM, Leilah (org.). Sinais dos tempos: Igrejas e seitas no Brasil. Rio de Janeiro: ISER, 1989. 112 p.

MENDONÇA. Antônio Gouvêa e VELASQUES FILHO, Prócoro. Introdução ao protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 2 ed., 2002. 279 p.

ROMEIRO, Paulo e ZANINI, André. Suor, Carisma e Controvérsia: Igreja Mundial do Poder de Deus. São Paulo: Candeia, 2009. 146 p.

SOUZA, Alexandre Carneiro de. Pentecostalismo: de onde vem, para onde vai?Um desafio às leituras contemporâneas da religiosidade brasileira. Viçosa: Ultimato, 2004. 152 p.

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 3. Ed. São Paulo: Pioneira,1985.

MENEZES, Jonathan. As Metamorfoses do Sagrado no Portestantismo Brasileiro: O caso da Igreja Presbiteriana Independente Filadélfia Londrina (1972-2008). 2009. Dissertação(Mestrado em História) Centro de Letras e Ciência Humanas, da Universidade Estadual de Londrina – UEL, Londrina, 2009.

BITUN, Ricardo. A “remasterização” do movimento pentecostal Igreja Mundial do Poder de Deus. Ciberteologia – Revista de Teologia & Cultura – Ano III, n.23.

MENDONÇA, Antônio Gouveia. O protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas. Revista USP, São Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/novembro 2005.


MODES, Luciano. Assim na terra como no céu: Fazenda Nova Canaã, arquitetura de um milenarismo. Revista Oracula, São Bernardo do Campo, v. 2, n. 3, 2006.

NEGRÂO, Lísias Nogueira. Revisitando o messianismo no Brasil e profetizando seu futuro. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Vol. 16. Nº 46.

PROENÇA, Wander de Lara. Entre leituras e representações: um caso de messianismo milenarista no Norte do Paraná. Revista de História Regional 8(1): 121-138, Verão 2003.

RIBEIRO, Lidice Meyer Pinto. O protestantismo brasileiro: objeto em estudo. Revista USP, São Paulo, n.73, p. 117-129, março/maio 2007.

STEFANO, Marcos. Nos bastidores da Igreja Mundial do Poder de Deus. Revista ECLÉSIA. Ed. 126, 2008.

DREHER, Martin N. O movimento Mucker na visão de dois pastores evangélicos. Protestantismo em Revista, ano 02, n. 01, mai.-ago. 2003. Disponível em: http://www.est.edu.br/nepp. Acesso em 06/09/10, às 20:30hs.

SCHULTZ, Adilson. Descrição cronológica do episódio Mucker. Protestantismo em Revista Volume 02, jan.-dez. de 2003. Disponível em: http://www3.est.edu.br/nepp. Acesso em: 17/09/10, às 09:24 hs.

_________, Adilson. Bibliografia Mucker comentada. Protestantismo em Revista, ano 02, n. 01, mai.-ago. 2003. Disponível em: http://www.est.edu.br/nepp. Acesso em 17/09/10, às 09:38 hs.

SANT’ANA, Elma. Jacobina: a líder dos Mucker. Protestantismo em Revista, ano 02, n. 01, mai.-ago. 2003. Disponível em: http://www.est.edu.br/nepp. Acesso em 17/09/10, às 09:41 hs.

Nenhum comentário:

Postar um comentário