sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Sebastianismo

POR: Vilobaldo da Silva Santos

Introdução

D. Sebastião, rei de Portugal nascido em 1554, cujo desaparecimento, cercado de mistérios, na batalha de Alcacácer – Quibir em 1578, gerou a crença denominada sebastianismo, segundo a qual D.Sebastião ainda estaria vivo e voltaria para libertar Portugal do jugo espanhol .É o que veremos no desenvolvimento desta trabalho-pesquisa que ora empreitamos. Posteriormente, o sebastianismo voltaria a aparecer em períodos históricos críticos, configurando uma espécie de messianismo, de esperança na vinda de um redentor. No Brasil,no século xix,viajantes e memorialistas registraram casos de pessoas que se diziam enviadas por D.Sebastião,prenunciando sua vinda para estabelecer o paraíso terrestre.Atualmente,o mito sebastianista está presente em festas e crenças populares,especialmente no Nordeste.


D.Sebastião

D.Sebastião nasceu em Lisboa em 20 de janeiro de 1554.Filho póstumo do príncipe D. João de Bragança,herdeiro do trono português,foi coroado rei aos três anos de idade e durante a durante a menoridade ficou sob a tutela do cardeal D.Henrique,seu tio-avô paterno, e da avó,D.Catarina.Educado austeramente pelos jesuítas,logo demonstrou concentrar seus interesses nas artes da guerra e da conquista e ter como grande ambição a vitória sobre os mulçumanos para a glória do cristianismo.

Ascendeu ao trono em 1568 e,contrariando a política do país,deu início ao projeto de criar um império português no norte da África e combater os mouros em nome de Cristo.Em 1574 comandou uma primeira expedição contra o Marrocos e em 1578,à frente de um exército de mais de 15.000 homens,desembarcou novamente no litoral marroquino.Na batalha de Alcácer-Quibir,no dia 4 de agosto,os portugueses foram esmagados pelas forças superiores do sultão Abd-al-Malik e D.Sebastião desapareceu misteriosamente em combate.

A morte do rei,que não tinha herdeiros,facilitou a anexação de Portugal pela Espanha em 1580. O domínio espanhol,que se prolongou por sessenta anos,alimentou a lenda de que o jovem rei sobrevivera e voltaria para libertar seu povo.Entre 1584 e 1598 surgiram pelo menos quatro impostores que diziam ser o desaparecido monarca,mas todos foram desmascarados e executados.O mito sebastianista sobreviveu por três séculos como símbolo do nacionalismo português.


Sebastianismo

Difundido numa época e num país em que a crendice religiosa multiplicava vaticínios e presságios divinos,o mito português do sebastianismo faz parte de uma extensa galeria de lendas medievais.Por circunstâncias específicas,prolongou-se por mais de três séculos e encontrou adeptos no Brasil durante a colônia e o império.

Sebastianismo é uma forma particular de messianismo desenvolvida em Portugal,em torno da crença de que o rei D. Sebastião não teria morrido na batalha de Alcácer-Quibir,travada contra os mouros em 1578,e regressaria para de novo ocupar o trono e fundar um império universal,sob a égide portuguesa.Depois o termo no sentido mais amplo,no qual o personagem de caráter messiânico não tinha uma identificação única e era apenas chamado “o escoberto”.Sempre traduziu,porém,a esperança no surgimento de um salvador,uma figura mítica que imporia uma nova ordem política e social.

Ocupam lugar central no messianismo português as profecias de Gonçalo Anes Bandarra,o sapateiro cujas trovas sobre a vinda de um rei “encoberto”,que fundaria um império universal,foram difundidas por cristãos-novos em Portugal.Suspeito de judaísmo,Bandarra foi condenado pela Inquisição e suas trovas proibidas.A figura do “encoberto”,identificado com o messias hebraico,teve grande popularidade entre judeus e cristãos-novos,que no século XVI formavam um quinto da população portuguesa.

A partir do final do século XVI,o mito,de origem essencialmente popular,passou a ser utilizado e manipulado com intuitos políticos antagônicos.Considerado ao mesmo tempo aristocrático e plebeu,liberal e absolutista,miguelista e republicano,futurista,saudosista e reacionário,exaltado pelos restauradores,perseguido pela Inquisição e pela polícia de Pombal,o sebastianismo não é fenômeno de fácil apreensão sem uma visão comparativa que leve em conta as manifestações milenaristas e messiânicas e a importância social das utopias.



Sebastianismo na Literatura


Presença constante na literatura portuguesa,de Almeida Garret a nossos dias,o sebastianismo tornou-se,desde a interpretação de Almeida Martins,um termo polêmico na cultura portuguesa contemporânea.Martins viu nele a “manifestação do gênio natural íntimo da raça”,da “alma lusitana” frente à derrocada do império e das instituições tradicionais.Outros autores,como Duarte Leite e Joel Serrão,criticam essa interpretação do ponto de vista racionalista e sociológico e enquadram o fenômeno nas condições históricas da sociedade potuguesa em que se formou. A persistência dessas condições explicaria a excepcional duração do fenômeno.



Sebastianismo no Brasil


No Brasil,o sebastianismo manifestou-se nas camadas camponesas e coexistiu com elementos ainda mais antigos,transplantados por colonos europeus,como a lenda de Carlos Magno e dos Doze Pares da França.A mais antiga manifestação sebastianista registrada no país data do séculoXVII e ocorreu em São Paulo.Outras se repetiram em diversos estados do sul,sudeste e nordeste.

Datam do século XIX pernambucano as expressões mais intensas do sebastianismo.Na serra do Rodeador,Silvestre dos Santos pregou o regresso de D.Sebastião e fundou,em 1819,a cidade do Paraíso Terral,destruída em 1820 pelas autoridades locais;e em 1833,João Antônio dos Santos proclamou que D.Sebastião se achava encantado na Pedra Bonita (hoje Pedra do Reino,em Vila Bela,Pe) e ali fundou um reino com um grupo de seguidores.O grupo,que segundo versões oficiais praticava sacrifícios humanos,foi dizimado por uma tropa policial.A história serviu de tema aos romances Pedra Bonita (1938),de José Lins do Rêgo,e romance da Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do vai-e-volta (1971), de Ariano Suassuna.Outra grande manifestação do sebastianismo no Brasil encontra-se no movimento de Canudos,na Bahia,em torno de Antônio Conselheiro.

Conclusão

Em 4 de agosto de 1578,a derrota potuguesa frente aos mouros na batalha de Alcácer-Quibir deu início a um dos mais dramáticos períodos da história de Portugal.À perda do rei seguiu-se a perda da independência para a Espanha durante sessenta anos e fez brotar,dos poros da sociedade sujeitada,a crença na volta de um rei salvador para redimir o reino de suas dores e pecados.Acatada como esperança plausível tão logo foi recebida a notícia do desastre,a busca dos corpos de D.Sebastião e dos integrantes de seu exército foi dando lugar a um ritual de espera que ganhou a imaginação do povo e os textos dos letrados,espalhou-se pelas vilas e ruas do reino e ganhou o nome de sebastianismo.

Ao contrário do que queria acreditar o povo,D.Sebastião teve morte triste e inglória.Deixou o mundo lavado em sangue,com estocadas no peito e a cabeça esfacelada a golpes de maça.Carregado como troféu de guerra,o cadáver foi mandado embalsamar pelo novo xerife que assumiu o Marrocos.Anos mais tarde,Felipe de Espanha pagou alto preço pelo resgate do corpo.

Também a vergonha do povo,aliada à esperança de que surgisse um salvador milagroso,criou o mito do sebastianismo.Decerto ele haveria de voltar.E ninguém nunca foi tão desejado quanto ele.


Bibliografia


Este trabalho foi composto por trechos dos seguintes livros:

1. Enciclopédia do Conhecimento Essencial do Reader’s Digest Brasil Ltda-1998.



2. Grande Enciclopédia Barsa – 3ªed- São Paulo:

Barsa Planeta Internacional ltda, 2004.

3. Roriz,Aydano, 1949

O Desejado / Aydano Roriz

Ediouro, 2002

4. Hermann, Jaqueline

No reino do Desejado : A construção do sebastianismo em Portugal

(séculos XV e XVII) / Jaqueline Hermann – São Paulo :

Companhia das Letras, 1998.

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