terça-feira, 13 de abril de 2010

E A IGREJA EVANGÉLICA? NOSSOS OLHOS FORAM ABERTOS?

E A IGREJA EVANGÉLICA? NOSSOS OLHOS FORAM ABERTOS?

POR: Neucir valentim*


Na verdade o que temos sentido falta nos crentes hoje em relação ao evangelho está de alguma forma ligado com o extrínseco, mas, sobretudo, com o intrínseco, isto é, de dentro, o primeiro amor. E isso, só conseguimos, numa busca pessoal.

Tenho assistido de perto a crise da Igreja Evangélica, e confesso que vou lutar até o fim para manter esse nome, não é um ou outro que dele desfrutou e de suas benesses, que usaram e abusaram e agora o descartam, que descartarei também.

O que ocorre é que o mundo mudou e nós também.

Fomos contagiados pela embriaguês que Jesus falava, que atingiria a muitos, antes do fim.

Fomos contagiados com o consumismo. Fomos contagiados pela pós-modernidade da relatividade. Outrora, o que os nossos líderes diziam era a lei, agora não, tudo é relativizado. Isso é bom? Tem seus valores, mas suas perdas também.

O mundo democrático e ocidental é visto como o Grande Satã pelos Árabes que não questionam seus aiatolás. Talvez, quem sabe, que a guerra árabe passe mais pela rejeição da anarquia do Ocidente do que por qualquer outro motivo. Ele tem medo da nossa promiscuidade, e nós de suas bombas!

É bom ser inocente, e seguir normas, obedecer, achar que alguém acima reponde e sabe por nós? Não sei! Mas, quando isso acontecia descansávamos mais. Só que na relativização, assumimos a liberdade de tudo, até de decidir as regras, o certo e o errado, e isso gera um desgaste enorme, um fardo que é pesado.

Quando os líderes carregavam por nós, embora falando bobagens, ou sendo ingênuos, não víamos isso, só experimentávamos a situação paternal por trás... Mas “os nossos olhos foram abertos”, e agora somos como deuses, conhecedores do bem e do mal e temos que carregar o fardo desse conhecimento. Perdemos a noção da inocência. Coisa rica, preciosa, mas ela foi embora, e agora sempre temos um "senão".

Perdemos a noção de segurança... Naquele tempo, disse esses dias o Arnaldo Jabor, 90% dos moradores das favelas não sabiam da sua criminalidade e nem eram cúmplices com o crime, hoje, disse ele, isto é uma falácia. Tá tudo dominado...Verdade, quantas vezes fui à casa do irmão numa favela, e via como, apesar de pobre o ambiente, era de paz, havia muita briga sim, de marido e mulher, briga de mulher por causa de água, mas não havia a falta da pureza em relação ao crime. Esses nossos irmãos hoje, estariam comprometidos com o que sabem ou deixam de saber. Embora não sejam culpados!

Certo pastor, amigo meu, cuja igreja é numa favela, disse-me que é obrigado a seguir certos caprichos porque senão, morre! De fato tudo mudou.

A igreja deixou de ser o referencial para nós, digo a igreja física mesmo, lembre-se:"nossos olhos foram abertos”, logo a igreja é apenas um prédio sem nenhum valor ou apego místico... histórico, totemizado, isso tem um preço. Lembro-me quando adolescente, uma bolinha de papel minha caiu no púlpito da minha igreja, e fiquei apavorado, não podia deixá-lá lá e ao mesmo tempo não tinha coragem de subir pois o local era santo... mas “nossos olhos foram abertos”, e a igreja agora é apenas um lugar em construção, pois desmistificamos a mesma, agora somos os construtores. Isso é bom? Tudo tem o seu preço.

Hoje ninguém se ajoelha mais no Templo, como disse o Edson Coelho... "Entrei no Templo, dobrei os meus joelhos, para conversar como Senhor..." ninguém o faz por livre e espontânea vontade, só quando o pastor quase obriga.

Perdemos a sacrossanta visão do mesmo, a visão de Ana, que apenas balbuciava no Tabernáculo em Siló. “Nossos olhos foram abertos.” Perdemos a noção do místico, do sagrado, do misterioso, e não estamos muito preocupados com isso, “nossos olhos foram abertos” para outras coisas, para o mundo virtual, para a Internet, agora somos semideuses, achamos tudo num clicar de mouse. Somos aficionados pelas novidades, pelo mágico e misterioso, sem as quais, como Adão deve ter pensado, não podia viver sem elas... Foi o que o Diabo mostrou a Jesus, o mundo e sua glória, ele sempre faz isso, sabe como isso nos encanta também. “Ele tem aberto os nossos olhos”.

Temos tudo, somos preocupados demais em atender a indústria da tecnologia, dos celulares às máquinas mais modernas e não temos nem de perto um pouco da repulsa do unabomber, terrorista americano que preferiu explodiu um prédio por não se conformar com a evolução gigantesca da tecnologia avassaladora, antes que, segundo disse, fosse destruído por ela, não que o que fez estava certo. Vidas são vidas! Mas ele, louco, não soube administrar o novo século, não quis abrir os seu olhos, só usava máquina de escrever e olhe lá..

Cometeu uma loucura, mas a loucura maior ainda continua por aí, nos engolindo... A Bíblia chama isso de Aion, ou de Mundo, ou de Presente século...Ficamos encantados com a pós-modernidade, com suas facilidades, com o encanto de um mundo livre, mas com a pós-modernidade, veio também a pós-cristandade.

Ninguém, absolutamente passou ileso disso.

Perdemos o nosso tempo. Perdemos a nossa liberdade, perdemos a nossa inocência. Perdemos nossos afetos, perdemos, perdemos, perdemos, enquanto tentam nos dizer: Vocês ganharam, ganharam e ganharam... falácia pura!

Deus já vem desconstruindo a sua participação há muito tempo em muitas igrejas... Lembra-se de uma mulher chamada Rosalee M. Apeble? Que começou o trabalho sério em sua igreja com o pastor Enéias Tognine lá na igreja da década de 60? Lembra da onde era?

Da santa Igreja Batista de Goiânia? Agora é a Batista da Lagoinha, da Unção de Toronto, do transe da Ana Paula Valadão, das riquezas da sua grife e ao mesmo tempo das loucuras da sua fé... Ah! Se a Missionária estivesse por aqui... Talvez estivesse inserida no contexto...O que nos resta é voltar, não a igreja antiga, mas ao primeiro amor, e isso é de fato algo muito difícil, pois envolve renuncia, não acontece com métodos, com programas, é com conversão do coração individual ao primeiro amor.

Como eu costumo dizer, o passado é um continente, por vezes parece bonito, mas que não há embarcações para lá.

Ou podemos "ter os nossos olhos abertos" por Deus ou pela velha serpente.

Peço a Deus que eu não veja o que não é para ser visto e ver o que é para ser visto.

Fico pensando em Ezequiel, que via e sofria com o que acontecia...

Fico pensando em Jeremias que via e chorava...

Fico pensando em Elias que via e protestava...

Fico pensando em Habacuque que via e reclamava...

Fico pensando em Daniel, que viu o tempo da bagunça acabar, e em meio a Babilônia previu o retorno, que Deus não se esquece do seu povo, que há lutas travadas no céu, que o diabo existe, que passado 70 anos, as coisas mudariam. Que o império ruiria... Fico pensando nesse homem que em meio à tudo isso que estamos vivendo ouviu... E sobreviveu cheio de graças, ainda que cercado de leões..." Tu, porém, Daniel, cerra as palavras e sela o livro, até o fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará. Ele respondeu: Vai-te, Daniel, porque estas palavras estão cerradas e seladas até o tempo do fim. "

Que o Senhor Jesus, que anda no meio dos candeeiros diga quem é igreja ou não, pois ele é o único que tem os olhos como chamas de fogo e pés reluzentes como bronze polido, pois nunca pisou em nada sujo.


* Neucir Valentim é pastor da Primeira Igreja Evangélica e Congregacional de Niterói e Vice-Presidente da União das Igrejas Evangélicas e Congregacionais do Brasil.

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