quinta-feira, 5 de maio de 2011

O Trabalho Redentor de Cristo.

Por: Idauro Campos

INTRODUÇÃO

Certa vez o Rev. Ricardo de Souza Barbosa, ministro presbiteriano, comentou, em um dos seus artigos, que na época da Páscoa os cristãos enfatizam o milagre da ressurreição e pouco comentam da Sexta-Feira da Paixão. Geralmente as igrejas apresentam seus corais com grande foco e expectativa no reaparecimento de Cristo, quando o mesmo deveria ser a morte de Jesus, pois foi sua morte na cruz que garantiu a salvação. É antes de sua morte na cruz que Cristo profere as palavras “Tetelestai” (Está consumado!). Portanto, a morte é o evento que consuma a obra de redenção que Deus planejou para salvar pecadores, revelando o seu amor por eles. O esforço de Walter T. Conner no capítulo intitulado “O Trabalho Redentor de Cristo”, caminha nesta direção. Neste comentário estaremos interagindo com as máximas do autor sobre o tema e refletindo suas implicações.


A Morte de Cristo: A Chave da Redenção


Walter T. Conner destaca que Jesus quando é identificado e confessado por Simão Pedro como o Cristo e Filho do Deus Vivo (Mt 16.13-21), Ele, então, começa a ensinar sobre seu sofrimento e a morte que experimentaria em Jerusalém, pontificando que Ele era o Messias sim, mas um Messias Sofredor que teria na cruz, símbolo da morte vergonhosa, o clímax de sua missão redentora. Este, portanto, foi o alvo de Cristo durante sua vida e ministério: marchar em direção à morte.

A morte de Cristo era necessária, pois como Ele veio para resgatar pecadores que deveriam morrer pelos seus próprios pecados, é através da morte de Cristo que a justiça de Deus é satisfeita. Na verdade o pecador é quem deveria morrer. A morte era a fatal pena e conseqüência do pecado. Era tão somente a exigência da Lei. No entanto, a morte de Cristo atende esta exigência. Sua morte é a sua oferta pelos pecados do seu povo. Sem a morte de Cristo não haveria remissão dos pecados. É na morte vicária (substitutiva) que a redenção se consuma. O sofrimento e a morte de Cristo estão no centro da espiritualidade, pois não haveria fé cristã sem seu sacrifício.

A superficialidade com que tratamos, ensinamos e pregamos a morte de Cristo é responsável por esta tendência contemporânea de um evangelho sem cruz, sem morte, como é pregado hoje. O que provoca também uma superficialidade na fé e nas expectativas dos crentes. O chamado à cruz deve fazer parte da nossa experiência de fé, para que o nosso “eu” morra e Cristo viva cada vez mais em nós.

A Morte de Cristo: A Manifestação do Amor de Deus


A morte de Cristo não só manifesta a vindicação da justiça divina como também, e principalmente, manifesta o amor de Deus por nós. O autor muito bem destaca que atribuir a morte de Cristo um ato de sua misericórdia ao passo que para Deus é somente um ato de satisfação judicial é um erro, pois as Escrituras Sagradas revelam que o amor de Deus é o fator determinante para nosso resgate em Cristo Jesus (João 3.16). A morte de Cristo é a prova cabal que Deus nos ama (Romanos 5.8). Assim como Conner destaca, há uma convergência entre o Pai e o Filho e não uma tensão entre Eles. O Filho não quer salvar enquanto o Pai, que é o Juiz, quer punir (marcionismo). A morte do Filho não provoca uma mudança de veredicto nos propósitos do Pai. Antes, a morte do Filho atende a vontade do Pai de salvar pecadores. Deus é amor e ama o pecador e como não quer perdê-lo, enviou seu Filho para, através da sua morte, salvá-lo. Diz Paulo na Carta aos Romanos que “Deus prova o Seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”. A morte de Cristo é um ato do amor divino. É uma ação providencial de Deus para que não pereçamos. Portanto, a morte de Cristo não ganha o amor de Deus e sim o expressa. Somos salvos pelo amor de Deus em ação que está em Cristo Jesus.



A Morte de Cristo: Um Chamado à Vida


“Se o grão de trigo, caindo na terra não morrer, fica ele só; mas. Se morrer, dá muito fruto” (Jo 12. 24). A morte de Cristo nos garantiu o acesso à vida eterna, que começa a ser desfrutada aqui. A vida de Jesus é compartilhada com todo filho de Deus, somos salvos em Jesus e agora vivemos a vida d’Ele.

O Senhor nos convida a viver, mas esta vida precisa ser precedida pela morte. Nós, discípulos de Cristo, também devemos morrer. Morrer para o pecado, para o orgulho, para nós mesmos. Ninguém conseguirá caminhar com Jesus se não estiver disposto a crucificar a carne e morrer para si. Nossa vida em Cristo não mais nos pertence. Agora, a administração das nossas decisões, projetos e rumos serão tomados sob a perspectiva do Reino de Deus em Cristo. Ao tentarmos lutar com Deus pelo controle dos nossos dias estaremos dando claros sinais de que ainda não morremos para nós mesmos. “Agora já não sou eu quem vivo, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20). Ou vivemos a vida de Jesus, caracterizada pela renúncia pessoal, pela crucificação do eu, e pelo desejo de fazer a vontade de Deus ou, então, jamais poderemos ser considerados filhos de Deus. O Evangelho é uma boa notícia! Mas, antes de ser uma boa notícia, como disse Ricardo Gondim, o Evangelho “é uma péssima notícia!” Pois notifica que somos pecadores; que estamos mortos espiritualmente; que somos escravos do pecado; que estamos condenados a uma eternidade sem Deus; e que precisamos morrer para poder viver a vida de Jesus. Sem a morte do velho homem, não haverá vida em Jesus. Sem participar do sofrimento e morte do Senhor não há comunhão com Ele. É através da morte d’Ele que sou estimulado a morrer para o mundo e suas paixões para participar de sua vida. A morte de Cristo é um convite à vida. Morramos com Ele para então vivermos com Ele (Rm 6.4)!


CONCLUSÃO

Vivemos um tempo em que se fala apenas das bênçãos que podemos obter do Mestre, mas pouco se fala da Cruz que temos que carregar. Todos nós fomos chamados a negar o nosso eu, tomando a nossa cruz e marchar com Ele em direção à coroa da justiça. A morte precede a vida. A cruz precede a coroa. A via crucis precede as “ruas de ouro”. A luta precede a vitória. O choro precede as bodas. A expectativa precede a consumação. A militância precede os galardões. Assim é a economia do Reino de Deus. A vida eterna é certa e garantida, mas antes a morte de Cristo em nossa experiência pessoal nos aguarda. Experimentá-la é honrá-Lo e vivê-Lo. Que Assim Seja!!!

Soli Deo Glória!!!

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