domingo, 3 de agosto de 2014

Perdão e Confissão

POR: Caio Fábio D'Araújo Filho
 
Novos instrumentos sempre precisam de afinações. Assim é também quando novas compreensões nos chegam ao coração. Sempre há necessidade de fazer uma sintonia fina de vez em quando. Isto porque as novas alegrias muitas vezes nos impedem de fazer uma síntese mais equilibrada das coisas por um tempo. E a prova disso é que Hoje você me faz esta pergunta. Sinal de que há uma nova reflexão sendo feita. O que é muito bom!

Respondendo a pergunta, proponho-lhe uma figura.

Eu tive a bênção de ter um pai de quem jamais duvidei do amor. Eu sempre soube que ele me perdoaria de qualquer coisa, embora eu também sempre tenha sabido que qualquer coisa indigna que eu viesse a fazer, e ele a saber, seu coração se entristeceria bastante, talvez até profundamente.

Assim, eu sempre soube que ele me perdoaria porque ele me ama, mas nunca deixei de pedir perdão a ele apenas por saber disso.

Ora, se é assim com meu pai terreno, como seria com meu Pai que está nos céus?

Ao meu pai eu peço perdão porque ele precisa saber que minha consciência está viva e sadia. E também porque o respeito e desejo honrá-lo até nos meus erros.

Já em relação ao meu Pai que está nos céus, peço perdão por mim mesmo, para o meu próprio bem, como reconhecimento de que minha consciência está viva, e, sobretudo, porque minha vida é um flagrante permanente diante Dele.

Assim, embora de antemão perdoado, peço perdão; posto que meu pedido de perdão é a confissão de minha boca de que minha consciência continua cativa da verdade de Deus; e isto é importante para mim, visto que Deus sabe.

Eu, porém, sou ensinado a orar dizendo: “Perdoa as minhas dívidas assim como eu perdôo os meus devedores”.

Desse modo há duas dimensões aqui envolvidas:

1. A primeira ensina que perdão é perdão. Ou seja: porque perdôo, sou perdoado; isto porque já estou perdoado; portanto, não tendo mais o direito de não perdoar. Desse modo, não perdoar equivale e dizer que não se acredita em perdão, ficando-se, assim, postos por nós mesmos, na posição de não-perdoados outra vez.

2. A segunda tem a ver com Deus, que de antemão me perdoou, mas que espera que meu coração reconheça o perdão com seriedade, a fim de que a minha consciência não fique sem exercício. Portanto, quando peço perdão, confesso que ainda estou vivo e grato; e mais: confesso meu desejo de deixar coisas e partir para outras melhores.


Arrependimento, diz o Novo Testamento, é Graça de Deus. É Deus quem concede o arrependimento, e quem conduz ao arrependimento. Portanto experimentar arrependimento já é fruto da Graça do Perdão divino.

Assim, eu diria: somente perdoados se arrependem!

Prova disso é Davi, que, uma vez confrontado pelo profeta Natã, disse: “Pequei contra o Senhor!”— e ouviu o profeta dizer: “Também o Senhor já perdoou o teu pecado!”

Assim é que é bem-aventurado o homem a quem o Senhor não “imputa iniqüidade”. Como também é bem-aventurado todo aquele que “não se condena nas coisas que aprova”.

Desse modo, a Graça de Deus nos dá toda segurança, mas demanda de nós que vivamos buscando não pecar, não porque o pecado “tire pedaços de Deus”, mas sim porque tira os pedaços da gente.

Na revelação há sempre duas dimensões: uma eterna e outra temporal.

Assim, pela revelação sabemos o que é eterno, e, portanto, já é, e ninguém mudará. Ao mesmo tempo em que há advertências temporais, as quais têm dimensões de natureza, eu diria, psicológicas; isto porque concernem à alma humana e à continuidade da existência na Terra.

Por isto, eu sei que em Cristo tudo já é e já está Consumado; mas sei também que em mim mesmo, nada está acabado e concluído, pois vivo na carne, no corpo, no tempo, no espaço, e no que ainda é em parte.

Portanto, eu lhe digo: Os perdoados sempre pedem perdão; e, além disso, sempre perdoam!

Quando há o momento da “contrição” na hora de um culto, eu sempre aproveito para o meu bem. Mas meu confessionário é no caminho, enquanto vou, e à medida que minha consciência fala comigo.



Nele, em Quem já sou tudo a fim de poder ser,

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