quinta-feira, 20 de maio de 2010

A CURA DE NAAMÃ

POR: IDAURO CAMPOS


Introdução:

O Apóstolo Paulo escreveu na Epístola aos Romanos 15.4 que “tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança”. Destarte, o que Deus quer nos ensinar através das narrativas bíblicas de milagres? Quais as lições que podemos discernir e aplicar em nossos dias? Vejamos o exemplo de Naamã e aprendamos qual é a mensagem que o milagre experimentado por ele pode nos transmitir.


1- Os Milagres São Para Todos:

Naamã era um sírio que estivera em conflito com Israel (vs.2). É provável que muitos judeus que conhecessem sua história na época julgassem sua enfermidade como algo apropriado a um “pagão”. No mundo antigo enfermidades crônicas, como a lepra, eram vistas com fortes conotações religiosas. Embora todos os homens daqueles tempos, inclusive israelitas, estivessem sujeitos àquela enfermidade, não seria admirável se concluíssemos que o fato de ser de uma nação inimiga e fiel a um outro deus (Rimon) colocava Naamã sob a suspeita de que sua anomalia simbolizava o legítimo castigo imposto pelo Deus de Israel. Mas, suspeitas à parte, o que fica claro no enredo da narrativa é o livre e universal acesso que todos os homens podem ter às bênçãos de Deus. Deus é o Senhor de toda a Terra (Sl 24.1)! Ele não está atento apenas aos clamores das fileiras de pessoas que incham os templos evangélicos ao redor do mundo. Assim como Ele cura um sírio idólatra como Naamã, revelando, portanto, sua misericórdia e atenção a todos os homens, hoje também Ele permanece atento e vigilante ao que acontece a todos os que vivem sobre esse grande mundo. No episódio triste da Tsunami, em dezembro de 2004, não foram poucos os cristãos que julgaram a catástrofe como um duro castigo de Deus aos idólatras que povoam a região da Ásia. Entretanto, a perspectiva bíblica correta do fato, nos permite ver Deus não no sofrimento das mães que choravam pelos seus filhos tragados pela violência das ondas gigantes e nem das crianças que em vão chamavam pelos seus pais que nunca mais voltariam a ver, mas sim nas diversas ações humanitárias empreendidas por diversas agências cristãs que migraram para lá a fim de consolar os aflitos e ajudando-os a crer que Deus os amava e que os ajudaria a recomeçar a vida. Deus pode ser encontrado por todos! Sua benção e seus milagres são para todos! Afinal, a portentosa declaração de João é de que Deus, em Cristo, “habitou entre nós” (Jo 1.14). Ele, portanto, está conosco e nos é acessível, assim como seu poder, suas bênçãos e seus milagres! O que precisamos é de nos aproximarmos d’ Ele, pela fé em Seu Filho, Jesus Cristo.


2-Os Milagres São Operados Por Deus:

A menina samaritana que servia na casa de Naamã não faz nenhuma referência a Deus, mas sim “ao profeta que está em Samaria; ele o restauraria de sua lepra”. Creio na certeza que a menina tinha que o poder que estava sobre Eliseu vinha de Deus, logo, sua fé em Deus estava implícita em sua recomendação. Entretanto, não parece que foi assim que Naamã entendeu, pois sua questão em ser recebido por Eliseu parece denunciar isso (vs.11). Eliseu, por sua vez, não se importa em ir ao encontro do grande herói e comandante, mandando, ao invés disso, um mensageiro para lhe orientar (vs.10). A comparação que faz entre os límpidos rios de Damasco e o lamacento rio Jordão e a recusa de Eliseu vir ao seu encontro e uma expectativa teatral da performance do profeta (11-12) parecem compor as razões da indignação de Naamã e a recusa em fazer o que Eliseu lhe sugerira. Eliseu era cônscio que o poder que repousara sobre si não era seu, mas de Deus. Portanto, para o profeta o importante não era estar face a face com Naamã, porque quem agiria, afinal, seria o Senhor. Então, o que faz é transmitir a orientação certa para que o milagre da cura acontecesse. Não eram a presença de Eliseu e um gesto cinematográfico com as suas mãos que fariam a diferença, mas sim o poder do Deus que está em todo lugar vendo a tudo e a todos. Essa compreensão é fundamental em nossos dias, pois parece que os milagres de Deus hoje têm lugar, hora, e dias certos para acontecer, além gente específica para operá-los, pois muitos líderes de igrejas arrogam para si os títulos de “ungidos”, “homem de Deus” e “apóstolos” e convocam as massas miseráveis para encerrarem as fileiras de suas comunidades, declarando que se as mesmas comparecerem e fizerem as correntes e seguirem suas ordens, então, serão curadas. Comportam-se como se fossem as fontes dos milagres. Os milagres são operados por Deus. Deus é o único autor das bênçãos experimentadas pelo seu povo. O poder de Deus não reside em homem algum. Somos, à semelhança de Eliseu, apenas os seus instrumentos.


3 - Os Milagres Devem Conduzir a Mudança de Vida:

“Nunca mais oferecerá este teu servo holocaustos nem sacrifício a outros deuses, senão ao Senhor” (vs.17). Este foi o grande efeito que a cura da Naamã exerceu sobre ele. Sua conversão ao Deus de Israel foi um triunfo da graça e a demonstração reveladora que o Senhor é Deus de todos os que Ele vem ao encontro e não apenas dos judeus. Além disso, a narrativa do milagre começa apresentando Naamã como grande conquistador e termina o apresentado como conquistado por Deus. Suas credencias (vs.1) não serviram para fazer dele um homem são e piedoso. O poder de Deus foi a única força capaz de fazer isso. A experiência de Naamã denuncia a perspectiva madura frente aos milagres que muitos buscam, pois tantos pedem um milagre ao Senhor, mas quantos estão dispostos a mudar de vida? Quantos pedem a cura da enfermidade, mas encerram seus corações para a cura da alma? Quantos querem sanidade física, mas não se voltam para Deus? Quantos lutam pelo periférico, mas rejeitam o que é central e essencial? A cura de Naamã foi completa (física e espiritual). Ao mesmo tempo, a cura do comandante sírio é um estímulo para que creiamos nas obras sobrenaturais de Deus. A lepra era incurável naqueles dias e, portanto, os conhecimentos científicos e procedimentos medicinais de nada adiantariam. Naamã experimentou o poder divino. Não podemos ser tímidos quanto a esta realidade. Deus nos salva e também nos cura. Quem pode o maior também pode o menor. Às vezes, como cristãos, ficamos à vontade em orar pela salvação das pessoas, mas nem sempre pela sua cura. Essa é uma atitude estreita. Devemos crer que o Deus que derruba as barreiras de um coração incrédulo é também poderoso para operar um milagre na saúde física. Essa é uma ação madura e equilibrada dos remidos. Além disso, a enfermidade de Naamã tinha outras implicações, pois sofrê-la significava uma vida marcada pelo sofrimento, pelo preconceito e exclusão social. Mas, Deus ao curar Naamã, devolve-lhe a saúde física, à normalidade da vida, a inclusão social e a dignidade humana. A salvação bíblica é holística, ou seja, integral. Deus quando nos salva em Cristo, não só está nos levando para o céu (e isso já seria tudo, pois não há benção e nem milagre maior), mas também resgatando nossa dignidade perdida por causa do caos ocorrido no Éden. Devemos, portanto, inspirados no exemplo de Naamã, anunciar o Deus que salva espiritual, física, social e psicologicamente. O cristão é realmente uma nova criatura (2 Co 5.17).O ideal de cristão é alguém salvo, curado, inclinado para Deus, são em sua psique, disposto a se inserir na sociedade, pois as limitações que o impediam de ser alguém normal foram tiradas por Deus. Foi assim com Naamã. O mesmo pode acontecer conosco. Glórias a Deus!!! Naamã nunca mais seria o mesmo homem. É assim que acontece com todos aqueles que são visitados pelo Rei dos Reis e Senhor dos senhores. Glórias sejam a Ele!!!


Conclusão:


Milagre é uma ação exclusiva da soberania de Deus. Somente Ele pode operá-lo. Todos nós podemos ser contemplados com um milagre da parte de Deus e, na verdade, já o fomos, pois o maior e mais poderoso deles já nos aconteceu que foi o novo nascimento. Certa ocasião os discípulos de Cristo ficaram admirados pelo fato dos demônios lhes submeterem, pois fora outorgado a eles poder e a autoridade para tal. Entretanto, Jesus os insta e adverte para que devessem estar maravilhados não com a realização daquele milagre, mas, sim, pelo fato de seus nomes estarem arrolados nos céus (Lc 10.17-20). E é para lá (para o céu) que os milagres experimentados devem nos remeter, pois estes não são um fim em si mesmo. Os milagres são anúncios de que há um grande Rei que governa e sustenta com poder o universo, de que Ele tudo pode, de que não há impossíveis para Ele e de que Ele nos ama e se importa conosco a ponto de vir ao nosso encontro para sarar nossas feridas (da alma e do corpo), transformando nossa vida e nos preparando para ir morar com Ele.
Soli Deo Gloria!!!

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