segunda-feira, 21 de março de 2011

Em Defesa da Igreja de Cristo.

Por: Idauro Campos.

Em Atos 11.29 vemos pela primeira vez a ocorrência do termo “presbíteros” (anciãos) nas Escrituras Sagradas, evidenciando, portanto, a existência de uma liderança eclesiástica, além dos apóstolos, ainda nos tempos da igreja primitiva. Além disso, no capítulo 14.23, somos informados que Paulo e Barnabé, promoviam “em cada igreja a eleição de presbíteros”. Mesmo antes, em 6.1-6, precursores do diaconato foram escolhidos e receberam, inclusive, a imposição de mãos como ato litúrgico de ordenação (vs. 6).

Na primeira epístola a Timóteo (que estava liderando a igreja em Éfeso), o apóstolo Paulo o lembra de que sua vocação fora reconhecida pelos presbíteros e que estes impuseram-lhe as mãos (4.14). E, na carta aos efésios (4.11), Paulo apresenta os distintos ofícios ministeriais que estariam a serviço da edificação da igreja.

Três fatos ficam claros aqui: a) igrejas eram fundadas; b) lideranças (os presbíteros) eram constituídas; c) tais lideranças eram confirmadas em ato litúrgico (a imposição de mãos). Destarte, é evidente o absurdo contemporâneo de questionar a validade da necessidade das igrejas locais e dos líderes eclesiásticos (pastores, presbíteros e diáconos). Por onde Paulo, Silas, Barnabé e outros passaram em suas investidas missionárias, organizaram igrejas locais, onde os objetivos eram a adoração (oração e celebração da ceia), leitura e estudo da Palavra e a comunhão dos santos. O paradigma era a Igreja de Jerusalém: perseveravam no ensino, na comunhão, nas orações e no partir do pão (Atos 2.42).

É desonestidade intelectual afirmar que a igreja cristã é apenas um fenômeno sociológico e que nunca fora planejada por Deus e por Jesus Cristo.

As razões pelas quais as igrejas não construíram templos, se dão por razões históricas (como a perseguição religiosa judaica e, posteriormente, a perseguição política praticada pelo Império Romano) e não por razões teológicas, como os críticos do cristianismo afirmam. A igreja visível é a expressão da igreja invisível. Portanto, são patéticos os ataques dirigidos a igreja institucional. Esta apenas revela no tempo e no espaço a união daqueles que foram chamados pelo Espírito Santo à fé em Cristo Jesus (1 Co 1.2). A igreja local expressa o mistério do chamado irresistível do Espírito Santo. Ou seja, revela historicamente o Corpo de Cristo: a Igreja. Nada mais do que isso! O resto é papo!

As crises da igreja contemporânea não são justificativas para que a abandonemos, como alguns apregoam. As igrejas neotestamentárias e mesmo a igreja em Jerusalém (primitiva) também eram comunidades complicadas. Os episódios de Ananias e Safira em Atos 5.1-11 e a briga entre os helenistas e os hebreus em Atos 6. 1-2, são exemplos disso. A igreja de Corinto era carnal (divisões, pecados sexuais, litígios, desordem no culto, discriminação social, abusos no exercício dos dons etc), a de Colosso estava caindo em heresia. A da Galácia estava ficando legalista. A de Éfeso vivia em crise, a ponto de Paulo ter que encorajar seu pastor, o jovem Timóteo. Entretanto, Paulo, em nenhum momento, em quaisquer de suas cartas, recomenda a deserção como equação para os problemas das igrejas. Ao contrário, o apóstolo, escrevendo aos coríntios por exemplo, os lembra de que foram chamados à santidade ( 1 Co 1.2). Ou seja, a santificação e não a deserção é o caminho apontado pelas Escrituras Sagradas para a superação dos problemas vividos pelas comunidades cristãs. Há, ainda, outros exemplos nas Escrituras, como a extravagante igreja de Laodiceia (Ap 3.14-21). Tais comunidades de fé funcionavam em casas e eram igrejas jovens, com pouco tempo de fundação e com poucas pessoas congregando, mas já enfrentavam suas complexidades, pois para problemas surgirem não são necessárias muitas pessoas juntas. Afinal, no Éden eram apenas Adão e Eva e deu no que deu! Semelhantemente, nos dias de Noé, entre seus filhos, e em casa, um pecado é praticado (Gn 9.22-28), assim como na vida de Ló, onde refugiado apenas com suas duas filhas, um incesto, contra sua vontade, é praticado, dando origem a duas nações que se tornaram inimigas do povo de Deus (Gn 19. 30-38).

Portanto, abandonar o templo, alegando que reuniões em casas são mais saudáveis, intimistas e bíblicas é puro simplório. Até podem ser intimistas, mas duvido que sejam necessariamente mais saudáveis e não há nenhuma orientação apostólica quanto ao lugar de adoração. Podendo ser em templos, em casas ou em qualquer outro lugar. Não devemos sacralizar o templo, mas, demonizá-lo, também é ridículo.

Na verdade a tendência contemporânea de discursar contra a igreja (que, aliás, já virou um lugar comum), não leva em conta que tal postura é reflexo do relativismo da pós-modernidade, que questiona valores, conceitos, ideologias, modelos e também instituições. Tudo que foi consagrado no e pelos anos é posto em dúvida na pós-modernidade. É neste contexto que a decepção com a igreja institucionalizada surge. Tanto que não é apenas a instituição igreja que é questionada, mas até a formação do Cânon e doutrinas como a Trindade, verdadeiros pilares da fé cristã, são postas em dúvida por muitos dos críticos da igreja.

Considerar que um simples CNPJ e um templo de alvenaria minam o vigor espiritual da Igreja de Cristo é valorizar demais tais expedientes, como se os mesmos pudessem afugentar a Trindade.

Há exagero, portanto, nos que pregam o fim da história da igreja. É necessário fazer distinção entre organismo vivo e a instituição igreja, mas em tal distinção, não se pode esquecer que a última, nada mais é que a expressão histórica da primeira.

Viva a Igreja de Cristo!!!

Soli Deo Glória!!!

A Volta de Deus na Teologia Contemporânea.

Por: Idauro Campos


1 – INTRODUÇÃO

Deus é o encanto da teologia. Mas, a despeito do interesse que a teologia tem por Deus, nem sempre conseguiu manter homens atentos para com a realidade de Deus. Em diversos momentos da história a realidade de Deus foi questionada e o centro onde Ele reinava foi desejado. Vejamos neste breve ensaio como isto aconteceu e como o interesse pela realidade divina retornou em épocas recentes.

2 - Deus na Teologia Pré-Moderna:


Antes da modernidade se inserir como uma lente com a qual a realidade seria compreendida , esta era discernida como tendo o seu ponto de partida em Deus. Ou seja, Deus era a base da realidade. Destarte, a teologia, que se propunha a explicar a relação entre Deus e a realidade, dominava o discurso. Não apenas o discurso religioso, mas também os demais campos do conhecimento, pois estes, embora seculares, também estavam sujeito à análise teológica. A Teologia, portanto, buscava encontrar o elo de encadeamento entre Deus e as expressões do conhecimento humano. Este conhecimento estava influenciado e até mesmo aprisionado pelo dogma religioso. A autoridade religiosa falava em nome de Deus como seu porta-voz . A idéia de representação no mundo pré-moderno era intensa. A monarquia absolutista, por exemplo, era a expressão política da compreensão pré-moderna de representação. O soberano rei era ordenado por Deus e esta doutrinação política era resultado do discurso dogmático da religião no que tange este campo de ação . Assim, Deus, era a causa e explicação de tudo quanto existia. O discurso teológico lastreava todas as tentativas de compreensão e descobertas. Assim Deus era a explicação, o encanto, o assombro e “a medida perfeita de todas as coisas” .

Como na pré-modernidade Deus era o fundamento da realidade, o conhecimento sobre Ele era estimulado e para, de fato conhecê-LO, o acesso era a revelação. As Escrituras Sagradas conferiam este acesso, pois suas páginas apresentavam Deus, revelando-se em Cristo. Era desta forma que os teólogos patrísticos e medievais, personagens da era pré -moderna, entendiam. Deus era o Mistério Último .

Este cenário dominou o pensamento ocidental por séculos. Houve, sem dúvida, questionamentos e alternativas, mas a tese sobreviveu até a René Descartes, quando então, um novo paradigma foi apresentado e novas lentes passaram a fazer a leitura acerca da realidade. A razão entre em cena, enquanto que Deus, isto é, o discurso que o tinha como fundamento da verdade, sai.


2 - A Ausência de Deus na Modernidade:



Em 1637, em Leiden, na França, René Descartes, publica seu tratado matemático e filosófico, conhecido como O Discurso do Método . Obra que celebra a razão como critério da verdade. O discurso teológico (e a autoridade eclesiástica) passou a ser questionado. O Cartesianismo foi uma proposta epistemológica, isto é, uma doutrina do conhecimento, porquanto discernimento da realidade dependeria tão somente do crivo da razão. A razão passou a ser a autoridade. Para se conhecer era necessário empregar métodos, onde a experiência, a observação científica (empirismo), estabeleceria o que deveria ser crido e o que deveria ser descartado como falso. Este método influenciou profundamente a cosmovisão da sociedade ocidental, até então marcada pelos axiomas do cristianismo. Os campos de saber foram marcados pela ênfase do cartesianismo. A própria teologia foi influenciada, pois, sendo uma área de conhecimento, a razão deveria também ser utilizada na teologia como critério da verdade teológica. A observação cientifica também seria convocada para julgar o discurso religioso. A própria existência de Deus passou a ser analisada sob o viés do racionalismo. Como os métodos científicos não podiam satisfatoriamente responder as questões levantadas quanto à realidade de Deus, o agnosticismo (a impossibilidade de se conhecer conclusivamente), o deísmo (um Deus existente, mas distante), o panteísmo (um Deus imanente), o panenteísmo (um Deus em que todas as coisas estão contidas), e até mesmo o ateísmo (Deus inexistente) foram confirmados como propostas para explicar tal realidade. David Tracy afirma que “a realidade de Deus foi reformulada a fim de ser adequadamente entendida por uma mente moderna” . Ou seja, como na era moderna o homem se emancipou da religião e a razão tornou—se senhora e juíza de tudo e de todos, as afirmações teológicas precisariam convencer esta razão. Deus, então, que está contido no discurso teológico, semelhantemente, precisava ser analisado sob a perspectiva racionalista.
A influência do racionalismo soprou sobre a teologia. O Liberalismo Teológico Alemão, movimento do final do século XVIII e que chegou ao seu auge no século XIX, empregava elementos do racionalismo para questionar doutrinas históricas do cristianismo.

O dogma, à medida que o racionalismo foi sendo adotado como critério epistemológico, foi se enfraquecendo. A idéia de Deus, até então, considerada fundamento da realidade e posicionada no centro do significado da existência humana (teocentrismo), foi sendo deslocada para a periferia. O homem foi para o centro (antropocentrismo). Com a força e as possibilidades da razão, o homem se assenhorear de si e do seu destino, produzindo, inclusive, toda uma euforia e um otimismo em suas expectativas. As Escrituras Sagradas, fonte epistemológica da era pré-moderna, passou a ser questionada à luz da Alta Crítica e teólogos influenciados pelo racionalismo revisaram os textos neotestamentários, negando seu caráter divino e até mesmo pondo em dúvidas relatos, como os milagres de Jesus, por exemplo .

Na modernidade a Teologia deixou de ser a “Rainha das Ciências”, o discurso teológico foi questionado, a própria existência de Deus foi posta em dúvida e tentativas de explicar a realidade divina surgiram, enfraquecendo a compreensão acerca de Deus. Finalmente, a teologia se rendeu, oferecendo propostas, em sua expressão liberal, que mais prejudicou do que ajudou a sociedade entender a realidade de Deus e de sua relação com os homens.



3 – O Retorno de Deus na Teologia Contemporânea:



O fracasso do homem no século XX; a derrota da Teologia Liberal; a influência de Karl Barth; o fim da compreensão da história como um esquema linear, mas sim como constituída idas e vindas ou “de desvios e labirintos e interrupções radicais” ; a decepção com as máximas da modernidade que privilegiaram a civilização européia ocidental, marginalizando, ao mesmo tempo, outros saberes e contribuições; o declínio das utopias; o fim das trincheiras; a globalização.; o fim do comunismo. Todas estas expressões contemporâneas, de alguma maneira, resgataram o discurso teológico. A realidade de Deus volta a ser motivo de interesse. E a realidade de Deus vem na pós-modernidade para consolar, libertar, oferecer esperança, superar a crise. Ou seja, Deus é novamente “descoberto” para erguer o homem desiludido consigo próprio. As duas Grandes Guerras provaram o quão longe o homem pode chegar de sua humanidade quando este perde Deus de vista. O Racionalismo demoveu o teocêntismo. Os resultados foram avassaladores. A raça conheceu o pior de si. Sua face mais bizarra foi revelada. O fantástico conhecimento humano não foi capaz de impedir à monstruosidade do próprio. Ficou provado que o homem não pode ficar sozinho. Ele não é apto a ser senhor de sua história. Teve sua chance, mas, terrivelmente, fracassou.
Obviamente, o retorno de Deus não significa na pós-modernidade o uso e emprego de categorias tradicionais que explicam a realidade divina. A Teologia Relacional é uma prova. Ao mesmo tempo esta proposta teológica rejeita o assenhoreamento da história por parte do homem (como na modernidade), assim como o controle absoluto de Deus sobre o mesmo (como na pré-modernidade). Prefere uma parceria em que o homem e Deus são os agentes. O homem é chamado por Deus a construir uma história, sendo parceiro de Deus.

As diferentes explicações da realidade de Deus é uma das características mais claras da pós-modernidade. Ela rejeita os esquemas fixos da pré-modernidade e da própria modernidade e sugere alternativas na busca pela espiritualidade. Esta postura pós-moderna tem, nas palavras de Tracy, como proposta a certeza de que “não é o momento de prorromper em novas proposições sobre a realidade de Deus. É antes o momento de permitir novamente admirar-se do irresistível mistério de Deus” .

O retorno do interesse da realidade de Deus; a busca pela espiritualidade. A rejeição da dogmática tanto religiosa como racionalista, são evidências de que um novo tempo chegou para todos. Qual será o resultado disso? A teologia tem diante de si o desafio de tentar responder.


CONCLUSÃO


Não se pode negar a influência da pós-modernidade na teologia. Mas, diferentemente do que se apregoa que esta tendência é empecilho ao discurso cristão, pois este é fixo e centrado em Cristo, enquanto que o relativismo típico da pós-modernidade exige que se exclua a exclusividade cristã, é, salutar, que a teologia Cristã se afirme sim, porquanto tem ao seu lado o Cristo que é eterno e sendo eterno é pré-moderno, moderno e contemporâneo. Jesus Cristo resistiu aos questionamentos quanto à verdade em seus dias de encarnação (João 18.38). Tais questionamentos sempre aparecem na história com uma nova roupagem, sob a égide de alguém. Mas, a boa notícia de Apocalipse é que o Cordeiro vence! Cristo sempre vence. Venceu em seus dias de encarnação na Cruz. Venceu as controvérsias cristológicas nos primeiros séculos após seu retorno ao Pai. Venceu usando os reformadores. Venceu o racionalismo. Venceu o liberalismo. Vencerá também a pós-modernidade. Sendo ou não o fim da história da atual era, a boa notícia, é que o Cordeiro vence!

Soli Deo Glória!!!



REFERÊNCIAS

A BÍBLIA SAGRADA. Português. Tradução: João Ferreira de Almeida. 2 ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2000.

CAMPOS, Idauro. Os Desafios de Uma Nova Reforma. 2005. 58 f. Monografia (Pós- Graduação) – Seminário Teológico Escola de Pastores, 2005.


TRACY, David. Teologia, Para Quê: A Volta de Deus na Teologia Contemporânea. Revista Concilium, Petrópolis, N. 256. P.51.1994.

LLOYD-JONES, David Martyn. Estudos no Sermão do Monte. São José dos Campos: Fiel, 1999.


MCALISTER, Walter.. Conferência de Despertamento Espiritual. São Gonçalo: Igreja Evangélica Congregacional em Ponte Seca, 1997. 1 Fita de Vídeo (270 min.), VHS, som, color.









sábado, 5 de março de 2011

A IGREJA E O SECULARISMO.


Por: Alexandre Ávila da Rosa


PAULO, escrevendo a 2ª Timóteo, já ao final da jornada, assevera: “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos a verdade, entregando-se às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério.”

Será que temos chegado ao tempo referido pelo grande apóstolo? “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina...”. O secularismo tem invadido as nossas Igrejas, os princípios bíblicos se relativizaram com justificativas sem qualquer fundamento doutrinário, os que ainda defendem a sã doutrina são taxados de conservadores radicais. Dizem aqueles: é preciso renovar, abrir a mente, a sociedade mudou, os valores são outros, a liturgia tem que ser renovada, salmos e hinos é coisa do século passado, pregação pode ser dispensada e vai por aí a fora.

A advertência do apóstolo João em sua 2ª Carta torna-se cada vez mais oportuna nesta época: “Acautelai-vos, para não perderdes aquilo que temos realizado com esforço, mas para receberdes completo galardão. Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas. Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más.”

Não é a Palavra de Deus que tem que se adequar ao mundo e sim o contrário. A Bíblia é o manual de Deus aos homens. Esse manual não muda, não poderá ser adaptado ao pecado. Tudo que ofende a santidade de Deus continua sendo pecado. Pecado é pecado, não importa o tempo passado, presente ou futuro. Deus não está sujeito ao tempo, pois sempre existiu, não teve início e nunca terá fim.

Hoje, passados quase 2000 anos, o apóstolo Paulo, ainda nos diria como falou aos Coríntios: “Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo. Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais.”

Qual Igreja você prefere? Devido à multiplicidade de Igrejas, temos para todos os gostos. Aquela que vive da Oração, da Palavra de Deus, dos Salmos e Hinos, que prega sobre o pecado e da necessidade de uma vida de santidade na presença de Deus. Há também aquela que “pega fogo”, o Espírito Santo faz descer “fogo do céu” e há multiplicidade de “milagres”- alguns com dia e hora marcada para acontecer. São os detentores da agenda de Deus na terra. Há aquela de acordo com sua conveniência, a palavra pecado é proibida de ser ventilada. Atitudes, comportamentos devem ser tolerados, mesmo em desacordo com os valores absolutos da Bíblia Sagrada. Tudo, em nome do amor, é justificável, afinal os tempos são outros e a Palavra de Deus deve ser contextualizada. A verdade, no entanto, é que a Igreja de Cristo é aquela que prima pela Palavra de Deus, que ora, que não abre mão dos princípios absolutos nela contidos, que ama o pecador, mas não compactua com o pecado, que consola os angustiados de espírito, que dá de comer aos que têm fome.

Quando Paulo escreveu sua Carta a Tito, ele, mais uma vez, asseverou: “Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina.” Tito 2: 1. Vemos que a preocupação do grande apóstolo foi sempre com a doutrina. Todavia, o secularismo reinante em nossas Igrejas tem tomado conta do tempo e do pensamento dos fiéis. Igrejas vazias nos trabalhos semanais, desinteresse com os Estudos Doutrinários, Reuniões de Orações, Escolas Dominicais, falta de pontualidade e assiduidade. O descompromisso é geral. Inúmeras justificativas são apresentadas.

Precisamos voltar ao primeiro amor, isto é: compromisso com as coisas de Deus, compromisso com as atividades eclesiásticas da Igreja, zelo para com a Igreja. Lembre-se: seu lugar é muito importante no Rebanho, não o deixe vazio, afinal, Jesus Cristo morreu por você e o preço que Ele pagou foi altíssimo. Façamos a nossa parte, Deus já fez a Dele. Nós seremos os beneficiados.

Marcos Teológicos da Reforma Protestante

Por: Idauro Campos


1 - INTRODUÇÃO:

Todo movimento intelectual para que subsista precisar ter um fundamento teórico que lhe sirva de trilho básico, caso contrário, não será perene. A Reforma Protestante não escapa a regra, porquanto foi um movimento intelectual e como tal possui sua fundamentação teórica.

Ao afirmar o caráter intelectual da Reforma Protestante, este não descuida de seu lado transcendental, com suas conotações espirituais (o “reavivamento”), mas, tão somente, enfatizamos neste ensaio o aspecto que nos interessa aqui, isto é, o humano, o racional, o histórico, o teológico e, por isso, o intelectual. Para tanto, como movimento intelectual na perspectiva teológica, foco deste ensaio, a Reforma Protestante possuiu seus pilares. Ou seja, seus fundamentos que explicam sua insurgência na história como movimento empírico e identificável, a saber, a soteriologia, a bibliologia e a eclesiologia, pois, foram em tais locis da teologia que a Reforma Protestante claramente se distinguiu da Igreja Católica Apostólica Romana.

Ao focarmos nos pilares teológicos da Reforma Protestante para identificar o movimento, não descuidamos também da compreensão de que há outras contribuições intelectuais à mesma, como a renascença, e o racionalismo, embriões do modernismo e do iluminismo. Concomitamente, a Reforma Protestante deu suas contribuições a tais tendências, pois suas abordagens ajudaram a construir o pensamento moderno ocidental. O livre-exame das Escrituras Sagradas, por exemplo, é uma expressão racionalista, porquanto enfatiza a leitura e compreensão do texto sagrado por parte de cada fiel, convencendo-o que sua mente é capaz de entender o mesmo sem a mediação e interferência de um sacerdócio oficial. O direito à leitura e compreensão do texto sagrado foram conquistas da Reforma que colaboram na consolidação do ideal de que o homem é um agente livre. Nada mais moderno do que isso! Portanto, entendemos que a Reforma Protestante é híbrida, em face de seu caráter transcendental e histórico, o que explica o interesse simultâneo de teólogos e historiadores pelo movimento.




1 - A SOTERIOLOGIA:

A soteriologia foi o principal campo de batalha dos reformadores (especialmente Martinho Lutero) na perspectiva teológica do destino eterno dos homens. O homem medieval era fortemente religioso e supersticioso, permanentemente preocupado com seu destino eterno. Para tanto, a Igreja Católica, principal estrutura religiosa do mundo Ocidental à época ensinava há séculos que para aplacar a ira de Deus e obter assim a salvação da alma, era necessário experimentar de uma justificação que vinha sobre o homem gradativamente, a partir do batismo sacramental, aplicado aos infantes e confirmado durante toda a vida através das penitências, das orações, das missas, dos rituais e, posteriormente, no contexto do século XVI, das indulgências. Ou seja, para garantir a salvação eterna o homem precisava da prática de boas obras .

A teologia reformada diferentemente da teologia católica, afirmou que a justificação é um ato, e não um processo, que vem sobre o homem uma única vez por vontade divina aplicando os méritos de Cristo sobre o pecador, reconciliando-o com Deus para sempre. Tal justificação seria, então, uma declaração forense, em que o homem é considerado por Deus justo, em virtude da Obra de Cristo culminada na Cruz do Calvário. Ao Crer no que Cristo fez na cruz, o pecador recebe de Deus a justificação, obra e conceito considerados o núcleo tormentoso da Reforma Protestante, pois a busca pela certeza da salvação foi a força motriz de todos os demais aspectos e repercussões acontecidos no movimento reformador.

A soteriologia, portanto, é a noção de como Deus salva e como esta salvação se manifesta aos homens, isto é, através da graça mediante a fé , constituindo-se no mais peculiar marco teológico da Reforma Protestante. Para obter o favor divino, os reformadores ensinavam que o homem se aproxima Deus através de Seu Filho, Jesus Cristo e isto pela fé. Não pelo esforço humano! Não através de promessas! Não através de cerimônias e rituais! Mas somente através de Cristo.

A Justificação pela fé é uma construção teológica, derivada das Escrituras Sagradas, sendo, destarte, uma teorização da salvação, ou melhor, uma soteriologia, uma forma lógica e racional de entender o processo salvífico. Em um mundo pós-moderno como o que é vivido no século 21, tal preocupação e a energia dispensadas ao assunto parecem irrelevantes, entretanto, a soteriologia reformada foi fundamental no século 16, século da Reforma Protestante, porquanto já afirmamos, o homem em questão era intensamente religioso e a cosmovisão era teocêntrica. A Igreja influenciava todos os campos do conhecimento e era quem estabelecia o critério da verdade.

Na Idade Média, a religião norteava a vida do homem e a sua cosmovisão vinha pelo espectro da doutrina cristã. Destarte, não podemos em hipótese alguma, minimizar a soteriologia como o coração pulsante da Reforma Protestante. Os interesses políticos, econômicos e sociais presentes no movimento, apenas emprestam sua temporalidade ao mesmo, mas que, sobretudo, foi um clamor religioso, principalmente entre os populares na Alemanha, Suíça, Inglaterra e, posteriormente, Holanda e tal clamor foi o grito pela face de um Deus misericordioso, que a Igreja Católica insistia em não apresentar.

A Soteriologia foi a principal preocupação da Reforma. Nem poderia ser diferente, afinal estava em jogo o destino dos homens. O Instinto da vida é a força mais poderosa existente no ser humano, principalmente quando se entende que esta vida pode ser eterna.



2 – A BIBLIOLOGIA:

A segunda grande formulação teológica da Reforma Protestante e que constitui em um marco do movimento em que o distingui dentro do cristianismo é a bibliologia, a doutrina das Sagradas Escrituras.

Tal fundamentação teológica é importante de ser compreendida porque para os reformadores As Escrituras Sagradas eram a infalível e suficiente Palavra de Deus, cujas consciências devem a elas se subordinar, visto que são normativas, atemporais, devendo ser lidas, meditadas e compreendidas por todos os homens.

O interesse dos reformadores pelos estudos das Escrituras devia-se a uma forte compreensão de que o encontro com o divino poderia acontecer à medida que o homem meditasse na Palavra de Deus .

A ênfase na Palavra escrita de Deus levou os reformadores a desenvolver o postulado, “Sola Scriptura”, isto é, Somente a Escritura, que comunica que a verdade somente pode ser achada nas Escrituras Sagradas, pois constituem nas palavras de Deus.

A Bibliologia reformada, com sua ardente defesa da inspiração divina do texto, tinha endereço certo, porquanto a teologia católica, embora reconhecesse a autoridade das Escrituras, reconheciam também a autoridade da Tradição para questões relacionadas à fé. Os reformadores não rejeitavam o acúmulo do conhecimento e de sabedoria repousados nos concílios seculares e nas obras dos Pais da Igreja, mas, apesar de os respeitarem, não viam em tais expedientes nenhuma autoridade especial ou peculiar, isto era, para a teologia reformada, privilégio das Escrituras Sagradas, somente. A Bíblia, nesta teorização, seria autolegitimadora . Nas palavras de Timothy George:

“Enquanto que a Igreja Romana recorria ao testemunho da igreja a fim de validar a autoridade das Escrituras canônicas, os reformadores protestantes insistiam em que a Bíblia era autolegitimadora, isto é, considerada fidedigna com base em sua própria perspicuidade {...} comprovada pelo testemunho íntimo do Espírito Santo.


A Palavra de Deus tornou-se tão central na teologia e prática eclesial do movimento protestante que sua ministração transformou-se em uma das marcas distintas da verdadeira igreja de Cristo, simbolizada pela centralidade do púlpito nos templos protestantes.

A Ênfase no Sola Scriptura deu origem a diversos núcleos para estudo da Bíblia nos lares de fiéis protestantes na Europa, surgindo assim a necessidade de alfabetizar os populares para que a leitura fosse possível, inspirando, posteriormente, a fundação de sistemas de educação pública para financiar a educação às massas.



3 - A ECLESIOLOGIA:


Outro marco teológico da Reforma Protestante foi a eclesiologia, ou seja, a teorização ou doutrina da igreja. Na Idade Média a estrutura hierárquica da Igreja Católica estabelecia a centralidade da Igreja e do Sacerdócio Oficial como instrumentos de aproximação entre o homem e Deus. A Espiritualidade era, até então, eclesial, comunitária, formal e horizontal. A idéia de uma aproximação direta com Deus, sem a mediação e viés da Igreja simplesmente não era admitida.
A Reforma Protestante pensou a Eclésia, declarando que:

“{...} é a comunhão de santos e congregação de fiéis que ouviram a Palavra de Deus nas Escrituras e que, com serviço obediente ao seu Senhor, prestam testemunho dessa palavra ao mundo” .

A Reforma Protestante entendeu a igreja como uma comunidade de fies em Cristo Jesus, que se reúnem em torno da Palavra de Deus. Destarte, onde houvesse, então, estes encontros (crentes, Jesus Cristo e a Palavra de Deus) a verdadeira igreja se faria presente.

Além do conceito de igreja conforme descrito acima, outra característica eclesiológica importante foi a defesa do sacerdócio universal dos crentes, em que todos os crentes são sacerdotes , tendo acesso direto a Deus, sem a mediação de um líder religioso local, trazendo não apenas o privilégio do acesso, antes pensado como específico aos sacerdotes ordenados formalmente, mas, também, dos deveres do testemunho, do serviço e da santificação por meio do uso dos meios de graças .

Na Reforma Protestante a igreja deixou de ser o edifício e o clero e passou a ser a comunidade de fé. As implicações quanto esta doutrina reformada foram fortíssimas para o Catolicismo romano, que sempre primou pela unidade da Igreja, através de sua representação episcopal e obediência ao Papa. A eclesiologia católica é monárquica e, logo, centralizada, pontificada na primazia do Vaticano, enquanto que a protestante é autônoma e local, onde cada comunidade é livre, tendo nas Escrituras sua única regra de fé e prática.

A Eclesiologia protestante fragmentou as intenções imperialistas da Igreja Romana, contribuindo para a cristalização do conceito de igrejas e estados nacionais o que terminou inevitavelmente acontecendo em toda a Europa.


CONCLUSÃO:


Nosso objetivo neste ensaio foi demonstrar que a Reforma Protestante foi um movimento intelectual de perspectiva teológica. Toda uma teoria foi construída a fim de justificá-la. Não foi um movimento religioso fanático e iletrado. Tampouco foi apenas o resultado de tendências sociológicas inevitáveis. Semelhantemente, não foi um protesto político e econômico usando o discurso religioso como pretexto. Rompimentos políticos aconteceram com resultado da Reforma, reconhecemos. Uma nova noção de Estado ganhou cores com a Reforma e a própria soube tomar proveito. Aspectos econômicos receberam novas luzes com a Reforma e teólogos reformados famosos contribuíram com este particular. Todavia, a Reforma Protestante, deu as mais significativas contribuições no campo da teologia, pois este era o seu combustível e principal campo de atuação e interesse. A reflexão teológica da Reforma, discutindo o destino do homem, sua subserviência exclusiva à Palavra de Deus e o papel deste homem salvo e cativo às Escrituras na comunidade e, principalmente, na sociedade, contagiou outros campos do saber, buscando moldar a sociedade e imprimir na mesma os valores do Reino de Deus.

Soli Deo Glória!!!



REFERÊNCIAS:

A Bíblia de Genebra. São Paulo: Editora Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

BIÈLER, André. O Pensamento Econômico e Social de Calvino. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990.

LATOURETTE, Kenneth Scott. Uma História do Cristianismo. Vol: 2. São Paulo: Hagnus, 2006.

GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1994.

GONZALEZ, JUSTO. A Era dos Reformadores: Uma História Ilustrada do Cristianismo. Vol.6. São Paulo: Vida Nova: 1994.

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.

OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Vida, 1999.