quinta-feira, 28 de julho de 2011

Morre John Stott, aos 90 anos de Idade.

Livre como um pássaro

Morre John Stott, teólogo britânico que ajudou a construir a Igreja contemporânea.

POR: Carlos Fernnades


Nos últimos anos, o pastor e teólogo britânico John Stott já não podia, em função da idade, praticar uma de suas paixões: a ornitologia. Aficionado pela observação de pássaros, era nos bosques do Reino Unido que ele passava boa parte de suas horas de folga, com binóculo em punho, máquina fotográfica a tiracolo e o inseparável caderninho de anotações. Desavisados poderiam pensar que era apenas mais um idoso preenchendo o ócio da aposentadoria. As aparências enganam. Ali estava um dos gigantes da fé cristã contemporânea, que ajudou a construir a Igreja Evangélica ao longo do século 20. Teólogo brilhante, pastor apaixonado, filantropo convicto, conferencista eloquente, escritor inspirado e idealista de vanguarda, Stott deixou esta vida no dia 27 de julho, em Londres, de causas naturais, aos 90 anos. Livre como os pássaros que ele tanto amava.

No seu último aniversário, em abril, amigos, colaboradores e parentes mais chegados – Stott era solteiro e não tinha filhos – fizeram uma reunião com ele na casa de repouso onde vivia. O encontro teve inegável caráter de despedida. “Já sabíamos o que estava para acontecer. Stott deixou um exemplo impecável para lideres de ministérios em todo o mundo – amor pela Igreja global, paixão pela fidelidade bíblica e amor pelo Salvador”, define Benjamin Homam, presidente de John Stott Ministries, entidade criada pelo pastor para apoiar líderes cristãos ao redor do mundo. A instituição é apenas uma parte do imenso legado espiritual daquele que, segundo David Brooks, colunista do New York Times, seria eleito papa, caso os protestantes tivessem um.



“SIMPLES E COMUM”

Nascido em família abastada, John Robert Walmsley Stott era filho de sir Arnold Stott, médico da Família Real. Criado na Igreja Anglicana com as três irmãs, ele fez sua decisão por Cristo aos 18 anos de idade. A mente privilegiada levou-o à prestigiada Universidade de Cambridge, onde graduou-se em letras. Ali, conheceu a Aliança Bíblia Universitária e sentiu o chamado para o pastorado. Formou-se em teologia no Seminário Ridley Hall e logo assumiu o púlpito da Igreja Anglicana All Souls (“Todas as almas”), onde ministrou durante três décadas, sempre disponível às ovelhas apesar da agenda cada vez mais apertada.

Capelão da Coroa Britânica entre 1959 e 1991, foi neste período que o ministério de Stott atingiu seu maior esplendor. Protagonista do movimento conhecido como Evangelho integral, ele organizou, na companhia do evangelista Billy Graham e outras lideranças, o Congresso Internacional de Evangelização, em Lausanne (Suíça), em 1974. O evento entrou para a história da Igreja Cristã por lançar as bases de uma abordagem da fé inteiramente contextualizada à sociedade, sem, contudo, abrir mão dos princípios basilares do Evangelho, consubstanciada no Pacto de Lausanne. Fundou ainda o London Institute for Contemporary Christianity, em 1982.

John Stott escreveu cerca de 40 livros e percorreu o mundo como convidado especial em cruzadas, congressos e solenidades. Esteve no Brasil duas vezes. Numa delas, reuniu cerca de 2 mil pastores no Congresso Vinde em 1989, com outro tanto do lado de fora por falta de espaço. Em todas estas viagens, sempre recusou hospedagem em hotéis cinco estrelas. Não costumava nem repetir refeições. “Quando comemos um segundo prato, alguém está deixando de comer o primeiro”, dizia. Tudo a ver com alguém que, ao morrer, possuía apenas um sítio e um apartamento e definia dessa maneira o que é ser evangélico: “É ser um cristão simples e comum.”

Morre John Stott, aos 90 anos de Idade.

Livre como um pássaro

Morre John Stott, teólogo britânico que ajudou a construir a Igreja contemporânea.

POR: Carlos Fernnades


Nos últimos anos, o pastor e teólogo britânico John Stott já não podia, em função da idade, praticar uma de suas paixões: a ornitologia. Aficionado pela observação de pássaros, era nos bosques do Reino Unido que ele passava boa parte de suas horas de folga, com binóculo em punho, máquina fotográfica a tiracolo e o inseparável caderninho de anotações. Desavisados poderiam pensar que era apenas mais um idoso preenchendo o ócio da aposentadoria. As aparências enganam. Ali estava um dos gigantes da fé cristã contemporânea, que ajudou a construir a Igreja Evangélica ao longo do século 20. Teólogo brilhante, pastor apaixonado, filantropo convicto, conferencista eloquente, escritor inspirado e idealista de vanguarda, Stott deixou esta vida no dia 27 de julho, em Londres, de causas naturais, aos 90 anos. Livre como os pássaros que ele tanto amava.

No seu último aniversário, em abril, amigos, colaboradores e parentes mais chegados – Stott era solteiro e não tinha filhos – fizeram uma reunião com ele na casa de repouso onde vivia. O encontro teve inegável caráter de despedida. “Já sabíamos o que estava para acontecer. Stott deixou um exemplo impecável para lideres de ministérios em todo o mundo – amor pela Igreja global, paixão pela fidelidade bíblica e amor pelo Salvador”, define Benjamin Homam, presidente de John Stott Ministries, entidade criada pelo pastor para apoiar líderes cristãos ao redor do mundo. A instituição é apenas uma parte do imenso legado espiritual daquele que, segundo David Brooks, colunista do New York Times, seria eleito papa, caso os protestantes tivessem um.



“SIMPLES E COMUM”

Nascido em família abastada, John Robert Walmsley Stott era filho de sir Arnold Stott, médico da Família Real. Criado na Igreja Anglicana com as três irmãs, ele fez sua decisão por Cristo aos 18 anos de idade. A mente privilegiada levou-o à prestigiada Universidade de Cambridge, onde graduou-se em letras. Ali, conheceu a Aliança Bíblia Universitária e sentiu o chamado para o pastorado. Formou-se em teologia no Seminário Ridley Hall e logo assumiu o púlpito da Igreja Anglicana All Souls (“Todas as almas”), onde ministrou durante três décadas, sempre disponível às ovelhas apesar da agenda cada vez mais apertada.

Capelão da Coroa Britânica entre 1959 e 1991, foi neste período que o ministério de Stott atingiu seu maior esplendor. Protagonista do movimento conhecido como Evangelho integral, ele organizou, na companhia do evangelista Billy Graham e outras lideranças, o Congresso Internacional de Evangelização, em Lausanne (Suíça), em 1974. O evento entrou para a história da Igreja Cristã por lançar as bases de uma abordagem da fé inteiramente contextualizada à sociedade, sem, contudo, abrir mão dos princípios basilares do Evangelho, consubstanciada no Pacto de Lausanne. Fundou ainda o London Institute for Contemporary Christianity, em 1982.

John Stott escreveu cerca de 40 livros e percorreu o mundo como convidado especial em cruzadas, congressos e solenidades. Esteve no Brasil duas vezes. Numa delas, reuniu cerca de 2 mil pastores no Congresso Vinde em 1989, com outro tanto do lado de fora por falta de espaço. Em todas estas viagens, sempre recusou hospedagem em hotéis cinco estrelas. Não costumava nem repetir refeições. “Quando comemos um segundo prato, alguém está deixando de comer o primeiro”, dizia. Tudo a ver com alguém que, ao morrer, possuía apenas um sítio e um apartamento e definia dessa maneira o que é ser evangélico: “É ser um cristão simples e comum.”

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Sermão: Êxodo 19. 7-17.

Reflexão: Êxodo 19. 7-17.


A Liderança Especial de Moisés.

Por: Idauro Campos

Introdução:




O momento é importante na história do povo hebreu, pois o mesmo acabara de sair do Egito (19.1) e estavam prestes a receber de Deus, através de Moisés, as tábuas da Lei (Ex 20.1-31.18). Moisés fora escolhido por Deus para liderar o povo de Israel.



Proposição:



A passagem nos indica características importantes que Moisés possuía e que os homens e as mulheres de Deus chamados (as) para liderar, também devem ter:



1ª -Liderança Compartilhada (Prestação de Conta) – “Moisés, chamou os anciãos e expôs...” (vs 7).



a) Moisés não era um líder isolado, vaidoso e déspota. Fora o escolhido para conduzir o povo até Canaã, mas nunca desrespeitou as lideranças menores de Israel. Ele compartilhava do que ouvira de Deus (19.3-6) junto com seus auxiliares.



b) O Verdadeiro Líder não tem medo de ouvir o que os demais tem a dizer.



2ª - Fidelidade à Palavra de Deus – “Expôs {...} todas estas palavras que o Senhor lhe havia ordenado” (vs 7).


a) O bom líder cristão não tem tanta preocupação em ser criativo quanto em ser fiel ao que Deus lhe mostrou, ensinou e ordenou. Moisés, não expõe suas idéias e opiniões, mas sim o que Deus requeria dele e dos demais.


Ex: Eugene Peterson



b) O povo de Deus deve ansiar por líderes que lhe exponham a fidedignamente a Palavra de Deus.





3ª - Vida de Contemplação ao Senhor (oração e audição) – “E Moisés relatou ao Senhor {...} Disse o Senhor a Moisés (vs 8 e 9).



a) O líder cristão contempla a face de Deus. Ele fala com o Senhor, por meio da oração, e Deus lhe fala ao coração.



b) O verdadeiro líder tem vida de oração e comunhão com Deus.



4ª - O verdadeiro líder é marcado pela presença de Deus (Unção) – “Disse o Senhor: Eis que virei a ti numa nuvem escura, para que o povo ouça quando eu falar contigo e para que creiam sempre em ti” (vs 9).



a) O povo sabia que Moisés andava com Deus e, por isso, sua mensagem tinha autoridade (Ex 34.29-35).



b) Os ministros de Deus (da palavra, do ensino, do louvor e qualquer outro ministério precisam ter unção de Deus em suas vidas).

Ex: Jonathan Edwards e George Whitefield.





5ª- O Verdadeiro Líder Intercede pelo povo – “Porque Moisés tinha anunciado as palavras do seu povo ao Senhor” (vs 9).



a) Moisés se importava com o povo e investia seu tempo apresentando suas necessidades a Deus.



b) Quanto tempo passamos orando por nossas ovelhas ou nossos alunos da classe da Escola Dominical e os demais que Deus colocou sob nossos cuidados.





6ª - O Bom Líder leva seu povo a encontrar-se com Deus – “E Moisés levou o povo {...} ao encontro com Deus” (vs 17).



a) Missão Maior de um líder cristão!

b) “A função do pastor é manter as pessoas atentas em Deus”.




Conclusão:

Ser chamado para liderar o povo de Deus é privilégio! Aprendamos com Moisés, o maior líder do Antigo Testamento, a como exercer tão sublime vocação a fim de agradarmos Aquele que nos chamou para esta nobre e gloriosa função!



Soli Deo Glória!!!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

RESENHA: A Pedagogia de Jesus

Por: Idauro Campos



J.M.Price, A Pedagogia de Jesus (Rio de Janeiro: JUERP, 1980) 162p.

Publicada no Brasil em 1980 pela Junta de Educação Religiosa e Publicações (JUERP) “A Pedagogia de Jesus”, encontra-se atualmente esgotada em português. Foi publicada pela primeira vez em inglês (versão original) em 1954 por J.M. Price. Seu conteúdo é fruto, como o próprio autor afirma no prefácio, das exposições sobre educação religiosa ministradas em seminários, igrejas, congressos, convenções e em cursos intensivos.

O livro é dividido em nove capítulos onde o foco central é a excelência de ministério de ensino de Jesus.

No primeiro capítulo (p.9-25), intitulado de “A idoneidade de Jesus para ensinar”, são apresentados alguns conceitos sobre o ministério pedagógico de Cristo, tais como: a Encarnação da Verdade (9-12); o desejo de servir (12-14); a crença no ensino (14-18); o conhecimento das Escrituras (18-20); a compreensão da natureza humana (21-22) e o domínio da arte de ensinar (22-25).

Na encarnação da verdade o autor destaca que Cristo “foi cem por cento aquilo que ensinou” (p.10), sendo isto um fator fundamental para o seu êxito como mestre. Destarte, o autor desafia que “como mestre humanos podemos demonstrar o delineamento do Cristo que mora em nós (p.12). O autor salienta que Jesus era idôneo para ensinar, porque encarnou a verdade e, assim, como seus seguidores, nós, principalmente os que foram chamados para servir como mestres, devemos encarnar a verdade, ou seja, viver o que ensinamos”.

Outra ênfase que merece destaque neste capítulo é quanto “a compreensão da natureza humana”, pois aqui o autor pontifica que “tal qualificação é muitíssima necessária ao processo...” (p.20), visto que urge conhecer as necessidades mais profundas dos alunos, objetivando ajudá-los. “Estamos ensinando pessoas, e não a Bíblia (p.21)”, reverbera.

No capítulo 2 (p.27-42) a ênfase recai sobre as características dos discípulos. É um capítulo como “Imaturidade”, “Impulsividade”, “Pecado”, “Perplexidade”, “Ignorância”, “Preconceito” e “Instabilidade” foram explorados. Destaco neste trecho do livro as páginas 39-41, onde são argumentados os aspectos da natureza instável dos discípulos.

O autor indica que apesar dos três anos de ensino ministrado por Jesus, tendo Ele se dirigido a milhares de pessoas, apenas 120 seguidores permaneceram fiéis. O autor nos lembra sapientemente, que mesmo “cultos sem vida”, hoje em dia, conseguem reunir mais pessoas. O capítulo pode, portanto, ser um valioso estímulo para os mestres cristãos contemporâneos, pois, haja visto, que se tal realidade configurou o ministério do Mestre dos mestres, quanto mais o nosso. No entanto, o capítulo deixa, lamentavelmente, de registrar a passagem bíblica de Mt 28:16 e Lc. 24:40-41 que poderia servir como base para a argumentação para o tema, pois fica patente a instabilidade crônica dos discípulos que conseguem duvidar mesmo sendo testemunhas oculares da ressurreição.

No capítulo 3 temos o relato da objetividade do ensino de Jesus (45-61). É um capítulo em que Price identifica o alvo que Jesus queria alcançar nos seus discípulos, declarando que “Ele nunca ensinava somente pelo fato de ser chamado a ensinar. Ele sempre tinha um propósito e fins definidos a atingir” (p.45). Assim sendo, Price relaciona a “formação de ideais justos” (p.45-47), a firmar de “convicções fortes” (p.48-50); “a conversão a Deus” (p.50-52); “o relacionamento com os outros” (p.52-54); “a resolução dos problemas da vida” (p.54-56); “a formação de caracteres maduros” (p.56-58) e “a preparação para o serviço cristão” (p.58-60), como as metas de Cristo em seu ensino.

Destaco neste capítulo a abordagem para “a conversão a Deus” como sendo o alvo mais importante que um mestre cristão deve visar. J.M.Price chega a afirmar que “... todas as atividades da vida devem ser dirigidas deste centro” (p.51). Afinal, é de se esperar que um coração convertido a Deus produzirá ações retas que tornará a vida mais justa, igual e benéfica para todos.

No capítulo 4 (63-80) são apresentados os princípios que acompanham o ministério de Jesus. É um capítulo abstrato em que o autor explora alguns episódios da vida do Senhor e dali propõe uma aplicação. Destarte, Price apresenta idéias como: “a capacidade de Jesus olhar para longe” (p.63-65); “em valorizar o contato pessoal” (p.66-69); “em principiar onde estava o aluno” (p.69-71); “em deter-se em assuntos vitais” (p.71-73); “em trabalhar a consciência dos indivíduos” (73-75); “em olhar para o que há de bom no aluno” (75-77) e “assegurar a liberdade de ação” (p.77-79).

O quinto capítulo (81-99)
é uma apresentação das fontes (Escrituras Sagradas, o mundo natural e o cotidiano), das formas (afirmativas, expressões incisivas e figuras de linguagem) e os propósitos (iniciar, aclarar e fortalecer), como recursos utilizados por Jesus para transmitir o seu ensino. Neste capítulo, o destaque recai sobre o uso das Escrituras Sagradas como fonte de ensino (p.81-83). Afinal, como Price alega, citando os registros de D.R. Piper, Cristo “... usou livremente as Escrituras do Velho Testamento. D.R. Piper nos conta que Ele fez do Velho Testamento trinta e oito citações diretas, quatro vezes aludiu acontecimentos nele registrados e cinqüenta vezes empregou linguagem paralela a certas palavras do Velho Testamento”. E diz ainda que “... se refiriu a vinte e um dos livros do Velho Testamento” (p.81-82). Assim Price enfatiza o apego pedagógico de Cristo às Escrituras, ressaltando, inclusive, que foi através dela que o Senhor repreende satanás no deserto (p.96), sendo, portanto, uma prova que “nada, na verdade, fortalece mais o nosso ensino do que um apelo “à lei e ao testemunho” (p.96).

No sexto capítulo (p.99-115) há um esboço como sugestão para a organização de uma lição. Fundamentos como: “o começo da lição” (p.99-102); “exemplos como ilustração” (p.102-104); “o desenvolvimento da lição” (p.104-108); e “conclusão” (p.109-113), são obviamente apresentados. Entre os fundamentos há um destaque do autor quanto o início da lição, pois, sendo o ponto de partida, é vital que o aluno tenha a sua atenção conquistada (p.99).

Os capítulos 7 e 8 (p.115-146), J.M. Price expõe os métodos de Jesus para ensinar, ressaltando o uso de objetos (p.115-119), dramatizações (p.120-124); histórias ou parábolas (p.124-129); preleções (p.131-135); perguntas (135-138) e debates (139-144).

No último capítulo (9), Price apresenta objetivamente os resultados alcançados por Jesus em sua docência, tais como: “a valorização e elevação da pessoa humana” (p.147-149); “a transformação de vidas” (p.149-151); o “incentivo para reformas” (p.151-153); “a melhoria das instituições” (p.153-154); “saturação da Literatura” (p.154-156); “a influência nas artes” (p.156-157); “a inspiração da Filantropia” (p.157-159) e a “inspiração para servir” (p. 159-161). Destaco neste derradeiro capítulo, o tópico que abrange a transformação de vida, onde o autor registra a mudança que alguns homens do Novo Testamento e da História da Igreja experimentaram e as contribuições que deram ao mundo.

As críticas mais incisivas vão para a formatação do livro, pois o tamanho da fonte utilizada, especialmente, na contra capa torna a leitura um tanto cansativa. Além disso, a obra merece uma nova edição pelo valor e relevância que seu conteúdo apresenta, sem contar que após esta edição (1980), novos conceitos pedagógicos foram estabelecidos e que torna necessário interagi-los com os conceitos apresentados no livro.

Recomendo a obra como livro texto para os cursos de pedagogia cristã, liderança e bacharel em teologia, visto que estes visam preparar os vocacionados para o serviço do Reino de Deus, no qual, inclui-se, o ensinar pessoas. A obra é útil, necessária e pertinente. Abordando com eficiência os fundamentos de um dos pilares da vida cristã: o ensino.

O Progresso e o Reino de Deus- Uma Avaliação da Teologia da Crise de Emil Brunner

INTRODUÇÃO

Por: Idauro Campos


Neste comentário estaremos analisando de forma sintética a abordagem que o teólogo suíço Emil Brunner faz sobre a tensão que existe entre o sonho de progresso da humanidade e o Reino de Deus. Sua abordagem faz parte da série de palestras que ministrou em 1928 nos Estados Unidos, e que culminou com a publicação do livro “Teologia da Crise.
A tese principal de Brunner no capítulo em questão é mostrar que o tão almejado progresso do homem, em que este vai adquirindo conhecimento com o transcorrer do tempo e, assim tornando-se melhor, não passa de uma ideologia irreal. Para isto Brunner apresenta que a ordem esperada não virá do homem e sim do Deus do Antigo e Novo Testamentos.

O PROGRESSO E O REINO DE DEUS


Emil Brunner, destaca que a evolução tem sido dominante nos Estados Unidos. Uma evolução sob a perspectiva naturalista, representada que está nas teorias da causalidade e da relação natural, e a perspectiva idealista, representada no esquema hegeliano.

Esta idéia de evolução nada mais é que o sonho de progresso do homem. O homem acredita que pode progredir tornando-se cada vez melhor podendo assim viver à altura dos mais nobres ideais.

No entanto, Emil Brunner, salienta que esta expectativa de uma imanência crescente no homem, onde cada vez mais ele toma consciência de si, de seus desafios e potencialidades e propõe uma busca pela concretização da instauração definitiva do bem supremo, não é real, pois não leva em conta a natureza pecaminosa do homem.

Apesar da consciência e da luta pela melhoria da sociedade, o homem é escravo do pecado e qualquer tentativa empírica de promoção das virtudes neste século, não se conseguirá chegar a este lugar sem que o pecado também esteja presente. O pecado acompanha o homem. As ações mais propositivas na restrição do mal estão acompanhadas pela presença marcante do pecado.

Bem, se o pecado é uma má notícia entre nós e todos os esforços em alcançar um bem são inúteis, visto que a mácula do pecado sempre estará presente, o que, então, podemos fazer? Qual seria a expectativa da humanidade? Brunner pontifica que as Escrituras Sagradas tem algo a dizer quanto à ordem no caos que o Senhor pretende estabelecer.

Brunner declara que no Antigo Testamento, por exemplo, Deus se revela e investe no homem à despeito do caráter deste. Não é a melhora do homem que atrai Deus. É o Deus do Antigo Testamento que atrai o homem caótico, confuso e debilitado para Si. O Antigo Testamento apresenta um Deus que entra na história humana e lhe apresenta um rumo, uma direção. A graça de Deus só faz sentido porque é um favor, um bem, uma ação de Deus em direção a homens dignos de repúdio. A graça não é manifestação da imanência e sim da transcendência. Deus eterno, santo, poderoso decide compartilhar sua vida, seus planos, conosco. O Reino de Deus vem, mas não por força ou mérito do homem, mas porque o Rei resolveu abrir as portas de seus palácios para que bêbados e vagabundos entrassem e sentassem à mesa com Ele.


O PROGRESSO E O REINO NO NOVO TESTAMENTO


Diferentemente do que muitos liberais e conservadores, pós-milenistas afirmam, o Novo Testamento não traz nenhuma expectação de uma melhora no homem que venha, por conseguinte, aperfeiçoar o cosmos. “O oposto que é verdadeiro”, diz Brunner, pois, de acordo com a linguagem escatológica empregada no Novo Testamento, “os últimos tempos serão os mais terríveis. Nenhum progresso lento é esperado pelo qual forças do mal serão subjugadas”. Portanto, por mais que haja avanços tecnológicos, melhorias no nível de vida, índices favoráveis de educação e avanços significativos nas questões humanitárias, também é verdade que a “iniquidade tem multiplicado”; o amor esfriado e a apostasia está acontecendo.

Para os escritores do Novo Testamento o Reino de Deus, tão esperado, não virá gradualmente, à medida que o homem avançar, mas através de Jesus Cristo que inaugurou o Reino. Entretanto, este Reino inaugurado só pode ser visto, vivido e celebrado pela fé e não pelos sentidos. Apesar disto os efeitos deste Reino podem ser percebidos na Terra, mas não geograficamente, como uma teocracia temporal. O Reino de Deus, inaugurado por Cristo, coloca a criação em ordem, ainda que não plenamente nesta presente era. A nova vida, pode ser vista naqueles que se apoderaram e que foram apoderados pelo Reino.

Longe, então, do Reino de Deus ser o cumprimento da progressão do homem, é a dinâmica do Espírito que entra neste tempo e espaço e propõe uma nova existência. Esta existência à seu tempo será plenamente revelada, porém no momento pode-se perceber sua presença entre nós. Ou seja, o caos não é para sempre, mas seu fim não depende de nós. É Jesus Cristo quem dá o golpe final e estabelece, através de seu Reino, a nova vida, o novo céu, a nova terra e as pisadas do novo homem.

UM APELO ÉTICO


Emil Brunner não desconsidera o esforço em lutar por uma aplicação ética e social da fé. O cristão, afinal, é um militante do bem e sua consciência deve estar sempre inquieta com a injustiça que impera na sociedade. Portanto, há o lugar da intercessão e da ação pelas causas que contribuam com um mundo melhor. O Sermão do Monte, especialmente na parte que aponta a bem-aventurança dos que tem fome e sede de justiça, vale para esta sociedade aqui e agora. Entretanto, a libertação do mal; a vitória sobre o pecado; a vida em plenitude não se dará através da evolução do processo histórico. As conquistas definitivas do homem só serão possíveis, através da salvação que se encontra na fé no Filho de Deus, Jesus Cristo. Há sim um otimismo em relação ao futuro, mas este otimismo perpassa a obra do Filho de Deus entre nós. Cristo salva, liberta e reorienta a sociedade. A sociedade encontra seu clímax, em termos de vitória sobre os males, somente em Jesus Cristo. A salvação pertence à Ele!

CONCLUSÃO


Nem o fatalismo fundamentalista, ocioso, expectador, inútil e sem projeto dos que apenas dizem que não adianta lutar porque nada vai melhorar mesmo. Mas também NÃO! Ao ufanista, triunfalista, crédulo em demasia no potencial do homem, como se o Reino de Deus fosse algo que dependesse apenas de nossa boa vontade, altruísmo e eficiência. Que venha o Reino de Deus! O Reino que, antes de mudar estruturas, mudará mentes e corações. Na verdade, este Reino já está entre nós. Vejamos e nos alegremos por seu avanço. Destarte,não mais “Bendito o que vem”, mas sim, “Bendito o que veio em nome do Senhor!”