Por: Idauro Campos
J.M.Price, A Pedagogia de Jesus (Rio de Janeiro: JUERP, 1980) 162p.
Publicada no Brasil em 1980 pela Junta de Educação Religiosa e Publicações (JUERP) “A Pedagogia de Jesus”, encontra-se atualmente esgotada em português. Foi publicada pela primeira vez em inglês (versão original) em 1954 por J.M. Price. Seu conteúdo é fruto, como o próprio autor afirma no prefácio, das exposições sobre educação religiosa ministradas em seminários, igrejas, congressos, convenções e em cursos intensivos.
O livro é dividido em nove capítulos onde o foco central é a excelência de ministério de ensino de Jesus.
No primeiro capítulo (p.9-25), intitulado de “A idoneidade de Jesus para ensinar”, são apresentados alguns conceitos sobre o ministério pedagógico de Cristo, tais como: a Encarnação da Verdade (9-12); o desejo de servir (12-14); a crença no ensino (14-18); o conhecimento das Escrituras (18-20); a compreensão da natureza humana (21-22) e o domínio da arte de ensinar (22-25).
Na encarnação da verdade o autor destaca que Cristo “foi cem por cento aquilo que ensinou” (p.10), sendo isto um fator fundamental para o seu êxito como mestre. Destarte, o autor desafia que “como mestre humanos podemos demonstrar o delineamento do Cristo que mora em nós (p.12). O autor salienta que Jesus era idôneo para ensinar, porque encarnou a verdade e, assim, como seus seguidores, nós, principalmente os que foram chamados para servir como mestres, devemos encarnar a verdade, ou seja, viver o que ensinamos”.
Outra ênfase que merece destaque neste capítulo é quanto “a compreensão da natureza humana”, pois aqui o autor pontifica que “tal qualificação é muitíssima necessária ao processo...” (p.20), visto que urge conhecer as necessidades mais profundas dos alunos, objetivando ajudá-los. “Estamos ensinando pessoas, e não a Bíblia (p.21)”, reverbera.
No capítulo 2 (p.27-42) a ênfase recai sobre as características dos discípulos. É um capítulo como “Imaturidade”, “Impulsividade”, “Pecado”, “Perplexidade”, “Ignorância”, “Preconceito” e “Instabilidade” foram explorados. Destaco neste trecho do livro as páginas 39-41, onde são argumentados os aspectos da natureza instável dos discípulos.
O autor indica que apesar dos três anos de ensino ministrado por Jesus, tendo Ele se dirigido a milhares de pessoas, apenas 120 seguidores permaneceram fiéis. O autor nos lembra sapientemente, que mesmo “cultos sem vida”, hoje em dia, conseguem reunir mais pessoas. O capítulo pode, portanto, ser um valioso estímulo para os mestres cristãos contemporâneos, pois, haja visto, que se tal realidade configurou o ministério do Mestre dos mestres, quanto mais o nosso. No entanto, o capítulo deixa, lamentavelmente, de registrar a passagem bíblica de Mt 28:16 e Lc. 24:40-41 que poderia servir como base para a argumentação para o tema, pois fica patente a instabilidade crônica dos discípulos que conseguem duvidar mesmo sendo testemunhas oculares da ressurreição.
No capítulo 3 temos o relato da objetividade do ensino de Jesus (45-61). É um capítulo em que Price identifica o alvo que Jesus queria alcançar nos seus discípulos, declarando que “Ele nunca ensinava somente pelo fato de ser chamado a ensinar. Ele sempre tinha um propósito e fins definidos a atingir” (p.45). Assim sendo, Price relaciona a “formação de ideais justos” (p.45-47), a firmar de “convicções fortes” (p.48-50); “a conversão a Deus” (p.50-52); “o relacionamento com os outros” (p.52-54); “a resolução dos problemas da vida” (p.54-56); “a formação de caracteres maduros” (p.56-58) e “a preparação para o serviço cristão” (p.58-60), como as metas de Cristo em seu ensino.
Destaco neste capítulo a abordagem para “a conversão a Deus” como sendo o alvo mais importante que um mestre cristão deve visar. J.M.Price chega a afirmar que “... todas as atividades da vida devem ser dirigidas deste centro” (p.51). Afinal, é de se esperar que um coração convertido a Deus produzirá ações retas que tornará a vida mais justa, igual e benéfica para todos.
No capítulo 4 (63-80) são apresentados os princípios que acompanham o ministério de Jesus. É um capítulo abstrato em que o autor explora alguns episódios da vida do Senhor e dali propõe uma aplicação. Destarte, Price apresenta idéias como: “a capacidade de Jesus olhar para longe” (p.63-65); “em valorizar o contato pessoal” (p.66-69); “em principiar onde estava o aluno” (p.69-71); “em deter-se em assuntos vitais” (p.71-73); “em trabalhar a consciência dos indivíduos” (73-75); “em olhar para o que há de bom no aluno” (75-77) e “assegurar a liberdade de ação” (p.77-79).
O quinto capítulo (81-99) é uma apresentação das fontes (Escrituras Sagradas, o mundo natural e o cotidiano), das formas (afirmativas, expressões incisivas e figuras de linguagem) e os propósitos (iniciar, aclarar e fortalecer), como recursos utilizados por Jesus para transmitir o seu ensino. Neste capítulo, o destaque recai sobre o uso das Escrituras Sagradas como fonte de ensino (p.81-83). Afinal, como Price alega, citando os registros de D.R. Piper, Cristo “... usou livremente as Escrituras do Velho Testamento. D.R. Piper nos conta que Ele fez do Velho Testamento trinta e oito citações diretas, quatro vezes aludiu acontecimentos nele registrados e cinqüenta vezes empregou linguagem paralela a certas palavras do Velho Testamento”. E diz ainda que “... se refiriu a vinte e um dos livros do Velho Testamento” (p.81-82). Assim Price enfatiza o apego pedagógico de Cristo às Escrituras, ressaltando, inclusive, que foi através dela que o Senhor repreende satanás no deserto (p.96), sendo, portanto, uma prova que “nada, na verdade, fortalece mais o nosso ensino do que um apelo “à lei e ao testemunho” (p.96).
No sexto capítulo (p.99-115) há um esboço como sugestão para a organização de uma lição. Fundamentos como: “o começo da lição” (p.99-102); “exemplos como ilustração” (p.102-104); “o desenvolvimento da lição” (p.104-108); e “conclusão” (p.109-113), são obviamente apresentados. Entre os fundamentos há um destaque do autor quanto o início da lição, pois, sendo o ponto de partida, é vital que o aluno tenha a sua atenção conquistada (p.99).
Os capítulos 7 e 8 (p.115-146), J.M. Price expõe os métodos de Jesus para ensinar, ressaltando o uso de objetos (p.115-119), dramatizações (p.120-124); histórias ou parábolas (p.124-129); preleções (p.131-135); perguntas (135-138) e debates (139-144).
No último capítulo (9), Price apresenta objetivamente os resultados alcançados por Jesus em sua docência, tais como: “a valorização e elevação da pessoa humana” (p.147-149); “a transformação de vidas” (p.149-151); o “incentivo para reformas” (p.151-153); “a melhoria das instituições” (p.153-154); “saturação da Literatura” (p.154-156); “a influência nas artes” (p.156-157); “a inspiração da Filantropia” (p.157-159) e a “inspiração para servir” (p. 159-161). Destaco neste derradeiro capítulo, o tópico que abrange a transformação de vida, onde o autor registra a mudança que alguns homens do Novo Testamento e da História da Igreja experimentaram e as contribuições que deram ao mundo.
As críticas mais incisivas vão para a formatação do livro, pois o tamanho da fonte utilizada, especialmente, na contra capa torna a leitura um tanto cansativa. Além disso, a obra merece uma nova edição pelo valor e relevância que seu conteúdo apresenta, sem contar que após esta edição (1980), novos conceitos pedagógicos foram estabelecidos e que torna necessário interagi-los com os conceitos apresentados no livro.
Recomendo a obra como livro texto para os cursos de pedagogia cristã, liderança e bacharel em teologia, visto que estes visam preparar os vocacionados para o serviço do Reino de Deus, no qual, inclui-se, o ensinar pessoas. A obra é útil, necessária e pertinente. Abordando com eficiência os fundamentos de um dos pilares da vida cristã: o ensino.
O livro é excelente. A resenha ficou bem elaborada.
ResponderExcluirA resenha ficou muito bem elaborada. Excelente trabalho.
ResponderExcluir