Fundamentos do Engajamento Missionário:
POR: Idauro de Oliveira Campos Júnior
Texto: Atos dos Apóstolos 13.1-4.
“Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. E servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram. Enviados, pois, pelo Espírito Sant, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre".
Na
Igreja de Antioquia (moderna Antakya, na Turquia) Paulo e Barnabé atuavam como
profetas e mestres, servindo a Deus na edificação da igreja. Não eram os únicos
ministros, porquanto Simeão, Lúcio e Manaém também são citados como obreiros
daquela comunidade de fé. Serviam todos com jejuns e oração até quando o
Espírito Santo falou à igreja, ordenando a separação de Barnabé e Paulo para a
obra missionária. A igreja de Antioquia, reconhecendo a direção do Espírito
Santo, os liberou, impondo sobre os mesmos as mãos, em um ato litúrgico de
consagração. Destarte, partiram Barnabé e Saulo para aquela que seria a
primeira, dentre três, das famosas viagens missionárias, às quais importantes
comunidades de fé seriam plantadas (especialmente através de Paulo) e cujas
narrativas seriam conhecidas posteriormente por toda a cristandade. As
conhecidas igrejas de Corinto, Filipos, Tessalônica, Éfeso, entre outras, que,
dentro de alguns anos, receberiam cartas apostólicas enviadas por Paulo,
surgiram no contexto das viagens missionários do mesmo.
O
Texto em questão pode nos ajudar em uma reflexão sobre os fundamentos do
engajamento missionário de uma igreja. Vejamos:
1- Deus
usa na Obra Missionária geralmente aqueles que são comprometidos na igreja
local.
a) O texto de Lucas chama atenção para o
ministério desenvolvido por Barnabé e Paulo (profetas e mestres – vs 1) e, além
disso, o autor nos informa que eles “serviam ao Senhor” (vs 2). Ou seja, Paulo
e Barnabé eram atuantes no contexto da igreja em Antioquia. A iniciação
ministerial deles não se deu no “campo missionário”, mas, antes disso, ou seja,
na própria comunidade de fé em que estavam inseridos, onde depositavam seus
dons e talentos.
b) Cometemos um erro crasso como igreja
quando lançamos no campo missionário obreiros sem nenhuma experiência
ministerial básica. Há pessoas que se dispõem atuar em uma frente missionária,
sem nunca terem participado de frentes de evangelização, sem nunca terem
visitado hospitais e asilos, sem qualquer experiência na abordagem
evangelística em praças públicas e afins ou até mesmo entre seus vizinhos,
familiares e amigos que poderiam servi-lhes de estágio, experiência e preparo.
c) Curiosamente há “obreiros” que rejeitam
e desprezam o engajamento na igreja local, alegando que o chamado que receberam
“é para missões”. Aliás, lembro-me de um seminarista que conheci com esse
discurso. Posso dizer que era um tanto irresponsável com os compromissos de sua
igreja, pois, conforme ele próprio afirmava, “não queria nada com a igreja”,
mas sim e apenas com o campo
missionário. Contraditório! Absurdo! Antibíblico!
d) As Escrituras Sagradas parecem sugerir
que os homens comissionados por Deus para tarefas importantes eram indivíduos
de atuação antes mesmos de “estrearem” em um ministério específico. São os
exemplos de Moisés (que “apascentava o rebanho de Jetro” – Ex 3.1); de Gideão (que
“malhava trigo no lagar” – Jz 6.11); de Davi (“que estava apascentando as
ovelhas” – 1 Sm 16.11); de André e Pedro (que “lançavam redes ao mar” – Mt
4.18); de João e Tiago (no barco “consertando as redes” – Mt 4.21); de Mateus
(“assentado na coletoria” dos impostos – Lc 5.27) e de Saulo de Tarso, que
comissionado pelo sumo sacerdote (At 9.1) empregava suas energias na
perseguição dos cristãos (At 8.3; 9.2). Podemos concluir destas passagens que Deus
não entrega grandes e sublimes responsabilidades ministeriais nas mãos de
indolentes e irresponsáveis.
2- Não São Todos os Chamados Para Deixar a
Igreja:
a) Perceba que Lucas cita os nomes de
cinco obreiros da Igreja em Antioquia: Barnabé, Simeão, Lúcio, Manaém e Saulo. Entretanto,
apenas
dois (Barnabé e Saulo) são chamados pelo Espírito Santo para
deixarem a comunidade em direção às terras longínquas. Até onde sabemos
Simeão, Lúcio e Manaém continuaram servindo a Deus na Igreja em Antioquia. Não
ficaram constrangidos ou diminuídos por não terem sido escolhidos pelo Espírito
Santo para a tarefa à qual somente Paulo e Barnabé foram designados e tampouco
houve qualquer vaidade no coração destes, julgando serem obreiros mais dignos e
merecedores da tarefa do que os outros três.
b) Todos nós somos chamados por Deus para
trabalhar na “Grande Comissão” (Mt
28.19-20), mas, não significa necessariamente que todos deixaremos
nossas famílias, empregos e igrejas locais em direção “aos confins da terra” para
evangelizar. Muitos assim farão, conforme chamado e vocação. Porém, muitos
outros não, atuando mais nas áreas da intercessão, da capitação e envio de
recursos e estruturação de planejamentos e estratégias missionárias.
c) A
pressão psicológica que alguns amantes de missões colocam sobre os demais
irmãos é imoral e insuportável. Não são poucos os crentes que saem dos cultos
missionários sentindo-se culpados e imprestáveis. Isso não é saudável! Não é
bíblico! Não vem do Espírito Santo! A atuação presencial de um obreiro à frente
de um campo missionário tem haver não tanto e apenas com seu coração servil,
mas com o dom que recebeu para este fim. É o Espírito Santo quem distribui os
dons (1 Co 12.4-13) e alguns receberão o dom típico dos apóstolos (Ef 4.11) e
serão enviados para os campos na sublime e árdua tarefa de
desbravarem as áreas para o Evangelho de Jesus Cristo. Outros serão chamados
pelo mesmo Espírito Santo para atuarem no seio da comunidade como profetas,
evangelistas, pastores/mestres, ou atuando em outros ministérios (Rm
12.4-8,13), igualmente importantes.
d) Não são poucos os obreiros que deixaram a
família, os estudos, o emprego e a igreja local em direção ao campo missionário
sem o devido chamado do Espírito Santo e que, inevitavelmente, fracassaram na
tarefa, voltando destroçados e com uma enorme decepção acerca da obra de Deus.
Acontece que Deus mesmo não tem nada com isso, pois nunca os chamou. Nunca os
mandou para o Campo Missionário. Campo Missionário não é aventura. Não é local
para se adquirir experiência. Não é lugar para desencargo de consciência
culpada. Campo Missionário é lugar de trabalho árduo e sistemático. Somente os
chamados pelo Espírito Santo devem entrar nele. Os que não foram, sintam-se
felizes nas tarefas recebidas por Deus para desempenhar e envolvam-se na Grande
Comissão nas muitas outras áreas que são fundamentais para a realização e
sustento da Obra Missionária.
3- Quem Designa Para a Obra Missionária é o
Espírito Santo:
a)
Perceba
o que diz o Espírito Santo à Igreja em Antioquia: “Separai-me, agora, Barnabé e
Saulo para a obra a que os tenho chamado” (vs 2). Além disso, Lucas
também diz que ambos foram “enviados, pois, pelo Espírito Santo” (vs
4). É claro, portanto, que o Espírito de Deus era o autor e agente do
despertamento missionário de Saulo e Barnabé. Ambos não agiram por si mesmos,
mas sim reagiram ao chamado que receberam do Senhor. Esse é o padrão
das Escrituras Sagradas no que tange ao chamado ministerial. Deus chama,
vocaciona e direciona enquanto, nós, seus servos, ouvimos Sua voz, reconhecemos
o chamado e o atendemos. Foi assim com Abraão (Gn 12.1); com Moisés (Ex 3.10);
com Josué (Js 1. 1-9) com Isaias (Is 6. 1.9); com Jeremias (Jr 1.4-10); com
Ezequiel (Ez 2.1-2); com Jonas (Jn 1.1).
Nenhum desses grandes homens de Deus por mais piedosos e espirituais que tenham
sido jamais se lançaram na tarefa ministerial que caracterizaram e marcaram suas
vidas, sem antes terem sido provocados pelo chamado de Deus. Muitos, inclusive,
não queriam a tarefa (Moisés, Jeremias e Jonas, por exemplo), mas,
constrangidos e convencidos, terminaram obedecendo ao chamado irresistível do
Espírito. A chancela do Espírito Santo é o ponto de partida de nossos
ministérios e é o que garantirá êxito no exercício dos mesmos.
b)
O
próprio Senhor Jesus Cristo tem na unção e experiência pneumatológica parte
integrante e fundamental do início do seu ministério público (Mt 3.13-17).
c)
Para
o bom desempenho da atividade missionária os obreiros precisarão do
despertamento, chamado, vocação, direção, unção, chancela, fogo, poder e paixão
do Espírito Santo. Sem Ele a Obra Missionária fracassará.
4- A Igreja Reconhece os Verdadeiros Vocacionados
Para a Obra Missionária:
a)
O
Espírito Santo falou à igreja em Antioquia acerca de Saulo e Barnabé. E, em
consequência, a igreja reconhecendo-os como separados e vocacionados pelo
Espírito os liberou ”jejuando, orando e impondo sobre eles as mãos, os despediram”
(vs 3). A igreja de Deus não tem dificuldades em reconhecer àqueles que estão
sendo chamados pelo Espírito para a Obra Missionária. E por quê? Simples. O
Espírito que falou aos vocacionados é o mesmo Espírito que falará à igreja
acerca daqueles aos quais Ele está chamando.
b)
Homens
e mulheres despertados para a Obra Missionária ou qualquer outro ministério não
precisam lutar contra a igreja, exigindo reconhecimento. O próprio Espírito de
Deus, autor da vocação, convencerá à igreja e seus líderes sobre.
c)
Charles
Haddon Spurgeon, célebre ministro batista do século XIX, afirmou a importância “do
piedoso julgamento da igreja” como evidência de nossa vocação
ministerial. Charles Spurgeon referiu-se aos pastores, mas, na verdade, podemos
usar o sábio critério do “Príncipe dos Pregadores” e aplicá-lo para todos os
ministérios. O reconhecimento dos santos é sinal e evidência do chamado dos
Obreiros.
d)
Lembro-me
de
uma frase que ouvi do Rev. Zefanias Lima, veterano ministro da União
das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (UIECB), ao nos
lembrar que “aquele que é chamado por Deus para um ministério não causa surpresa à igreja”.
A igreja naturalmente reconhece.
e)
Não
são raros os seminaristas que reclamam com seus professores acerca da falta de
reconhecimento por parte da igreja em relação às suas aspirações para o Campo
Missionário ou para o púlpito de uma igreja local. Embora reconheça a
possibilidade de igrejas e líderes serem tão carnais a ponto de não ouvirem e entenderem
a voz de Deus e até mesmo de pastores inseguros não estimularem aos jovens
vocacionados por temerem a sombra dos mesmos, contudo, a maior probabilidade é
de que a falta de reconhecimento se dá mesmo em face da falta de vocação e
chamado.
5- O Melhor Para Missões:
a) Saulo e Barnabé eram grandes obreiros.
Ministros de Deus de elevadíssima envergadura moral, ministerial e espiritual
(At 4.36-37). Eram maduros e capacitados para o ministério e, mesmo fazendo
falta e criando prováveis lacunas na igreja em Antioquia, a mesma os liberou.
Nenhuma dificuldade foi criada pelas lideranças na liberação daqueles dois
grandes servos de Deus. Quanta falta de visão quando queremos “segurar na
igreja” os melhores obreiros e enviamos para os Campos Missionários obreiros de
capacidade mediana ou até questionável!
b) Rev. Edson Queiroz, ministro batista e
uma das maiores autoridades no país em Missões, roga que ofereçamos para
Missões o nosso melhor. A melhor oferta! A melhor conferência! A melhor data no
calendário eclesiástico! Podemos acrescentar ao seu apelo “os melhores
obreiros”. Afinal, no time da Obra Missionária jogaram estrelas como
Adoniram Judson, Hudson Taylor, Willian Carey, David Livingstone, Robert Raid
Kalley, David Brainerd, J.Elliot, Nikolaus Ludwig Von Zinzendorf, Salomão Luiz Ginsburg, Ashebell Green Simonton,
William Banister Forsyth, São Patrício, Silas, Barnabé, Saulo de Tarso e
muitos, muitos outros.
A Igreja de Jesus Cristo é uma igreja
missionária. Entretanto, ela não precisará sofrer para fazer missões, pois o
Espírito Santo está em seu meio. Ele é o ponto de partida da Obra Missionária.
Que O Espírito de Deus visite nossas igrejas congregacionais e faça conosco
como fez com a Igreja em Antioquia! Que Assim seja! Amém!
Ótimo estudo.
ResponderExcluirDesafiador!
Moás Lourenço - Londrina - PR