POR: Clayton da Silva Guerreiro
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.”
II Tm 3.16,17
“Aquele que excede em doutrina saiba que seu objetivo é fazer que a Igreja seja verdadeiramente instruída, e que tenha isso como seu propósito máximo, a saber: tornar a Igreja cada vez mais instruída na Palavra da verdade.
João Calvino
Introdução:
Quando o tema “A importância da base teológica para o cristão do século XXI” fora proposto, certamente pensou-se acerca de uma “boa” base teológica. Para tratarmos acerca do tema, iremos propor a seguinte questão: Para que é importante termos uma “boa base teológica”?
I- A convivência na pós-modernidade e o enfrentamento dos seus desafios
Vivemos em um período da história chamado por muitos filósofos de pós-modernidade. Para estes, o pensamento moderno fora superado.
1.1 Divisão da história
• Pré-história- Período que antecede a invenção da escrita (+ ou – 3.500 a.C.)
• Idade Antiga- Desde a escrita cuneiforme (4000 a.C.) até a tomada do Império Romano do Ocidente pelos bárbaros (476 d.C)
• Idade Média (Alta Idade Média e Baixa Idade Média)- Desde a desintegração do Império Romano no séc. V (476 d.C.) até a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos (29/05/1453 .
Alta idade média (séc. V ao X)
Baixa idade média (séc. XI ao XV)
• Idade Moderna (Século XVI e XVII) tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos (29/05/1453) até a Revolução Francesa (14/07/1789)
• Idade Contemporânea- Inicia-se com a revolução francesa Francesa(14/07/1789), caracteriza-se pelo advento do iluminismo e ascensão da razão como critério último.
1.2 Características do pensamento moderno
Visão de mundo referente ao projeto de mundo moderno:
• Descoberta da máquina
• Processo industrial
• Capitalismo
• Antropocentrismo
• Valorização do método científico: relação do sujeito com o objeto
• Racionalidade como critério (racionalismo René Descartes 1596-1650)- busca da certeza por conhecimentos a priori, não da experiência, mas da razão
• Empirismo- John Locke (1632-1704)- O crivo da experiência
1.3 Características da pós-modernidade (modernidade tardia ou era do vazio)
Características:
• Domínio das mídias eletrônicas
• Celebração do consumo
• Hedonismo (prazer a qualquer custo)
• Narcisismo (individualismo exagerado)
• Questionamento do modelo patriarcal
• Relativismo (ausência de valores absolutos)
• Pluralidade- No âmbito religioso, seguimos o Rev. Idauro Campos em sua leitura do Dr. Heber Campos :
1- Intelectual- Desconstrucionismo / livre exame X livre interpretação
2-Religioso- Falta de pertença identitária (trânsito religioso); O peregrino e o convertido- Daniele Hervieu-Léger
3- Teológico- Teologia da prosperidade, quebra de maldição, louvor profético, gosto por títulos.
4-Ético- Escândalos resultantes do relativismo ético (ausência de valores absolutos).
II- A manutenção da identidade cristã
“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste”
2 Tm 3.14
Uma boa base teológica favorece a manutenção da identidade cristã. Esta identidade pode ser fixada a partir de alguns pilares:
2.1 Doutrinário (aquilo que se crê)
“E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.”
At 2.42
“edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular
Ef 2.20
As doutrinas bíblicas são substituídas por mensagens de auto-ajuda (Veja- edição 1964 12/07/2006, “O pastor é show”). Os principais temas bíblicos foram esquecidos. Não se fala mais sobre justificação pela fé, santificação, escatologia, etc.
2.2 Pedagógico (aquilo que ensina e prega)
“porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.”
Mt 7.29
“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, é mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.”
Hb 4.12
“Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.”
At 17.11
“Nesse meio tempo, chegou a Éfeso um judeu, natural de Alexandria, chamado Apolo, homem eloqüente e poderoso nas Escrituras”.
At 18.24
“porque, com grande poder, convencia publicamente os judeus, provando, por meio das Escrituras, que o Cristo é Jesus.”
At 18.28
Calvino dizia que o ensino deve ser realizado para glória de Deus. Para ele, a ignorância é a mãe da heresia e a Igreja é a escola da doutrina.
Julio Zabatiero propõe, em Teologia Inovadora, que a teologia se desvencilhe das asas da modernidade, tipicamente cientifista e seja multidisciplinar. Fala de quatro tipos de Teologia :
1- Teologia edificante:
É feita para as comunidades cristãs. Pode ser feita por literatura, arte, música, conversa, poesia, etc. Exs.: Ricardo Gondim, Eugene Peterson, Philiph Yancey, Carol Gualberto, João Alexandre, Nelson Bomilcar, Jorge Camargo, Sérgio Pimenta, etc.
2--Teologia Testemunhal:
Voltada para as pessoas, em geral.
Apresentação do Evangelho (vivência da fé) X proselitismo (propaganda religiosa). Exs.: Rubem Alves, Ed René Kivitz
3- Teologia profética:
Voltada para a sociedade organizada. Propõe a transformação estrutural.
Exs.:
• Teologia da Libertação (Protestantes: Richard Shaull, Rubem Alves, Jose Miguez Bonino; Católicos: Gustavo Gutierrez, Leonardo Boff, Clodovis Boff)
• Teologia da Missão Integral: Pacto de Lausanne (1974), John Stott, René Padilla, Valdir Steuernagel
4- Teologia cognitiva:
Direcionada para o diálogo com outros saberes. Exs.: Alister McGrath, ex-ateu, professor de Teologia Histórica, professor em Oxford. Autor de “O delírio de Dawkins”.
Alister McGrath “O delírio de Dawkins”
X
Richard Dawkins (fundamentalismo ateísta) “Deus, um delírio”
2.3 Práxis (aquilo que se vive)
“louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.”
At 2.47
“Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos”
Tg 1.22
“Pregue o evangelho, se necessário fale.”
São Francisco de Assis
“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros.”
Jo 13.35
“O mundo pagão diz: veja como eles se amam. Eles se amam a ponto de um dar a vida pelo outro.”
Tertuliano
“Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.”
Ap 1.9
III- A tarefa de testemunhar o evangelho
“mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” At 1.8
“mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação.” I Pe 2.12
O testemunho do Evangelho ocorre, sobretudo, na prática dele. A tarefa da pregação do Evangelho inclui responder, à luz das Escrituras, aos temas que estão sendo propostos pela sociedade. Ou seja, o que nós temos a dizer sobre:
• Eutanásia/ortotanásia (morte certa)
• Aborto
• Pobreza/fome
• Violência
• União Civil entre homossexuais
• Cuidado com o meio-ambiente
No ambiente pós-moderno precisamos aprender a conviver com o diferente e na convivência com o outro levarmos adiante o testemunho do Evangelho de Jesus Cristo. Uma exigência pós-moderna é o respeito às diferenças culturais. Na pós-modernidade não há cultura melhor do que a outra. Tanto em termos de missiologia ou de evangelização urbana, faz-se necessário entender a cultura e testemunhar os valores bíblico-teológicos, como instrumentos de transformação de valores, a partir do Evangelho. O seja, é preciso inculturar-se. Conforme trecho do Pacto de Lausanne:
“O desenvolvimento de estratégias para a evangelização mundial requer metodologia nova e criativa. Com a bênção de Deus, o resultado será o surgimento de igrejas profundamente enraizadas em Cristo e estreitamente relacionadas com a cultura local. A cultura deve sempre ser julgada e provada pelas Escrituras. Porque o homem é criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e em bondade; porque ele experimentou a queda, toda a sua cultura está manchada pelo pecado, e parte dela é demoníaca. O evangelho não pressupõe a superioridade de uma cultura sobre a outra, mas avalia todas elas segundo o seu próprio critério de verdade e justiça, e insiste na aceitação de valores morais absolutos, em todas as culturas. As missões, muitas vezes têm exportado, juntamente com o evangelho, uma cultura estranha, e as igrejas, por vezes, têm ficado submissas aos ditames de uma determinada cultura, em vez de às Escrituras. Os evangelistas de Cristo têm de, humildemente, procurar esvaziar-se de tudo, exceto de sua autenticidade pessoal, a fim de se tornarem servos dos outros, e as igrejas têm de procurar transformar e enriquecer a cultura; tudo para a glória de Deus”.
Conclusão
Uma boa base teológica, quando aliada à piedade cristã, é fundamental para um bom e preciso testemunho a respeito do Evangelho. Que possamos voltar a vivenciar o Sola Scriptura, na tarefa do fazer teológico. Que nosso testemunho seja compatível com o que cremos e pregamos e que saibamos “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3). Que possamos aliar virtude e conhecimento:
“por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento”
2 Pe 1.5
Gostei muito dos textos acima! Interessante, profundo, esclarecedor, habilidoso,bem exposto. A exposição da cultura e a influencia que o Evangelho de Cristo deve ter sobre a cultura, foi muito bem colocado. Parabens!
ResponderExcluirGostei desse comentário, muito profeitoso, rico em conteudo. Parabens!
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