quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Caminhos Para Uma Nova e Saudável Igreja


POR: Robinson Cavalcanti


01. A Igrejavascript:void(0)ja saudável é uma comunidade de convertidos em permanente busca de santificação. Joio, sempre o teremos ao lado do trigo, mas a coisa se complica se o joio for maioria, controlar a instituição, pautar a sua programação e deformar o seu ensino e a sua ética. Temos os descendentes de crentes, que estão por tradição e não por conversão; temos ao que vieram por adesão e não por conversão; temos os que vieram por interesse e não por conversão. A Igreja saudável é centrada na mensagem da cruz, sem nunca se descuidar da mensagem do novo nascimento. O novo nascimento, contudo, não é o fim, mas o começo, que nos leva à pregação da santificação, que não é um conjunto de usos e costumes, mas de um sentimento renovado, temperamento renovado e caráter renovado, à imagem de Cristo, o varão perfeito, pela ação do Espírito Santo, alimentada na comunidade da Palavra e dos Sacramentos. A santidade não deve ser passiva: deixar de fazer coisas más; mas ativa: fazer coisas boas;





02. A Igreja saudável deve saber relacionar Fé e Obras. Não somos salvos pelas obras, para que ninguém se glorie, mas somos salvos para elas, que Deus preparou, de antemão, para que nelas andássemos. A Fé sem obras é morta;



03. A Igreja saudável deve saber relacionar Lei e Graça. A Lei, como espelho da alma, que nos mostra nossa depravação total, nos conduz à Cristo, e Cristo, em nos transformando, nos envia de volta à Lei como alvo ético. Uma Igreja ética é comprometida com os valores do Reino de Deus, presente na Lei, nos Profetas, e nos ensinamentos de Cristo e dos Apóstolos;

04. A Igreja saudável deve ser uma comunidade terapêutica, não só pelas curas maravilhosas que podem ocorrer em seu interior, mas cuja vida comunitária concorre, pela acolhida e pelo amor, para as curas dos males espirituais e morais, que, em uma dimensão psicossomática, se relacionam com os males do corpo. Sendo acolhedora e ética, a Igreja não pode cair nem no relaxamento permissivo, nem no moralismo legalista repressor, fonte de neuroses, de patologias. A espiritualidade não pode ser associada à histeria, nem à contemporaneidade dos dons com surtos psicóticos ou expressões neuróticas;

05. A Igreja saudável deve saber mobilizar o conjunto dos seus fiéis, em seus talentos, dons e vocações para o exercício do sacerdócio universal de todos os crentes, ao mesmo tempo em que reconhece, apoia e respeita os vocacionados em seu sacerdócio especial, em harmonia funcional para o crescimento harmônico do Corpo, sem basismo populista anárquico e sem autoritarismo caudilhesco;

06. A Igreja saudável se relaciona adequadamente com a cultura onde se insere, sem dela se isolar, nem por ela ser absorvida, mas, de forma encarnacional, apoiar os sinais da imagem de Deus e corrigir os sinais do pecado, em uma tensão criadora. Isso implica em uma integração da estética, da arte, e não na iconoclastia;

07. A Igreja saudável se relaciona adequadamente com os poderes desse mundo, o respeitando, quando ministro de Deus, e o confrontando profeticamente, quando ministro do diabo, sem o adesismo dos herodianos e sem o radicalismo dos zelotes;

08. A Igreja saudável fomenta uma Espiritualidade Integral, formada pela Adoração, pela Reflexão e pela Ação, fugindo dos unilateralismos do misticismo, do intelectualismo e do ativismo;

09. A Igreja saudável fomenta uma Missão Integral, formada pela Proclamação, pela Comunhão, pelo Ensino, pelo Profetismo, pelo Compromisso com a Vida e a Integridade da Criação;

10. A Igreja saudável cultiva as suas marcas históricas: a unidade, a santidade, a catolicidade e a apostolicidade, não somente voltando sempre às fontes das Sagradas Escrituras, mas aprendendo com a presença do Espírito Santo, por meio da expressão do consenso dos fiéis. O que temos que aprender com os ramos reformados e não-reformados na Igreja no Ocidente e no Oriente?

11. A Igreja saudável reconhece que vive hoje em pecado, atentando, teórica e praticamente, contra a Oração Sacerdotal, ao fomentar os cismas, que são pecados contra a unidade e ao fomentar as heresias, que são pecados contra a verdade. A unidade não pode se dar à custa da verdade, nem a verdade à custa da unidade. O fracionamento institucional, a promoção de vaidades e o ensino de novidades escandalizam o mundo e adoecem o povo de Deus;

12. Como Igreja Reformada no Brasil, seremos saudáveis quando construirmos a nossa identidade pela afirmação e não pela diferenciação ou confrontação com o diferente, sendo não-romanos e não anti-católicos. E não podemos ser saudavelmente reformados, quando não cultivamos nem as propostas, nem o espírito da Reforma;

13. Seremos uma Igreja nova, quando formos uma Igreja antiga e eterna; seremos uma Igreja saudável quando cultivarmos a capacidade de reconhecimento de pecado e cultivarmos a humildade como marca central na vida de líderes e de liderados.


CONCLUSÃO

Somos todos enfermos. A Igreja já foi vista como um grande hospital, e Jesus como o grande médico. A Igreja, nesse aspecto, nunca é neutra: ou ela é uma comunidade terapêutica ou é uma comunidade patogênica. O doente tem que estar consciente da sua enfermidade e querer ser curado, para buscar os terapeutas e as terapias adequadas. Vivemos um momento patológico. A sua superação é necessária e urgente, e sabemos que ela é possível, pois o Senhor faz novas todas as coisas!

Caminhos Para Uma Nova e Saudável Igreja



POR: Robinson Cavalcanti


01. A Igrejavascript:void(0)ja saudável é uma comunidade de convertidos em permanente busca de santificação. Joio, sempre o teremos ao lado do trigo, mas a coisa se complica se o joio for maioria, controlar a instituição, pautar a sua programação e deformar o seu ensino e a sua ética. Temos os descendentes de crentes, que estão por tradição e não por conversão; temos ao que vieram por adesão e não por conversão; temos os que vieram por interesse e não por conversão. A Igreja saudável é centrada na mensagem da cruz, sem nunca se descuidar da mensagem do novo nascimento. O novo nascimento, contudo, não é o fim, mas o começo, que nos leva à pregação da santificação, que não é um conjunto de usos e costumes, mas de um sentimento renovado, temperamento renovado e caráter renovado, à imagem de Cristo, o varão perfeito, pela ação do Espírito Santo, alimentada na comunidade da Palavra e dos Sacramentos. A santidade não deve ser passiva: deixar de fazer coisas más; mas ativa: fazer coisas boas;





02. A Igreja saudável deve saber relacionar Fé e Obras. Não somos salvos pelas obras, para que ninguém se glorie, mas somos salvos para elas, que Deus preparou, de antemão, para que nelas andássemos. A Fé sem obras é morta;



03. A Igreja saudável deve saber relacionar Lei e Graça. A Lei, como espelho da alma, que nos mostra nossa depravação total, nos conduz à Cristo, e Cristo, em nos transformando, nos envia de volta à Lei como alvo ético. Uma Igreja ética é comprometida com os valores do Reino de Deus, presente na Lei, nos Profetas, e nos ensinamentos de Cristo e dos Apóstolos;

04. A Igreja saudável deve ser uma comunidade terapêutica, não só pelas curas maravilhosas que podem ocorrer em seu interior, mas cuja vida comunitária concorre, pela acolhida e pelo amor, para as curas dos males espirituais e morais, que, em uma dimensão psicossomática, se relacionam com os males do corpo. Sendo acolhedora e ética, a Igreja não pode cair nem no relaxamento permissivo, nem no moralismo legalista repressor, fonte de neuroses, de patologias. A espiritualidade não pode ser associada à histeria, nem à contemporaneidade dos dons com surtos psicóticos ou expressões neuróticas;

05. A Igreja saudável deve saber mobilizar o conjunto dos seus fiéis, em seus talentos, dons e vocações para o exercício do sacerdócio universal de todos os crentes, ao mesmo tempo em que reconhece, apoia e respeita os vocacionados em seu sacerdócio especial, em harmonia funcional para o crescimento harmônico do Corpo, sem basismo populista anárquico e sem autoritarismo caudilhesco;

06. A Igreja saudável se relaciona adequadamente com a cultura onde se insere, sem dela se isolar, nem por ela ser absorvida, mas, de forma encarnacional, apoiar os sinais da imagem de Deus e corrigir os sinais do pecado, em uma tensão criadora. Isso implica em uma integração da estética, da arte, e não na iconoclastia;

07. A Igreja saudável se relaciona adequadamente com os poderes desse mundo, o respeitando, quando ministro de Deus, e o confrontando profeticamente, quando ministro do diabo, sem o adesismo dos herodianos e sem o radicalismo dos zelotes;

08. A Igreja saudável fomenta uma Espiritualidade Integral, formada pela Adoração, pela Reflexão e pela Ação, fugindo dos unilateralismos do misticismo, do intelectualismo e do ativismo;

09. A Igreja saudável fomenta uma Missão Integral, formada pela Proclamação, pela Comunhão, pelo Ensino, pelo Profetismo, pelo Compromisso com a Vida e a Integridade da Criação;

10. A Igreja saudável cultiva as suas marcas históricas: a unidade, a santidade, a catolicidade e a apostolicidade, não somente voltando sempre às fontes das Sagradas Escrituras, mas aprendendo com a presença do Espírito Santo, por meio da expressão do consenso dos fiéis. O que temos que aprender com os ramos reformados e não-reformados na Igreja no Ocidente e no Oriente?

11. A Igreja saudável reconhece que vive hoje em pecado, atentando, teórica e praticamente, contra a Oração Sacerdotal, ao fomentar os cismas, que são pecados contra a unidade e ao fomentar as heresias, que são pecados contra a verdade. A unidade não pode se dar à custa da verdade, nem a verdade à custa da unidade. O fracionamento institucional, a promoção de vaidades e o ensino de novidades escandalizam o mundo e adoecem o povo de Deus;

12. Como Igreja Reformada no Brasil, seremos saudáveis quando construirmos a nossa identidade pela afirmação e não pela diferenciação ou confrontação com o diferente, sendo não-romanos e não anti-católicos. E não podemos ser saudavelmente reformados, quando não cultivamos nem as propostas, nem o espírito da Reforma;

13. Seremos uma Igreja nova, quando formos uma Igreja antiga e eterna; seremos uma Igreja saudável quando cultivarmos a capacidade de reconhecimento de pecado e cultivarmos a humildade como marca central na vida de líderes e de liderados.


CONCLUSÃO

Somos todos enfermos. A Igreja já foi vista como um grande hospital, e Jesus como o grande médico. A Igreja, nesse aspecto, nunca é neutra: ou ela é uma comunidade terapêutica ou é uma comunidade patogênica. O doente tem que estar consciente da sua enfermidade e querer ser curado, para buscar os terapeutas e as terapias adequadas. Vivemos um momento patológico. A sua superação é necessária e urgente, e sabemos que ela é possível, pois o Senhor faz novas todas as coisas!






quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Encontro de Reflexão & Espiritualidade: Nelson Bomilcar


Nelson Bomilcar
Dias 27 e 28 de Agosto de 2010.
Igreja Congregacional em Andorinhas

Programação:
Sexta, Dia 27 de Agosto de 2010 – 19:30 horas
19:30 – Abertura
19:35 – Louvor e Adoração
20:05 - 1ª Palestra: Teologia da adoração no AT. Criados para amar, temer e servir a Deus. Velha Aliança.
20:50 – Coffee Break
21: 05 - 2ª Palestra: Teologia da adoração do NT. Igreja da Nova Aliança. (mordomia, serviço, celebração, testemunho, martírio.
21:50 - Encerramento
Sábado, Dia 28 de Agosto de 2010.
08:00- Café da Manhã
08:45- Louvor e Adoração
09:15 - 3ª Palestra: Espiritualidade na Adoração. Estilo de vida do cristão (vida pessoal, familiar, comunitária).
10:45 horas – Coffee Break
11:00 - 4ª Palestra: Adoração, Arte e cultura. Contextualização, celebração e encarnação (estética, poesia e mente cristã).
12:30 – Almoço
14:30 horas - 5ª Palestra: Música e Adoração na Igreja Brasileira. Desafios contemporâneos da igreja sinalizando o reino.
16:00 – Encerramento
19:00 horas – Culto de Louvor e Adoração: “Celebrando com sons e vida”.
21: 30 horas – Agradecimentos & Despedidas.




Investimento: R$ 55,00 (Com direito a Coffee Break, Café da Manhã e Almoço).

DEPÓSITO EM FAVOR DE: SANDRA SOARES DEMARTINE.

BANCO REAL
AGÊNCIA: 0405
CONTA CORRENTE: 1710411-2
ENVIAR CÓPIA DO COMPROVANTE DE DEPÓSITO PARA:
IGREJA EVANGÉLICA CONGREGACIONAL EM ANDORINHAS
RUA: BOM JARDIM, 820 – ANDORINHAS – MAGÉ – RJ.
TEL.: (21) 2630-1411
Informações: (21) 2630-1834 – Falar Com Maísa – maisaedudu@yahoo.com.br

Rev. Idauro Campos
Coordenador – idaurocampos@ibest.com.br

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

PAREM DE TENTAR SALVAR A IGREJA!


POR: Isaltino Gomes Coelho Filho


Como intelectual, lia eu certa vez uma história de Walt Disney, em que Zezinho, Huguinho e Luisinho, escoteiros mirins, tentavam fazer sua boa ação do dia. Assim, pegaram uma senhora idosa pelo braço e a fizeram atravessar a rua, num trânsito bastante pesado. A senhora ficou furiosa. Não queria atravessar a rua. Conseguira vir do lado para onde os escoteiros a levaram, e eles a fizeram retornar! Ajudantes trapalhões!

A história me voltou à mente ao reler um dos livros que arrumava em minha biblioteca. Um livro com análises sociológicas sobre a igreja, com várias receitas para salvá-la. Alguns dos temas versavam sobre “caminhos alternativos”, “reflexões e propostas”, “uma proposta para o futuro da igreja”, “novos paradigmas para viabilizar a igreja”, etc. Segundo os comentaristas, a igreja está doente, e seus judiciosos conselhos poderiam revitalizá-la. Queriam salvá-la. Lembrei-me quando cheguei ao Seminário do Sul, com 19 para 20 anos, e ouvia os veteranos conversarem sobre o futuro da igreja. O marxismo e o existencialismo avolumavam-se como uma onda. Era a época da teologia da morte de Deus, de Altizer, Hamilton, Adolphs, Van Buren, e a igreja estava para morrer. Um colega, bem incisivo, não dava dez anos para as igrejas fecharem as portas. Naquela época, era sinal de intelectualidade criticar a igreja e vaticinar seu fim. Hoje, além disso, parece ser sinal de espiritualidade. Ah, antes que me esqueça: o colega incisivo não está no ministério. Nem em alguma igreja local.

O final do século 20 e o início do século 21 mostraram a igreja em grande vigor, inclusive em lugares dada como morta. Aliás, a igreja de Cristo tem o estranho hábito de sepultar seus coveiros. Seus “salvadores” se perdem na poeira dos tempos, tornam-se nada, e ela segue sua jornada. Ela não precisa da salvação que afoitos escoteiros mirins lhe apresentam. Ela segue bem sem eles, e eles, na realidade, a atrapalham.

Falta bom senso a tais pessoas. Lembro-me de um jovem que, dizendo-se intelectual, apresentou-me algumas mudanças necessárias na igreja que eu pastoreava, para se tornar membro dela. Se tivéssemos sua visão, que era muito necessária para a igreja se arrumar e sobreviver, ele nos agraciaria sendo membro dela. Acho que ele se via como um presente de Deus à igreja. Como não estávamos tão desesperados assim, catando membros, disse-lhe que conseguiríamos sobreviver sem ele. Aquela igreja vai bem, e o jovem hoje não está em igreja alguma. Salvadores que não usam sua receita (e talvez se dessem mal com ela), mas, pior ainda, rejeitam a receita do Salvador, que tem mantido a igreja viva e vigorosa, em vinte e um séculos.

Esta visão dos escoteiros mirins da igreja parte do pressuposto, equivocado, de que ela é uma instituição meramente sociológica. Aplicando à igreja categorias de pensamentos seculares, eles querem adaptá-la aos novos tempos. Não entendem que a igreja é de origem divina, tem caráter sobrenatural, e que o que a mantém de pé é a presença do Espírito Santo que age nela, corpo de Cristo. E se ela se adaptar a novos tempos, estará sempre mudando sua forma e sua essência. Mudando sua essência, o conteúdo de sua pregação, deixará de ser igreja, embora mantenha o nome. Por exemplo: tendo deixado de ver as pessoas como pecadoras e sim como clientes por lisonjear, a igreja abandonou o conceito de pecado. Quase não se fala nele. Ele é desajuste, pressão social, outra coisa qualquer. Seu enfoque é psicológico, não bíblico. Em muitos aconselhamentos, a Psicologia tomou o lugar da Bíblia. Não é que Deus diz na sua Palavra, mas o que homens pecadores dizem com seus escritos. Uma cultura antropocêntrica colocou o foco do culto no homem: vencer, triunfar sobre as adversidades, enriquecer, ser feliz. Você ouve falar de santidade, do juízo final, sobre a volta de Jesus? Você tem ouvido sermões sobre a cruz? Você ouve falar de salvação pela graça, por meio da fé? Glorificar a Deus passou a ser gritar num culto. Vi isso num programa evangélico na televisão: “Glorifica mais alto, Fulano!”, pedia o animador do culto ao baterista. Glorificar a Deus é espancar a bateria?

Sei que são novos tempos, mas a adaptação da igreja aos tempos cria uma cultura curiosa: o bom culto é o animado, agitado, o barulhento, aquele onde a pessoa aculturada a tempos assim, se sente bem. Nao é mais o que produz reflexão sobre a vida, sobre Deus, sobre a eternidade. Outro dia comentei com Meacir que toda vez que ligo a televisão, não importa o horário, encontro um canal com gente pulando e se remexendo. Ver televisão me cansa! Como tem gente pulando! Reflexo de uma cultura de expressão corporal, de agito, de barulho. Os sentidos são mais importantes que a razão. Isto migrou para a liturgia. A boa liturgia deve ser agitada, e inclusive o sermão deve ser agitado. Mas como há mandamentos neotestamentários exortando ao uso da razão, do pensamento, da análise! O fio de prumo deve ser cultural ou neotestamentário? Devo me preocupar com o conteúdo bíblico ou com a “salvação litúrgica” recomendada por alguém, sem a qual minha igreja morrerá? Fico com a orientação do autor da Bíblia, o Espírito Santo (2Pe 1.21) ou com a dos escoteiros mirins eclesiásticos?

Será que o presenciamos é o que estava na mente de Jesus quando disse “edificarei a minha igreja”? Igreja é um lugar onde passamos momentos de catarse? Igreja é aonde vamos para nos sentirmos bem? Para sobreviver a igreja precisa de toda essa parafernália que está enriquecendo seus vendedores? Esses “salvadores” com suas fórmulas, modelos, estruturas, opções litúrgicas, não estarão se esquecendo do conteúdo da igreja? Que ela não é um ajuntamento social, mas o agrupamento dos salvos, com uma missão? Que sua finalidade não é promover entretenimento para as pessoas, mas anunciar todo o conselho de Deus? Que sua saúde e seu vigor dependem de Deus, do seu poder que opera nela, de sua fixação sobre o Cristo crucificado?

A igreja dispensa salvadores humanos e receitas sociológicas ou empresariais para viver. Ela é sobrenatural. Ela vive e sobrevive por ser o corpo de Cristo na terra. E não apenas a igreja universal ou um tipo de igreja abstrata, idealizada por muitos. A igreja local é corpo de Cristo. A expressão paulina “Ora, vós sois corpo de Cristo, e individualmente seus membros” (1Co 12.27) foi dirigida a uma igreja local, e não a uma comunidade etérea, vaporosa, conceitual, que muitos admiram, mas que não existe. Seu Senhor é aquele que diz de si mesmo: “Eu sou o que vivo; fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre! e tenho as chaves da morte e do inferno”(Ap 1.18). E ela está edificada sobre ele. Domingo passado, ao celebrar a ceia do Senhor com a igreja da qual sou servo, a Batista Central de Macapá, no Amapá, disse-lhe que aquele era o momento mais significativo da liturgia cristã, para mim. Era a certidão de nascimento da igreja. “Este cálice é o novo pacto em meu sangue, que é derramado por vós” (Lc 22.20). Deus fez um novo pacto com os homens, e ele está manifestado na igreja. Somos o povo do novo pacto. Ele foi firmado com o sangue de Cristo. A igreja nunca será extinta nem vencida. Ela nasceu na eternidade, no coração de Deus (Ef 1.4), irrompeu na história pelo ministério do mais fantástico vulto que a humanidade conheceu, Jesus de Nazaré, Deus-Homem, e foi pactuada entre Deus e os homens pelo sangue de Jesus. E, na meta-história, finda a história, e não houver mais nenhuma instituição humana, a igreja estará com o Senhor. A igreja universal é fantástica. A igreja local, expressão máxima da igreja militante, não é menos fantástica. Mesmo com tanto joio no meio do trigo, ela é de Jesus. O trigo vale a pena! É preciso ter cuidado para não trazermos mais joio para o trigal além daquele que o inimigo planta.

A igreja não precisa se adaptar a novos tempos nem de novas técnicas e modelos. Ela precisa viver o evangelho porque o poder é do evangelho (Rm 1.16), e não de formas ou modelos. Por exemplo, Jesus não tinha uma técnica para atrair pessoas. Ele pregava as boas-novas do reino. Corações que querem Deus se abrem para a mensagem de boas-novas. É diferente ter uma membresia atraída pela mensagem de Jesus e ter uma membresia atraída por um programa agradável. Um dia, esta parcela de atraídos por programas descobrirá que o mundo oferece mais, e irá atrás do mundo. Porque o mundo sabe oferecer entretenimento muito melhor que nós. E quem transforma o evangelho em entretenimento dará contas a Deus do que faz. Mas, a membresia que se rendeu ao evangelho de Jesus permanece. A igreja está sendo desfigurada e em alguns momentos ridicularizada por pessoas que a despem de sua grandeza e sua sobrenaturalidade e insistem em métodos e receitas de marqueteiros para energizá-la. A energia da igreja vem do Espírito Santo, da comunhão com ele, do abandono do pecado, do aprofundamento nas Escrituras. Para triunfar, ela precisa apenas ser igreja. Isto é: depender da graça de Deus, ser espiritual, viver na presença dele, obedecer a sua palavra, cultivar bom relacionamento interno, viver ao pé da cruz, enfim. A igreja é espiritual e precisa de soluções espirituais. E estas estão prescritas na Palavra de Deus. A igreja precisa voltar a ser igreja e deixar de ser uma organização religiosa comandada por executivos espirituais e conselhos administrativos empresariais. Precisa ser igreja, nada mais que isso.

Por isso, deixem de tentar salvar a igreja. Cristo já fez isto e lhe outorgou vitória. Sirvam-na. Amem-na. Engajem-se nela. Isto basta, porque é Deus quem a faz crescer. “Eu plantei; Apolo regou; mas Deus deu o crescimento” (1Co 3.6). Por isso, Zezinho, Huguinho e Luisinho: menos afoiteza e mais serviço. Mais testemunho e mais evangelização. Mais investimento do tempo, emoções e bens. Sejam servos, e não salvadores. A igreja precisa de amantes e de servos, não de salvadores. Ela tem um: Ele. Isso basta.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A Importância das Bases Teológicas Para o Cristão do Século XXI

POR: Clayton da Silva Guerreiro

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.”
II Tm 3.16,17


“Aquele que excede em doutrina saiba que seu objetivo é fazer que a Igreja seja verdadeiramente instruída, e que tenha isso como seu propósito máximo, a saber: tornar a Igreja cada vez mais instruída na Palavra da verdade.
João Calvino


Introdução:
Quando o tema “A importância da base teológica para o cristão do século XXI” fora proposto, certamente pensou-se acerca de uma “boa” base teológica. Para tratarmos acerca do tema, iremos propor a seguinte questão: Para que é importante termos uma “boa base teológica”?

I- A convivência na pós-modernidade e o enfrentamento dos seus desafios
Vivemos em um período da história chamado por muitos filósofos de pós-modernidade. Para estes, o pensamento moderno fora superado.



1.1 Divisão da história
• Pré-história- Período que antecede a invenção da escrita (+ ou – 3.500 a.C.)
• Idade Antiga- Desde a escrita cuneiforme (4000 a.C.) até a tomada do Império Romano do Ocidente pelos bárbaros (476 d.C)
• Idade Média (Alta Idade Média e Baixa Idade Média)- Desde a desintegração do Império Romano no séc. V (476 d.C.) até a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos (29/05/1453 .
 Alta idade média (séc. V ao X)
 Baixa idade média (séc. XI ao XV)
• Idade Moderna (Século XVI e XVII) tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos (29/05/1453) até a Revolução Francesa (14/07/1789)
• Idade Contemporânea- Inicia-se com a revolução francesa Francesa(14/07/1789), caracteriza-se pelo advento do iluminismo e ascensão da razão como critério último.

1.2 Características do pensamento moderno
 Visão de mundo referente ao projeto de mundo moderno:

• Descoberta da máquina
• Processo industrial
• Capitalismo
• Antropocentrismo
• Valorização do método científico: relação do sujeito com o objeto
• Racionalidade como critério (racionalismo René Descartes 1596-1650)- busca da certeza por conhecimentos a priori, não da experiência, mas da razão
• Empirismo- John Locke (1632-1704)- O crivo da experiência

1.3 Características da pós-modernidade (modernidade tardia ou era do vazio)

 Características:

• Domínio das mídias eletrônicas
• Celebração do consumo
• Hedonismo (prazer a qualquer custo)
• Narcisismo (individualismo exagerado)
• Questionamento do modelo patriarcal
• Relativismo (ausência de valores absolutos)
• Pluralidade- No âmbito religioso, seguimos o Rev. Idauro Campos em sua leitura do Dr. Heber Campos :

1- Intelectual- Desconstrucionismo / livre exame X livre interpretação
2-Religioso- Falta de pertença identitária (trânsito religioso); O peregrino e o convertido- Daniele Hervieu-Léger
3- Teológico- Teologia da prosperidade, quebra de maldição, louvor profético, gosto por títulos.
4-Ético- Escândalos resultantes do relativismo ético (ausência de valores absolutos).

II- A manutenção da identidade cristã

“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste”
2 Tm 3.14

Uma boa base teológica favorece a manutenção da identidade cristã. Esta identidade pode ser fixada a partir de alguns pilares:

2.1 Doutrinário (aquilo que se crê)

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.”
At 2.42

“edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular
Ef 2.20

As doutrinas bíblicas são substituídas por mensagens de auto-ajuda (Veja- edição 1964 12/07/2006, “O pastor é show”). Os principais temas bíblicos foram esquecidos. Não se fala mais sobre justificação pela fé, santificação, escatologia, etc.

2.2 Pedagógico (aquilo que ensina e prega)


“porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.”
Mt 7.29

“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, é mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.”
Hb 4.12

“Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.”
At 17.11

“Nesse meio tempo, chegou a Éfeso um judeu, natural de Alexandria, chamado Apolo, homem eloqüente e poderoso nas Escrituras”.
At 18.24

“porque, com grande poder, convencia publicamente os judeus, provando, por meio das Escrituras, que o Cristo é Jesus.”
At 18.28
Calvino dizia que o ensino deve ser realizado para glória de Deus. Para ele, a ignorância é a mãe da heresia e a Igreja é a escola da doutrina.
Julio Zabatiero propõe, em Teologia Inovadora, que a teologia se desvencilhe das asas da modernidade, tipicamente cientifista e seja multidisciplinar. Fala de quatro tipos de Teologia :

1- Teologia edificante:

 É feita para as comunidades cristãs. Pode ser feita por literatura, arte, música, conversa, poesia, etc. Exs.: Ricardo Gondim, Eugene Peterson, Philiph Yancey, Carol Gualberto, João Alexandre, Nelson Bomilcar, Jorge Camargo, Sérgio Pimenta, etc.


2--Teologia Testemunhal:

 Voltada para as pessoas, em geral.
 Apresentação do Evangelho (vivência da fé) X proselitismo (propaganda religiosa). Exs.: Rubem Alves, Ed René Kivitz

3- Teologia profética:
 Voltada para a sociedade organizada. Propõe a transformação estrutural.
 Exs.:
• Teologia da Libertação (Protestantes: Richard Shaull, Rubem Alves, Jose Miguez Bonino; Católicos: Gustavo Gutierrez, Leonardo Boff, Clodovis Boff)
• Teologia da Missão Integral: Pacto de Lausanne (1974), John Stott, René Padilla, Valdir Steuernagel

4- Teologia cognitiva:
 Direcionada para o diálogo com outros saberes. Exs.: Alister McGrath, ex-ateu, professor de Teologia Histórica, professor em Oxford. Autor de “O delírio de Dawkins”.
 Alister McGrath “O delírio de Dawkins”
X
Richard Dawkins (fundamentalismo ateísta) “Deus, um delírio”

2.3 Práxis (aquilo que se vive)

“louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.”
At 2.47

“Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos”
Tg 1.22

“Pregue o evangelho, se necessário fale.”
São Francisco de Assis

“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros.”
Jo 13.35

“O mundo pagão diz: veja como eles se amam. Eles se amam a ponto de um dar a vida pelo outro.”
Tertuliano

“Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.”
Ap 1.9

III- A tarefa de testemunhar o evangelho

“mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.” At 1.8

“mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação.” I Pe 2.12

O testemunho do Evangelho ocorre, sobretudo, na prática dele. A tarefa da pregação do Evangelho inclui responder, à luz das Escrituras, aos temas que estão sendo propostos pela sociedade. Ou seja, o que nós temos a dizer sobre:
• Eutanásia/ortotanásia (morte certa)
• Aborto
• Pobreza/fome
• Violência
• União Civil entre homossexuais
• Cuidado com o meio-ambiente
No ambiente pós-moderno precisamos aprender a conviver com o diferente e na convivência com o outro levarmos adiante o testemunho do Evangelho de Jesus Cristo. Uma exigência pós-moderna é o respeito às diferenças culturais. Na pós-modernidade não há cultura melhor do que a outra. Tanto em termos de missiologia ou de evangelização urbana, faz-se necessário entender a cultura e testemunhar os valores bíblico-teológicos, como instrumentos de transformação de valores, a partir do Evangelho. O seja, é preciso inculturar-se. Conforme trecho do Pacto de Lausanne:

“O desenvolvimento de estratégias para a evangelização mundial requer metodologia nova e criativa. Com a bênção de Deus, o resultado será o surgimento de igrejas profundamente enraizadas em Cristo e estreitamente relacionadas com a cultura local. A cultura deve sempre ser julgada e provada pelas Escrituras. Porque o homem é criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e em bondade; porque ele experimentou a queda, toda a sua cultura está manchada pelo pecado, e parte dela é demoníaca. O evangelho não pressupõe a superioridade de uma cultura sobre a outra, mas avalia todas elas segundo o seu próprio critério de verdade e justiça, e insiste na aceitação de valores morais absolutos, em todas as culturas. As missões, muitas vezes têm exportado, juntamente com o evangelho, uma cultura estranha, e as igrejas, por vezes, têm ficado submissas aos ditames de uma determinada cultura, em vez de às Escrituras. Os evangelistas de Cristo têm de, humildemente, procurar esvaziar-se de tudo, exceto de sua autenticidade pessoal, a fim de se tornarem servos dos outros, e as igrejas têm de procurar transformar e enriquecer a cultura; tudo para a glória de Deus”.







Conclusão

Uma boa base teológica, quando aliada à piedade cristã, é fundamental para um bom e preciso testemunho a respeito do Evangelho. Que possamos voltar a vivenciar o Sola Scriptura, na tarefa do fazer teológico. Que nosso testemunho seja compatível com o que cremos e pregamos e que saibamos “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3). Que possamos aliar virtude e conhecimento:

“por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento”
2 Pe 1.5