segunda-feira, 19 de julho de 2010

E DEUS AMOU A CAIM?!

POR: CAIO FÁBIO D'Araújo Filho


A Queda já era um fato. Seus efeitos cresciam no interior e no exterior.



Dentro havia solidão, medo, angustia, culpa...



Fora havia crescente dificuldade de comunicação instintual, diminuição dos sentidos e percepções, e sinais de desconexão com a natureza e sua criaturas...



O “apesar de tudo” se impôs e a vida continuou...



Chegara a hora da manifestação do maior caminho de adaptação e ajuste que o Universo jamais conhecera: o da sobrevivência do homem dentro do âmbito de sua própria consciência.



Iniciava-se o caminho da consciência...a vereda da sua formação...que aconteceria na contradição, na culpa, no perdão; por justiça, e por injustiça; no amor e no ódio...



Era a História...



Então, Adão fez amor com Eva, sua mulher; ela engravidou e teve um filho chamado Caim, acerca de quem ela disse: Alcancei do Senhor um varão!



Tornou a dar à luz a um filho, a quem se deu o nome de Abel.



Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra.



Houve um tempo em que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor.



Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura uma oferta a Deus.



Ora, o Senhor se agradou de Abel e de sua oferta; mas de Caim e de sua oferta não se agradou Deus.



Por esta razão irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante...e andava amargo.



Então o Senhor perguntou a Caim:



Por que te iraste? e por que está descaído o teu semblante? Porventura se procederes bem, não se há de levantar o teu semblante? e se não procederes bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti virá o seu desejo; mas a ti cumpre dominá-lo.



Falou Caim com o seu irmão Abel, e lhe disse:



Vamos ao campo...



E, estando eles no campo, Caim se levantou contra o seu irmão Abel, e o matou.



Perguntou, pois, o Senhor a Caim:



Onde está Abel, teu irmão?



Respondeu ele:



Não sei; sou eu o guarda do meu irmão?



E disse Deus:



Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão está clamando a mim desde a terra. Agora maldito és tu desde a terra, que abriu a sua boca para da tua mão receber o sangue de teu irmão. Quando lavrares a terra, não te dará mais a sua força; fugitivo e vagabundo serás na terra.



Então disse Caim ao Senhor:



É maior a minha punição do que a que eu possa suportar. Eis que hoje me lanças da face da terra; também da tua presença ficarei escondido; serei fugitivo e vagabundo na terra; e qualquer que me encontrar matar-me-á.



O Senhor, porém, lhe disse:



Portanto quem matar a Caim, sete vezes sobre ele cairá a vingança. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que não o ferisse quem quer que o encontrasse.



Então saiu Caim da presença do Senhor, e habitou na terra de Node, ao oriente do Éden.





Há muito para se dizer sobre a narrativa acima. Mas hoje quero pensar apenas no amor de Deus por Caim.



Há figuras na Bíblia que nos parecem que existiram apenas para carregar maldições.



Caim é a primeira figura humana a tornar-se uma simbolização maligna.



Sem dúvida, no resto da Bíblia, Caim cresce como figura arquetipica da desfraternalização dos humanos.



Caim é o primeiro homem que não consegue lidar com a Graça.



O amor de Deus que afirmava a genuinidade do coração de Abel, não provocou nele nenhum tipo de auto-percepção, mas apenas de projeção irada contra Deus, e objetivamente transferida de modo odioso contra o único que poderia receber seu ódio: o irmão.



Na verdade Caim é o Judas da antiguidade. Ambos são simbolizações históricas daquilo que é mal, mas não significa que o “entendimento” que houve entre Deus e eles os tenha deixado para sempre tão cristalizados em suas próprias almas, quanto cristalizados ficaram nas simbolizações que passaram a encarnar ante os sentidos históricos dos humanos.



O que temos que compreender é que os “filhos da perdição”—como Caim e Judas—existem muito mais como uma manifestação de pedagogia histórica para nós, humanos, do que como uma fixação definitiva dessas figuras em estados eternos de perdição—como se fossem mariposas do inferno, espetadas pela agulha eterna de Deus na mais nojenta parede do inferno...empalhadas em agonias infindas...como no orgasmo amargurado de certos prega-dores...amantes do fogo do inferno.



...e se esses indivíduos, à semelhança do ladrão salvo na Cruz—sobre quem a Graça se derramou, mas nós jamais creríamos se o Evangelho não tivesse nos dito que ele está com Jesus “no Paraíso”—também tiveram sua “conversa privada” com Deus...tendo-nos sobrado apenas as suas imagens como simbolizações do mal?



Como a história é sobretudo um fenômeno de comunicação, e se serve de simbolizações para se fazer ilustrar...pessoas, cidades, nações, e geografias...ficaram marcadas na Bíblia como sendo “malignas”, sendo que as coisas e pessoas...em si...não têm que ter tido o mesmo destino maligno que sua figura histórica passou a dar face.



Um dia nós entenderemos isto com muita clareza, todos nós, e nos envergonharemos de nossas pseudo-certezas, e juízos perenes.



Na realidade o Caim que entrou para a história pelo ato de perversidade cometido contra o seu irmão, Abel, não ficou de todo destituído dos cuidados divinos.



Pois a ele disse Deus:



Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão está clamando a mim desde a terra. Agora maldito és tu desde a terra, que abriu a sua boca para da tua mão receber o sangue de teu irmão. Quando lavrares a terra, não te dará mais a sua força; fugitivo e vagabundo serás na terra.



Ante a certeza de ser amaldiçoado, Caim entrou no mais profundo de todos os medos e terrores...ele sabia que sobre ele haveria “um clamor humano” por vingança. Então se declarou amaldiçoado e perdido...confessou-se um zumbi...um andarilho prestes a morrer...dando sempre passos para alguma emboscada...enquanto andava para o nada.



Então disse Caim ao Senhor:



É maior a minha punição do que a que eu possa suportar. Eis que hoje me lanças da face da terra; também da tua presença ficarei escondido; serei fugitivo e vagabundo na terra; e qualquer que me encontrar matar-me-á.



O Senhor, porém, lhe disse, porém alardeando Sua Palavra para todos, pois é assim que Sua voz se faz ouvir:



Portanto quem matar a Caim, sete vezes sobre ele cairá a vingança. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que não o ferisse quem quer que o encontrasse.



Que coisa linda!



Houve misericórdia e graça até para Caim.



Quem o matasse seria sete vezes vingado...e Deus pos uma marca de proteção...um selo divino...um aviso para que ninguém se metesse entre Ele e Caim.



Ora, se houve Graça que protegesse a Caim, não haverá muito maior Graça sobre a sua vida, que está sob o Sangue da Aliança, e que descansa na justiça do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo?



Caim carregou as conseqüências históricas de seus atos, e emprestou seu nome a uma trágica simbolização. Mas não esqueçamos: isto é o que ficou para nós...para o nosso ensino...e para nos fazer ver as conseqüências de todos os atos humanos...



Todavia, ninguém sabe o que houve entre Caim e Aquele que disse que nele ninguém deveria tocar.



Os desfechos de todas as histórias humanas é um segredo divino. E sábio é todo aquele que não ousar dizer o que aconteceu.

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