O Relacionamento
Sexual Saudável
Uma Exposição
Bíblica de Gênesis 2.24.
Uma Palavra aos Adolescentes e Jovens Solteiros.
Por: Idauro Campos *
Maio é considerado o mês da Família. Muitas igrejas cristãs promovem
reflexões, encontros, congressos e afins com o objetivo de auxiliar os cristãos
a construírem relacionamentos familiares sólidos, à luz da Palavra de Deus.
Muitos são os temas pertinentes à família que podem e devem ser levados aos
púlpitos das igrejas em tais ocasiões. Um destes, sem dúvida, é a sexualidade.
Contudo, percebo uma falha: geralmente a reflexão visa instruir os casais
casados quanto às bênçãos e a finalidade do sexo no contexto conjugal. Nada ou
pouco é dito aos jovens solteiros, namorados e aos noivos quanto ao tema.
Quando se diz algo, é apenas quanto à advertência de que esperem pelo casamento
para desfrutarem do sexo, sem embasar solidamente, à Luz das Escrituras Sagradas,
a orientação da castidade pré-matrimonial. O resultado disso é que os jovens
cristãos, pelo menos os que procuraram a agradar a Deus, decidem esperar pelo
grande dia da “lua de mel”, mas não sabem bem a razão. Aprenderam que sexo
antes do casamento é pecado, mas não sabem o porquê e, muito menos, argumentar
biblicamente de tal forma quando inqueridos pelos amigos, colegas de trabalho
ou do colégio/ universidade. Não são poucas as moças cristãs que até se
envergonham da própria virgindade e se constrangem até mesmo nas consultas
ginecológicas. Em meu ministério já me deparei com jovens cristãs dizendo que
não se relacionavam sexualmente com seus namorados e noivos mais por respeito
ou medo dos pais do que por uma consciência de que a prática é errada diante de
Deus. Muitas não estavam convencidas de que houvesse algum problema.
Consideravam mais uma tradição da igreja. Um hábito conservador que não faz mais
sentido diante dos novos tempos. Por outro lado, como pastores, presbíteros,
mestres da Palavra, professores de Escola Dominical e, principalmente, pais,
ajudamos pouco quando não apresentamos uma razoável fundamentação bíblica e
teológica quanto à questão e, principalmente, quando citamos textos bíblicos,
com intuitos proibitivos, mas que, na verdade, não tratam ou, ao menos, não
tocam o problema da sexualidade pré-matrimonial dos jovens namorados/ noivos.
Os conhecidos
textos da primeira carta do apóstolo Paulo aos coríntios, nos capítulos 6 e 7,
quando mencionam o problema da sexualidade o fazem levando em conta a
promiscuidade típica e tão praticada na cidade portuária de Corinto. Sabe-se
hoje, que os cristãos da polêmica cidade lidavam com a prostituição quase que
diariamente, pois a mesma era, à época, um famoso reduto de perversões sexuais,
onde, até mesmo, um verbo jocoso fora criado: ‘corintianizar’, que significava “ocupar-se
de algum excesso ou aberração sexual”[1]. Isto devia ao fato de que Corinto era uma cidade cosmopolitana e, como
tal, populosa (talvez com mais de seiscentos mil habitantes). Sendo uma zona
portuária, com intenso comércio e fluxo permanente de turistas, a prática da
prostituição se desenvolveu enormemente. E, além disso, mais gravemente, foi o
fato de que na cidade, promovia-se a prática de rituais religiosos com prostitutas
cultuais no templo construído e dedicado a Afrodite[2]. A preocupação paulina com o tema da prostituição em uma carta direcionada
aos cristãos indica - nos que muitos entre os mesmos ainda estavam com
dificuldades de superar a carnalidade viciante com que foram acostumados
durante toda a vida antes da conversão a Jesus Cristo. Paulo, então, expõe suas
orientações mencionando o famoso caso de incesto (5.1-2), aconselhando os
cristãos a tomarem as devidas providências disciplinares (5. 3-13). Destarte, o
apóstolo, ampliando suas conclusões, orienta quanto à pureza do corpo, a fuga
da prostituição e os valores do matrimônio (6. 12-7.39). Contudo, permanece a
questão: tais textos podem ser usados conclusivamente como proibitivos à relação
sexual de namorados e noivos? Não estaria Paulo mais preocupado em tratar
da prostituição desenfreada dos cristãos que viviam em Corinto? É justo chamar
de prostituição um relacionamento entre jovens cristãos que se amam e desejam
se casar, mas que, por alguma razão, não podem e decidem antecipar a
experiência sexual? Chamar de prostituição o sexo antes do casamento não seria
mais uma inferência lógica do que uma conclusão solidamente bíblica e
teológica? Estas são indagações que muitos jovens sinceros e que amam
ao Senhor fazem e parece que não estamos respondendo adequadamente.
Estou convencido de que a fundamentação bíblica sólida para nossos
jovens não transarem antes de seus casamentos não está na carta de Paulo aos
Coríntios. Embora, possamos usá-la na ampliação de nossa construção teológica
sobre a santidade do corpo que é templo do Espírito Santo (1 Co 6.19-20).
Creio que o fundamento lançado por Deus para a questão encontra-se em
Gênesis 2.24. Leiamos e vejamos as conclusões que poderemos chegar:
“Por
isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tonando-se os dois uma só
carne”.
Lamentavelmente usamos este texto apenas e na maioria das vezes, diante
dos noivos na cerimônia de casamento. Sem percebermos que nossos adolescentes e
jovens e até mesmo os adultos que estejam solteiros, namorando ou noivos podem
aprender com o mesmo.
Na passagem lemos
que a mulher acabara de ser criada por Deus (2.18-23) para ser correspondente
ao homem. Uma vez criados, à imagem e semelhança de Deus, Adão e Eva, como
patriarcas da humanidade e ele, especialmente, o “cabeça
federal” da raça humana, reconhecem o princípio e matriz permanente do núcleo
social fundamental. Que núcleo é esse? Trata-se da família (Pai, mãe e filho
e/ou filha). E qual o princípio e matriz permanente para a constituição deste
núcleo? O filho “deixa pai e mãe” e “se
une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. Ou seja, desde o
início da história da humanidade, a união de um homem com uma mulher, obedece a
certa ordem sequencial. Primeiro, se deixa os pais e, somente depois, então,
homem e mulher se unem, tornando-se, através da experiência sexual, “uma
só carne”. Portanto, há na passagem uma âncora teológica que firma
permanentemente as relações entre os gêneros masculino e feminino.
O que podemos aprender sobre sexualidade com a passagem?
1 – O sexo é para quem está
emancipado dos pais –
Muitos adolescentes e jovens cristãos querem iniciar a vida sexual, mas
ao tempo em que continuam morando na casa dos pais, sendo sustentados por eles.
De acordo com a Escritura Sagrada, para se desfrutar da sexualidade (o se
tornar uma só carne), é necessário que se “deixe pai e mãe”. Percebamos que
este é o primeiro princípio extraído do verso 24. Adolescentes e jovens dependentes
de seus pais, não estão autorizados por Deus para a experiência sexual. É
necessária, pois, a emancipação, ou seja, a capacidade de deixar seus
pais em direção a uma vida adulta e de responsabilidades. Tal emancipação se dá
em quatro níveis pelo menos:
a) Emancipação
Cronológica – É obvio que para se
emancipar dos pais o indivíduo deve ter uma idade cronológica mínima. Implica
disso diretamente que sem tal condição ninguém poderá iniciar sua vida sexual.
Como a sexualidade saudável sempre estará na Bíblia vinculada à conjugalidade,
expressa por sua vez no casamento, é mister o alcance de uma idade cronológica
mínima, onde as partes poderão ser consideradas minimamente capazes e
responsáveis perante às leis e demais convenções sociais.
b) Emancipação
Psicológica – Há muitos jovens que
até possuem idade cronológica para deixar os pais. Afinal, já atingiram a
maioridade ou, ao menos, a idade mínima. Contudo, permanecem infantilizados e
dependentes psicologicamente da presença e proteção paternas, não estando aptos
para as plenas responsabilidades que a vida adulta exige e, muito menos, para a
sexualidade responsável, implicada e comprometida.
c) Emancipação
Econômica – Sexualidade no contexto
bíblico requer capacidade econômica para administrar a vida de casado, pois
como é somente em tal estado civil que o sexo é aconselhado, a independência
financeira se torna elemento fundamental. É extremamente importante
consideramos que na ordem sequencial da criação, a atividade laboriosa e empreendedora
aparece antes da constituição familiar. Deus, antes de criar a mulher,
concedendo-a como companheira do homem, ordenou a este que trabalhasse,
cultivando e guardando o jardim no Éden (Gn 2.15). Além disso, o homem dispende
também energia criativa na nomeação dos animais (2. 19-20). Trabalho, portanto,
que traz emancipação financeira é expediente absolutamente necessário ao
casamento, contexto único do sexo aprovado por Deus. Jovens praticantes da
experiência sexual, mas que são dependentes financeiramente de seus pais e
incapazes de assumir as rédeas de um casamento ofendem a Deus.
d) Emancipação
Geográfica – Deixar pai e mãe para
viver a sexualidade com o conjugue implica em sair definitivamente da casa dos mesmos,
tendo o seu próprio lar, constituindo sua própria família.
2 – O sexo é para
quem possui o vínculo da conjugalidade:
Este é o segundo
grande princípio deste verso. Perceba que o verso 24 diz que o homem se
unirá à sua mulher. Sexo, portanto,
deve ser praticado por quem desfruta de tal vinculação. Casais de namorados ou
noivos (assim como àqueles que não estão comprometidos com ninguém) não devem
enquanto tais, uma vez que ainda não são pertencentes um ao outro;
não foram reconhecidos / declarados com “marido e mulher”. O namorado / noivo
ainda não pertence à moça e vice-versa. É uma relação ainda em construção. Não
sabendo ainda se chegarão, de fato, ao casamento. Um não pode ainda chamar o
outro de seu, como se houvesse uma relação definitiva e, logo, permanente.
Namoro e noivado não são estágios conclusivos de uma relação, mas sim
intermediários. E o sexo está reservado para o estágio de maior entrega e
intimidade de um casal que acontece somente no contexto do casamento.
3 – O Sexo é para o
desfrute da experiência heteroafetiva:
O Texto é claro:
“deixa o HOMEM pai e mãe e
se une à sua MULHER e serão os
dois uma só carne”. Casamento, família e sexualidade são expressões e
desdobramentos da união entre um homem e uma mulher. É o padrão
estabelecido por Deus para toda a humanidade, sendo ordem natural da criação.
4- O Sexo
Matrimonial não possui nenhuma relação com o pecado:
O sexo conjugal é
indicado no capítulo dois do livro de Gênesis e, logo, antes do evento da queda
no Éden (que ocorre na sequência narrada do capítulo três). Portanto, não há
nenhuma relação do sexo com o pecado que entra no mundo, através da tentação
sugerida pela serpente à Eva e, em seguida, a Adão. É caricata e anti-bíblica a
imagem construída na Idade Média em que se associa a tentação no Éden com os
desejos sexuais. Na verdade, a tentação foi outra: “... e
sereis, como Deus, conhecedores do bem e do mal” (3.5). Nada haver
com o sexo, portanto. A compreensão deste ponto é por demais importante,
porquanto não poucos casais cristãos sofrem com
culpa relacionada ao sexo, mesmo o marital. Muitos se perguntam com que
frequência devem praticar sexo ou em quais ocasiões deve ser restrito. Há
casos, inclusive, de casais cristãos que se recusam a fazer sexo na semana (ou
dia) da eucaristia (celebração da Santa Ceia). Para tais, a prática ainda é
alvo de suspeição e dúvidas. Há outros perdem a atração pelo conjugue quando
nascem os filhos, pois tudo o que veem à frente é “a mãe ou o pai das crianças”
e não mais a pessoa desejada, atraente e apaixonante que um dia a levou para o
altar. Em tais casos, as noites tórridas experimentadas dentro das quatro
paredes com a pessoa amada, tornaram-se tão somente e apenas lembranças. Tudo
isso torna importante aos pastores, presbíteros, professores de ED e demais
conselheiros familiares auxiliarem os que sofrem com tais crises de
consciência. A igreja pode, em muito, ajudar nesta área.
Um legítimo casal pode se entregar à beleza, à criatividade e ao prazer
proporcionado pelo sexo. Sem culpa, com liberdade e alegria, pois é dádiva de
Deus para o nosso deleite e não apenas para procriação. A celebração festiva do
amor conjugal é narrada pelas Escrituras Sagradas de forma clara e inequívoca
no livro de Cantares de Salomão. Sexo, assim, no contexto do amor e compromisso
conjugais, é bíblico, santo, espiritual, prazeroso e, assim como muitas outras
coisas criadas por Deus, muito bom!
Soli Deo Gloria!!!
* Idauro Campos é pastor congregacional e mestre em Ciências da Religião.
[1]CHAMPLIN, Russel Normal. O Novo
Testamento Interpretado Versículo Por Versículo. Vol. 3: São Paulo: Editora
Hagnus, 2002.p.386.
[2] No paganismo grego é a deusa do
amor, da beleza e da sexualidade.
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