Esporadicamente recebo mensagens por e-mail de leitores do Frank Viola.
Seu polêmico livro, Cristianismo Pagão, já pode ser considerado como uma
bíblia dos desigrejados, pois na obra, Viola questiona uma série de
práticas que, segundo ele, pouco ou nada tem haver com o cristianismo
legítimo.
O argumento principal do autor é que o cristianismo
foi influenciado pelo paganismo grego e que este entrou pelas portas da
igreja através dos teólogos gentílicos que em face de suas tradições
helenistas, incorporaram na liturgia cristã aspectos dos cultos pagãos
gregos. Desta forma, elementos como o sermão, o clero, o púlpito, as
vestes clericais, os corais, tudo, enfim, fora influenciado pelo
helenismo e, portanto, é de fundo pagão e, consequentemente, inadequado
para a Igreja de Cristo.
Há dois anos li Cristianismo Pagão. É
difícil você ficar indiferente à leitura. Viola escreve em estilo
provocativo. O livro é agradável de ler. O fiz em uma única assentada!
Há falhas na argumentação principal de Frank Viola. Ele faz um esforço
enorme para mostrar como a Igreja de Cristo distanciou-se dos princípios
bíblicos por causa do paganismo com o qual os Pais da Igreja eram
envolvidos antes de suas conversões e que continuou os influenciando de
alguma maneira, mesmo após confessarem Jesus Cristo.
Para
Frank Viola o problema estava com os teólogos da Igreja de origem
gentílica, marcados profundamente pelo helenismo que caracterizou o
mundo nos tempos de Cristo. Eles são os responsáveis pela absorção por
parte da igreja dos conteúdos do paganismo do mundo gentílico. Este é o
argumento de Viola.
Destarte, há, como disse acima, falhas na abordagem do polêmico escritor, vejamos:
1 – Os teólogos gentílicos que tanto mal fizeram a Igreja de Cristo (de acordo com Viola), são os mesmos que no de 392
d.C, na cidade de Cartago (Atual Tunísia, Norte da África), declararam a
oficialização do Cânon das Escrituras do Novo Testamento. Seria, então,
o Cânon do Novo Testamento um produto da mente de pagãos helênicos?
O próprio Novo Testamento foi escrito na língua grega. Ao usar tal
idioma, os autores sagrados estariam absorvendo ou se rendendo a uma
cultura pagã?
2-
Os Concílios (Nicéia, Constantinopla, Éfeso e Calcedônia), onde as
principais formulações teológicas do cristianismo foram compreendidas e
explicadas, também são, estranhamente omitidas na magnum opos de Viola.
Será mesmo que púlpitos e vestes clericais têm maior poder de
contaminação do que o Cânon e as doutrinas (como a divindade de Cristo,
por exemplo)?
Por que será que Frank Viola é silencioso quanto
estas expressões da Cristandade? Por que não chama, como conseqüência
lógica de sua argumentação, de pagão todo o conteúdo do Novo Testamento
e, semelhantemente, todas as doutrinas elaboras nos primeiros e mais
importantes concílios eclesiásticos?
Seria medo de se expor e
cair em desgraça junto aos cristãos, justamente agora que está vendendo
milhares de exemplares nos Estados Unidos e outros países, como o
Brasil? Fraude?
Ou será que não percebeu que sua argumentação levaria para tal porto? Inconsistência?
Frank Viola também, no capítulo em que se dedica a questão dos templos
(assunto excitante para os desigrejados), não leva em conta que a não
utilização de templos no século I não ocorre em função de uma
perspectiva teológica, mas sim de um horizonte histórico, pois o
cristianismo, desde muito cedo fora perseguido, onde os cristãos tinham
as suas casas invadidas e eram presos (At 8.3). Ora, se as reuniões
domésticas eram alvos de ataques, imagine, então, se templos fossem
construídos? Se a casa não era respeitada, como construir templos? E
estamos falando de uma perseguição religiosa empreendida pelos líderes
judaicos! Imagine a perseguição promovida pelo Império Romano nos tempos
de Nero, Domiciano, Décio e outros? Quando a perseguição termina, as
condições ideais para reuniões públicas com horário e local marcados
surgem.
Os templos são circunstanciais para o cristianismo,
mas para Frank Viola é uma fonte mais que segura de contaminação
espiritual. Patético e ridículo, pois paredes e bancos não exercem tal
poder e influencia sobre ninguém. Nem para o bem e nem para o mal.
Frank Viola idolatra a igreja do Novo Testamento e ignora que as cartas
paulinas foram escritas para resolver os problemas das mesmas. Paulo
combate todas as formas de carnalidade da Igreja de Corinto; heresia na
igreja de Colossos; legalismos na Galácia; agitação e oportunismo em
Tessalônica; divisão e heresia em Éfeso. Ou seja, as igrejas caseiras do
Novo Testamento, incipientes e pequenas, eram comunidades complicadas e
que exigiram de Paulo atenção e admoestação. A própria Igreja Primitiva
tinha problemas e tensões entre seus freqüentadores e também entre os
seus próprios líderes como deixam claro as passagens bíblicas de At 5 e 6
e 15.36-40 e Gl 2. 11-14, respectivamente. E as Igrejas citadas em Ap 2.1-32, não ficam de fora das crises.
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